Em 2012, um vergalhão atravessou a cabeça do operário Eduardo Leite, enquanto ele trabalhava em uma obra no Rio de Janeiro. Dez anos depois do acidente, o carioca é tema de estudos científicos sobre lesões no cérebro e na busca por tratamento em casos de acidentes como esse.
O acidente aconteceu no dia 16 de agosto de 2012, enquanto Eduardo trabalhava na construção de um prédio na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Ele estava agachado e usando um capacete, quando o vergalhão, de dois metros e meio de comprimento, caiu do quinto andar, em uma altura de 15 metros. Na hora do acidente, o operário estava no térreo da obra e teve a cabeça atravessada pela barra de ferro, saindo pela altura dos olhos.
O operário foi levado às pressas para o hospital, onde passou por cirurgia para a retirada do vergalhão, que durou cerca de seis horas. Ele permaneceu internado por 15 dias no Centro de Terapia Intensiva (CTI).
Apesar da gravidade do acidente, Eduardo, que atualmente está aposentado, não carrega sequelas do ocorrido, além de cicatrizes no rosto e na cabeça.
Mas como ele perdeu 11% de massa encefálica, atingindo o córtex pré-frontal, no lado direito de uma região vital e responsável pelas nossas tomadas de decisões, os médicos esperavam que ele tivesse alterações de comportamento.
Por conta disso, iniciou-se os estudos de pesquisadores do Brasil e Estados Unidos para o acompanhamento de Eduardo e como ele reage com o passar dos anos após o ocorrido.
Segundo informou em entrevista ao Fantástico, Renato Rozental, pesquisador da Fiocruz, o caso do carioca é bem semelhante a outro de um trabalhador que também teve o córtex pré-frontal perfurado por um vergalhão.
Nos Estados Unidos, o também operário Phineas Gage, de 25 anos, sofreu o acidente de mesma proporção, há 174 anos. Mas diferente do brasileiro, a barra atravessou o lado esquerdo e Gage apresentou mudanças de comportamento, se tornando agressivo e rude.
"Supúnhamos que iríamos encontrar um quadro semelhante, mas imediatamente, após a saída do centro cirúrgico, o Eduardo se mostrou altamente compensado", disse Rozental.
Eduardo contou em entrevista ao Fantástico (TV Globo) detalhes sobre sua vida atual após o ocorrido. Uma das suas poucas dificuldades é realizar tarefas que exigem os dois lados do cérebro simultaneamente.
Um estudo com a conclusão de que um lado do cérebro é capaz de compensar o outro será publicado na revista científica Lancet, uma das mais respeitadas do mundo.
"Durante esses dez anos de estudos, o Eduardo mantém a performance, constância com as relações pessoais e familiares", detalhou Renato Rozental.
Eduardo toma diariamente remédios contra convulsões, que ocorrem em pacientes que têm traumas cerebrais. "Se eu esquecer de tomar o remédio, dá crise. Ela vem com força. Dá um medo porque a gente está bem, mas e amanhã? Será que vou acordar bem?".
Agora, os médicos pesquisarão novas maneiras de reproduzir essa compensação cerebral em outros pacientes.
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