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Cinco boatos sobre a mancha de óleo no mar para ficar de olho

Cinco boatos sobre a mancha de óleo no mar para ficar de olho

Onda de teorias sobre a origem do petróleo que se aproxima do Espírito Santo tem tomado as redes sociais. Boatos tentam culpar de navio de dragagem português à empresa francesa, petroleira e até ONG. Confira

Publicado em 5 de novembro de 2019 às 14:40

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Tonel de petróleo encontrado nas areias da Barra dos Coqueiros, em Sergipe. (Adema | Reprodução)

O avanço da mancha de petróleo no mar, com a possibilidade de chegada do óleo em poucos dias ao Espírito Santo, tem provocado uma onda de boatos crescente sobre possíveis causas e origens do desastre ambiental. Nas redes sociais, várias são as teorias que apareceram e que acabam enganando os internautas. O caso ainda não teve a apuração concluída, mas a principal suspeita hoje recai sobre um navio petroleiro grego que inclusive foi alvo de operação da Polícia Federal.

A Gazeta selecionou cinco boatos dessa maré de desinformação que mais viralizaram nas redes nos últimos dias e foram verificados pelo projeto Comprova, coalizão sem fins lucrativos que reúne jornalistas de 24 diferentes veículos de comunicação brasileiros para combater desinformações relacionadas a políticas públicas do governo federal. 

Veja abaixo o resumo de cada verificação. Você pode refazer o caminho das checagens do Comprova clicando nos links para consultar as fontes originais ou clicar em “veja a verificação completa” para acessar todo o conteúdo. 

#1 - EMBALAGENS DE EMPRESA FRANCESA EM PRAIA DE PERNAMBUCO NÃO INDICAM RESPONSABILIDADE

Publicações sugerem que o vazamento de óleo em praias nordestinas tenha envolvimento de uma empresa francesa. As imagens são verdadeiras, mas foram usadas fora de contexto e levam a uma interpretação errada. As embalagens que aparecem nas fotos são da empresa Mapa, uma multinacional francesa que produz luvas de látex, e não óleo.

O texto verificado pelo Comprova inicia com a pergunta “E agora Lacron…????”, em uma referência ao presidente da França, Emmanuel Macron, crítico ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). Na sequência, o boato afirma que “a possibilidade de ecoterrorismo vem se confirmando” no Nordeste brasileiro. As imagens mostram duas embalagens plásticas que continham óleo, encontradas nas areias do Cabo de Santo Agostinho, cidade do Grande Recife, em Pernambuco.

Pacotes continham luvas que foram distribuídas aos voluntários e foram reaproveitados para armazenar parte do óleo recolhido. (Comprova)

A Marinha, que investiga os responsáveis pelo desastre ambiental, esclareceu que a Mapa não faz parte das investigações porque os sacos plásticos na verdade foram reutilizados pelos voluntários para guardar o óleo encontrado nas praias. “O material citado era uma embalagem de luvas de proteção que foi reutilizado para colocar os resíduos”, disse a Marinha, em nota.

Em outra manifestação, o comandante de Operações Navais da Marinha, almirante Leonardo Puntel, afirmou que os voluntários receberam luvas para se protegerem na limpeza das praias e que uma pessoa usou a embalagem vazia para colocar óleo dentro. Contatada pelo Comprova, a assessoria de imprensa da Marinha destacou que o óleo ao redor das embalagens pode grudá-las, o que dá a impressão de que os sacos estavam lacrados.

A Mapa diz que os sacos são de “luvas de proteção química, indicadas para trabalhos em contato com produtos químicos”. A assessoria da empresa informou que o modelo do produto deixou de ser vendido no Brasil, mas que “algum de nossos distribuidores poderia ter em estoque”.

Participaram das etapas de checagem e de avaliação desta verificação jornalistas de Estadão, GaúchaZH, Jornal do Commercio, UOL, Poder360, Folha de S. Paulo, A Gazeta e AFP. Veja a verificação completa aqui.

#2 - BOATO ERRA AO ACUSAR GREENPEACE; NAVIO DA ONG SÓ CHEGOU AO NORDESTE APÓS VAZAMENTOS

Publicação pede que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, exija que a Polícia Federal (PF) investigue o Greenpeace. O post sugere, de forma equivocada, que a ONG é responsável pelo vazamento de óleo nas praias do Nordeste. Não há, no entanto, nenhuma prova disso, uma vez que até momento ainda não se sabe quem são os responsáveis pelo vazamento.

O boato mente ao afirmar que o navio Esperanza, da ONG, estava no litoral brasileiro na mesma época em que o óleo começou a aparecer em praias do Nordeste. Na verdade, a embarcação passou pela costa brasileira mais de um mês depois do início do desastre ambiental, em 30 de agosto.

É falso post que sugere que Greenpeace é responsável por vazamentos. (Comprova)

O vazamento teria ocorrido em 29 de julho, a 733 quilômetros da costa de Sergipe, segundo a Polícia Federal. As manchas de óleo começaram a aparecer em praias brasileiras em 30 de agosto, segundo o Instituto Nacional de Meio Ambiente (Ibama), que mostra os dias em que o óleo começou a aparecer e aponta quais praias foram atingidas

Nessa época, o navio estava nas ilhas Bermudas, região próxima aos Estados Unidos. A embarcação se dirigia à Guiana Francesa para realizar uma pesquisa em corais durante agosto e setembro. O Esperanza trafegou pelo Nordeste cerca de um mês depois do desastre ambiental

A única verdade na publicação checada pelo Comprova é sugerir que, caso queira, Moro pode mandar a PF investigar o Greenpeace. De fato, a Polícia Federal é um órgão submisso ao Ministério da Justiça. O ex-juiz, inclusive, já pediu, em outras ocasiões, que a PF abrisse investigações.

O boato checado pelo Comprova foi publicado pelo site Notícias Brasil Online. O G1 já revelou que o site é uma das maiores fábricas de desinformação na internet do Brasil. Participaram das etapas de checagem e de avaliação desta verificação jornalistas de Estadão, GaúchaZH, Poder360, SBT, Correio da Bahia, A Gazeta, Jornal do Commercio e UOL.  Veja a verificação completa aqui.

#3 - NAVIO DE DRAGAGEM PORTUGUÊS É USADO COMO SE FOSSE PETROLEIRO DA VENEZUELA DESPEJANDO ÓLEO - 

São enganosas as postagens nas redes sociais que usam um vídeo de um navio próximo a uma praia despejando uma substância escura no mar. As postagens afirmam que se trata de um navio venezuelano que estaria despejando petróleo na costa do nordeste brasileiro. O vídeo, na verdade, mostra um navio que faz um serviço de dragagem numa praia em Portugal.

As imagens foram feitas em 30 abril, na praia de Matosinhos, em Portugal. O vídeo foi gravado por Humberto Silva, liderança do movimento “Diz Não Ao Paredão”, e publicado na página do grupo no Instagram. Por e-mail, Humberto confirmou a autoria ao Comprova. O movimento é contrário a obras anunciadas para o Porto de Leixões, em Matosinhos.

Vídeo de navio de dragagem português é enganoso ao afirmar que trata-se de derramamento de petróleo no Brasil. (Comprova)

Na postagem original, a legenda é: “Cenário da Praia de Matosinhos hoje, durante as dragagens de manutenção do @portodeleixoes”. Por e-mail, Humberto Silva enfatizou que o vídeo não se trata de despejo de petróleo e adicionou nota ao vídeo original ressaltando o uso do post por publicações enganosas no Brasil.

Participaram das etapas de checagem e de avaliação desta verificação jornalistas de Estadão, SBT, Jornal do Commercio, TV Band, Folha de S. Paulo, A Gazeta, Poder360, O Povo e Correio do Povo. Veja a verificação completa aqui.

#4 - É ENGANOSO AFIRMAR QUE A SHELL SEJA A RESPONSÁVEL PELO ÓLEO

É enganosa a publicação compartilhada nas redes sociais que atribui à Shell a responsabilidade pelo óleo encontrado nas praias do Nordeste. Apesar de a petrolífera estar prestando esclarecimentos ao governo sobre barris descobertos em praias de Sergipe e Rio Grande do Norte, não existe hoje qualquer laudo ou outro documento oficial que atribua responsabilidade dos vazamentos à empresa.

O texto verificado pelo Comprova foi publicado em um site e compartilhado no Facebook e no Twitter em 14 de outubro. O site embasa a acusação com um laudo da Universidade Federal de Sergipe (UFS) sobre o conteúdo de dois barris encontrados em 26 de setembro no município de Barra dos Coqueiros, no litoral sergipano. Segundo a publicação, o laudo indicaria que o “óleo vazado no Nordeste é da Shell".

Postagem responsabiliza enganosamente a Shell pelo petróleo encontrado em praias do Nordeste. (Comprova)

Procurado pelo Comprova, no entanto, o técnico responsável pelo laudo negou a informação. Conforme explica [aqui aqui] o professor Alberto Wisniewski Júnior, do Departamento de Química da UFS, o laudo da instituição foi repassado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e apenas não descarta a hipótese de os barris, que foram encontrados com o logo da Shell, estarem associados ao evento que levou ao vazamento de óleo.

Wisniewski destaca que há indícios de que os contêineres foram reutilizados, por isso ainda não se pode relacionar o óleo dos vazamentos com a Shell.

Outro laudo oficial divulgado sobre os barris, elaborado pela Marinha do Brasil, também aponta que o “conteúdo desses contêineres difere do encontrado nas demais praias do litoral nordestino”. Diretor-presidente da Administração Estadual do Meio Ambiente de Sergipe (Adema), Gilvan Dias também apontou a não existência de provas que possibilitem responsabilizar a Shell pelos vazamentos.

Participaram das etapas de checagem e de avaliação desta verificação jornalistas de Poder360, O Povo, Correio da Bahia, UOL, Jornal do Commercio, Band, A Gazeta, Estadão, GaúchaZH, revista Piauí e SBT. Veja a verificação completa aqui.

#5 - VAZAMENTO CONFIRMADO PELA SHELL É NOTÍCIA ANTIGA QUE VOLTOU A CIRCULAR

Voltou a circular e viralizar nas redes sociais uma reportagem antiga da agência Reuters sobre um vazamento de petróleo ocorrido em uma operação da companhia petrolífera Shell.

A divulgação do conteúdo tem provocado confusão nos debates sobre a contaminação por petróleo que afeta atualmente o Nordeste brasileiro.

Notícia de vazamento de Shell voltou a circular, mas é de 2018. (Comprova)

Intitulada “Shell confirma pequeno vazamento de óleo em transferência marítima nas águas brasileiras” (tradução livre), a reportagem foi publicada pela agência de notícias em 10 de dezembro de 2018 e se refere a um episódio ocorrido na Bacia de Santos, que fica no litoral de São Paulo. Não há, portanto, relação entre o episódio descrito e a contaminação atual no Nordeste.

Participaram das etapas de checagem e de avaliação desta verificação jornalistas de AFP, Jornal do Commercio, Poder360, Correio da Bahia, A Gazeta, Band, Estadão e UOL. Veja a verificação completa aqui.

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Projeto Comprova

O Comprova é um projeto integrado por 24 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica rumores, conteúdo forjado, táticas de manipulação e desinformações relacionadas a políticas públicas do governo federal. Envie sua pergunta ou denúncia de boato pelo WhatsApp (11) 97795-0022.

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Verificador por A Gazeta: Geraldo Campos Jr

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