No primeiro dia da aplicação das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020, ocorrido neste domingo (17), 2.842.332 participantes não compareceram às salas de aula. Apesar da taxa recorde de ausência entre todas as edições da avaliação, de 51,5%, o Ministério da Educação (MEC) considerou um sucesso a edição do exame realizada em meio à pandemia de Covid-19. Até então, o maior índice de faltas havia sido registrado em 2009, com 37,7%. Na última edição do Enem, de 2019, 23% dos inscritos não compareceram aos locais de prova.
O chefe do MEC, Milton Ribeiro, atribui o não comparecimento ao medo da contaminação pelo novo coronavírus e também a um trabalho da "mídia" contra o exame que é a porta de entrada para o Ensino Superior no Brasil. "Qualificamos como sucesso porque, no meio de uma crise, numa pandemia, nós conseguirmos mobilizar milhões de pessoas de maneira segura, para mim, foi um sucesso. Estamos em situação de calamidade. Ainda por cima temos uma questão política de mídia contra, falando e criticando a realização do exame. Nesse ponto, acredito que foi um sucesso. Para os alunos que puderam fazer a prova, foi um sucesso", disse.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, diz que o órgão ainda vai analisar detidamente os motivos da abstenção. No entanto, sugeriu que alguns fatores podem ter influenciado para o não comparecimento. Entre eles, o fato de esta edição ter contado com elevada quantidade de não pagantes, cerca de 80% dos inscritos. Em razão da pandemia, a concessão de isenções foi flexibilizada. O não pagamento pode ter funcionado como desincentivo.
Lopes também salientou que os muitos questionamentos judiciais podem ter "colocado medo" nos alunos. "No Enem deste ano tivemos recorde de participação de não pagantes, que chegou a 70% ou 80%. A média do ano passado foi de cerca de 50%. Esse incentivo dado para a inscrição, com a isenção de ofício, pode ter levado a aumento significativo de inscrições. São estudos que faremos depois", comentou.
Foram cerca de 20 ações na Justiça tentando adiar a realização do Enem por conta dos riscos de aglomerações na pandemia. O governo ganhou a maioria. Não houve provas em apenas 58 cidades brasileiras. A maioria no Amazonas, onde a saúde pública entrou em colapso. A Justiça e o governo local suspenderam a realização do exame. São 160.548 amazonenses inscritos.
Em duas cidades de Rondônia, Espigão D'Oeste e Rolim de Moura, os alunos também não puderam fazer os exames. Elas têm, respectivamente, 969 e 2.863 alunos inscritos. Não houve a avaliação por decretos municipais baixados para impedir o avanço do novo coronavírus. As provas para estes grupos serão reaplicadas em 23 e 24 de fevereiro.
O índice de abstenção foi calculado sem os dados dos inscritos de Amazonas e Rondônia. Mesmo assim, o Inep informou que os números ainda são preliminares e poderão ser atualizados.
Ao longo do primeiro dia de provas, estudantes de alguns locais se queixaram que foram impedidos de acessar às salas por causa de superlotação, acima dos 50% previstos pelo MEC. Segundo o Inep, o problema foi registrado em 11 dos 14.447 locais de prova. Alexandre Lopes afirmou que o órgão vai analisar os relatos e que nenhum participante será prejudicado. Através de atas dos locais de prova, será possível confrontar as queixas que podem ser enviadas formalmente com o que foi registrado pelos fiscais de prova. "Nenhum participante será prejudicado. Qualquer participante que se sentiu prejudicado, em qualquer lugar do Brasil, pode, a partir de 25 de janeiro, solicitar a reaplicação em 23 e 24 de fevereiro", disse.
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