Cerca de 20% da população de Campinas e de Curitiba vem sendo monitorada em uma campanha para identificar precocemente a falta de oxigênio que a infecção pelo novo coronavírus muitas vezes provoca, levando os doentes a precisarem de tratamento intensivo ou à morte.
Várias outras cidades, como Porto Alegre e Sorocaba, também se preparam para adotar o programa, assim como todo o Paraná, que servirá de piloto para espalhar a campanha a outros estados.
Promovido pelo Instituto Estáter e pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o Projeto Alert(ar) pretende disseminar a oximetria proativa nessa fase da epidemia, sobretudo entre os idosos.
A campanha surgiu da constatação de que as chances de recuperação são muito maiores quando os doentes são tratados antes de terem os pulmões severamente comprometidos pela Covid-19 -daí a necessidade de medir frequentemente, com oxímetros, a taxa de oxigênio no sangue.
Apesar de não sentirem dificuldade para respirar, muitos infectados apresentam queda perigosa no nível de oxigenação. No jargão médico, a chamada hipóxia silenciosa pode tornar irreversível, e em pouco tempo, o quadro pulmonar.
Em Campinas, no interior de São Paulo, toda a região de Ouro Verde, com cerca de 230 mil habitantes, foi incluída no programa, com o engajamento dos agentes comunitários do município e a disponibilização de centenas de novos oxímetros.
Segundo o secretário de Saúde de Campinas, Cármino Antonio de Souza, a partir da verificação dos resultados da iniciativa, a ideia será ampliar seu alcance para todo o município.
Ao todo, o Projeto Alert(ar) pretende distribuir pelo país cerca de 105 mil aparelhos de medição de oxigênio doados pelo banco Itaú.
Outras empresas como Boticário, Embraer, Klabin, Gol, Grupo Ultra e o banco Voiter apoiam a iniciativa.
Além das parcerias com secretarias de saúde municipais e estaduais, a campanha tem o engajamento da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), que representa médicos que atuam em 47.700 equipes de atenção básica no Brasil.
De acordo com Marco Tulio Ribeiro, vice-presidente da SBMFC, o objetivo é dar capilaridade à distribuição dos oxímetros e estimular outros médicos voltados à atenção básica das redes municipais e estaduais a usar os aparelhos.
Segundo Percio de Souza, presidente do Instituto Estáter, outra frente do projeto será a parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) para enraizar a campanha pelos estados.
"Há indícios de que a hipóxia silenciosa seja responsável por grande parte da mortalidade. A campanha visa apoiar os municípios a implementar a oximetria proativa nos idosos das comunidades vulneráveis", diz Souza.
O Paraná vem sendo o primeiro a adotar a oximetria proativa em grande escala e na elaboração, com a Sociedade Brasileira de Infectologia, de um protocolo para o monitoramento e encaminhamento de pacientes.
O diretor-geral da Secretaria de Saúde do Paraná, Nestor Werner Junior, afirma que a ideia é disseminar o protocolo e o uso dos oxímetros pelos municípios.
Dados monitorados pelo projeto revelam que cerca de 40% dos doentes vitimados pela Covid-19 morrem em casa ou nas primeiras 24 horas de internação -e que outros 40% chegam direto às UTIs, sem que tenham passado por outro tipo de atendimento.
Já entre os pacientes atendidos em enfermarias (com oxigênio, corticoides e anticoagulantes), apenas 20% acabam precisando de UTI. Na maioria das vezes, não necessitam de ventilação mecânica; só de oxigênio de alto fluxo -e ficam internados por um tempo menor.
Geralmente, a falta de oxigenação no sangue começa por volta do sétimo dia. Daí a necessidade de monitorar casos suspeitos com os oxímetros e encaminhá-los a unidades de saúde sempre que a taxa de oxigenação cair abaixo de 95%.
"Além de salvar vidas, a iniciativa pode diminuir o impacto nas UTIs, uma vez que muitos dos pacientes tratados precocemente podem se recuperar nas enfermarias", diz Souza, do Instituto Estáter.
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