O adiamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2020, por causa da pandemia, provocou mudanças no calendário e nos processos seletivos das instituições de ensino superior.
Normalmente realizado em novembro, para ingresso nas faculdades e universidades no início do ano letivo seguinte, a edição 2020 do exame foi postergada. Ela acontecerá em 17 e 24 de janeiro de 2021 (versão impressa) e em 31 de janeiro e 7 de fevereiro de 2021 (versão digital).
Com isso, os resultados serão divulgados apenas em 29 de março, atrasando a entrada dos alunos aprovados nas universidades que usam o exame como processo seletivo.
De acordo com o MEC (Ministério da Educação), 128 instituições públicas utilizaram o Enem por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) para ingresso de alunos no primeiro semestre de 2020. Para 2021, o MEC informa que o edital para as instituições aderirem ao Sisu ainda não foi publicado.
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) já anunciou que não aceitará o exame para ingresso em 2021, devido à incompatibilidade de datas.
Segundo a universidade, as 639 vagas oferecidas, que correspondem a cerca de 20% do total, serão transferidas para o vestibular tradicional, incluindo aquelas destinadas a alunos de escolas públicas e autodeclarados pretos e pardos.
O ingresso na Unicamp via vestibular indígena e vagas olímpicas está mantido. A universidade prevê o início das aulas em 15 de março de 2021.
Já a USP (Universidade de São Paulo) resolveu manter a adesão ao Enem por meio do Sisu. Das 11.147 vagas para ingresso em 2021, 8.242 serão destinadas ao vestibular da Fuvest e 2.905 ao Sisu. O início do ano acadêmico de 2021 está previsto para 22 de março, mas o ingresso dos calouros vai depender do calendário do Enem.
A Unesp (Universidade Estadual Paulista) usará o Enem apenas para as vagas remanescentes, como já havia feito anteriormente.
Entre as federais localizadas no estado de São Paulo, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) informaram que continuarão utilizando o Enem/Sisu. A UFABC (Universidade Federal do ABC) ainda não tem uma definição.
"É uma decisão tomada anualmente em conselho superior da universidade. Mas não temos vestibular próprio nem condições para elaborar um neste momento. Além disso, acreditamos que o Sisu foi um avanço e defendemos a sua manutenção", diz Paula Ayako Tiba, pró-reitora de graduação da UFABC.
No universo das instituições particulares, a situação é diversa. Uma parte vai aceitar a nota do Enem de edições anteriores, como 2019 e 2018. Outras farão seus próprios vestibulares online -como a Cásper Líbero e a PUC-SP. Uma terceira fatia oferece ambas as opções, caso da Metodista e do Mackenzie.
Em outras instituições, como o Centro Universitário FEI, a Faap, a FGV e o Instituto Mauá de Tecnologia, além dessas duas opções, Enem e prova online, os candidatos também podem usar resultados de exames internacionais -Abitur (certificação alemã), BAC (Diplôme du Baccalauréat) e IB (International Baccalaureate) estão entre os mais comuns.
Na ESPM, o vestibular agora tem duas etapas online -uma entrevista com um professor da instituição e uma redação, que consiste na elaboração de um texto e na gravação de um vídeo explicando o raciocínio utilizado. Além do vestibular, o candidato também pode ingressar por meio do Enem, se tiver a pontuação mínima exigida, ou de exames internacionais.
No Insper, a segunda fase do processo seletivo já contava com redação, dinâmica em grupo e arguição oral. Neste ano, a diferença é que todas as atividades serão realizadas online e remotamente.
Na primeira fase, o candidato concorre por meio do vestibular (prova online), nota do Enem (2018 ou 2019) ou do SAT (Suite of Assessments), avaliação americana.
Segundo Marcelo Dias Carvalho, coordenador do Curso Etapa e da Faculdade Eseg, a diversificação de processos seletivos não deve impedir que o Enem continue ganhando força, principalmente entre as universidades públicas. "Nas particulares, o que deve ocorrer é um misto, com um peso para a prova do Enem e um peso para processos alternativos."
Na mesma linha pensa Rodrigo Fulgêncio, diretor de unidades escolares do Poliedro. "O Enem já é o principal vestibular do país, e a tendência é que cada vez mais as públicas formalizem essa adesão. Eu vejo como algo positivo, pois é uma prova bem elaborada, que tem muitos locais de aplicação e democratiza o acesso", afirma.
Levantamento da Quero Bolsa, plataforma de bolsas de estudo e vagas no ensino superior, com base nos microdados do Censo da Educação Superior do MEC, mostra que o número de instituições (públicas e privadas) que usam o Enem como processo seletivo (desconsiderando Fies e ProUni) passou de 1.289 para 1.622 entre 2015 e 2019. Dessas 1.622 (que representam 62% das instituições do país), 1.469 são privadas.
Daniel Perry, diretor do Anglo Vestibulares, lembra que, a partir de 2021, o Enem também passará a ser aplicado de maneira seriada, ao final dos três anos do ensino médio. "O exame vai ganhar ainda mais importância, já que cada vez mais estudantes estarão fazendo essa prova."
Neste contexto de intensas mudanças nos vestibulares, Gilberto Alvarez, diretor do Cursinho da Poli, destaca que, mais do que nunca, é importante o vestibulando buscar informações. "Acompanhar os editais e estar atento às novidades é fundamental", afirma.
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