Pacientes de pequenos municípios mineiros, como Ibiraci e Claraval, já costumam procurar, de forma rotineira, a rede de saúde de Franca (SP), mas a perspectiva de que pessoas de outros estados possam se vacinar contra a Covid-19 em São Paulo fez com que a cidade paulista projetasse uma invasão em massa em busca do imunizante contra a doença.
Com população de 355 mil habitantes, Franca estima que a cidade poderá receber, numa eventual corrida pela vacina, até o dobro de pessoas, incluindo tanto moradores dos mais de 20 municípios subordinados à regional de saúde baseada na cidade como habitantes de cidades mineiras.
O temor se repete em outras cidades paulistas localizadas em divisas com Minas e Mato Grosso do Sul, que afirmam não ter estrutura para absorver a demanda extra, ainda incalculável.
"A invasão que temos do estado de Minas para atendimento da saúde em Franca já é muito grande, então isso tem de ser levado em consideração em qualquer conversa sobre o assunto com o governo de São Paulo. Se já acontece com frequência, imagine se tiver vacina à disposição", disse o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Vergara.
Questionado nesta semana sobre a possível corrida de pessoas de outros estados em busca da vacina, o governador João Doria (PSDB) disse que todos os que estiverem em São Paulo serão vacinados, sem exigência de comprovação de residência.
"Não vamos segregar as pessoas. Vamos vaciná-las", disse o governador, que ainda citou a possibilidade de comprar mais doses, se necessário.
Pacientes das mineiras São Tomás de Aquino, Capetinga e Cássia também são atendidos com frequência em Franca. Por isso, o secretário disse que, se forem enviadas doses da vacina Coronavac somente para a população da cidade, haverá problemas.
"Não vai dar para todo mundo. Já foi assim com os testes rápidos, quando recebemos dos governos federal e estadual e precisamos comprar. Acredito que vamos ter de investir em insumos para aplicar essa vacina, não resta a menor dúvida."
Também na divisa com Minas, Colômbia disse que aguarda notas técnicas do governo paulista sobre os procedimentos a serem adotados, mas já espera a chegada de moradores de cidades como Planura e Frutal.
"Virão em cima com certeza, ainda mais se divulgar que é liberado", disse Adileu Storti, secretário da Saúde da cidade.
Segundo ele, que disse que o sistema de saúde é preparado para atender apenas a população local, ainda não se sabe a temperatura de armazenamento das doses da vacina nem como será a sua distribuição.
"A gente não sabe nada, aguardamos nota técnica para ver essa possibilidade, se vai abrir mesmo, como vai ficar, se vai financiar alguma coisa de recursos humanos, porque, se tiver de envolver outros estados, vai envolver recursos humanos."
Sede da regional de saúde, a cidade de Barretos, que fica a 46 km da divisa com Minas, também aguarda uma procura pela Coronavac por pacientes do estado vizinho, já que a cidade é destino médico natural para elas no dia a dia.
A mesma preocupação existe em Rifaina, que faz divisa com a mineira Sacramento. Com 3.600 habitantes, a prefeitura afirma não ter estrutura para suportar uma eventual demanda excessiva.
"Não temos condições, não há estrutura para isso. E tem outro detalhe que é saber se o estado vai enviar todo o material ou só as doses", disse Alcides Diniz, secretário de Governo.
A represa Jaguara, que divide Rifaina e Sacramento, tem 600 ranchos às suas margens, que ficam lotados aos finais de semana. Só em Rifaina há 1.200 lanchas, barcos e motos aquáticas abrigadas em mais de 20 marinas.
Apesar de ser o motor da economia local, o turismo está paralisado desde março devido à pandemia.
A praia artificial está interditada e o tradicional Réveillon também foi cancelado, assim como a queima de fogos e shows. Tudo para evitar uma demanda extra no sistema de saúde, que poderá ocorrer no caso da vacinação liberada.
Em Fernandópolis, a 80 quilômetros de Minas Gerais e de Mato Grosso do Sul, a prefeitura tem dúvidas sobre se o estoque de insumos será suficiente para atender a demanda. "Não sei se receberemos as vacinas com seringas", afirmou Ivan Veronesi, secretário de saúde da cidade.
Já em São José do Rio Preto (a 437 km da capital paulista), o secretário de saúde, Aldenis Borim, disse não ter dúvida de que haverá "invasões".
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