O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ligou na noite de quinta (14) para o chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, e fez novo apelo pela liberação de 2 milhões de vacinas desenvolvidas pela parceria Universidade de Oxford e AstraZeneca que o Brasil quer comprar de um laboratório do país.
De acordo com o Itamaraty, os indianos manifestaram "boa vontade" e disseram que a situação seria resolvida "nos próximos dias", mas não houve um compromisso com uma data específica.
Trata-se do segundo contato de alto nível que o Brasil faz com a Índia para tentar liberar a venda do lote, fabricado pelo Serum Institute. Na sexta (8), Bolsonaro enviou uma carta ao premiê indiano, Narendra Modi, pedindo urgência e ajuda para que a entrega fosse liberada.
O avião que vai buscar os imunizantes já está pronto para partir rumo ao país, mas a decolagem ainda não ocorreu porque as autoridades indianas ainda não deram luz verde para a operação.
A última informação oficial é que a aeronave, atualmente no Recife (PE), deve partir nesta sexta (15) às 23h, com retorno ao Brasil com os imunizantes no domingo (17). Mas o fato de que a autorização de entrega da Índia ainda é alvo de negociações coloca em dúvidas o cumprimento do cronograma.
Interlocutores que acompanham as negociações relataram à reportagem que existe um obstáculo político para a autorização. A Índia é um dos maiores polos produtores de vacina do mundo e tem sido procurada por diversos países para exportações, mas o governo local resiste a autorizar essas transações antes que seja iniciada a imunização da sua própria população.
O lote de doses da vacina de Oxford é a principal aposta do governo Jair Bolsonaro para iniciar a campanha de vacinação já na próxima semana. O governo estuda a ideia de realizar uma cerimônia em 19 de janeiro para marcar o início da vacinação. O pontapé da imunização em todos os estados está previsto para o dia seguinte.
Segundo o jornal Hindustan Times publicou na quinta-feira, a Índia considera muito cedo para se comprometer em exportar doses do imunizante, inclusive para o Brasil.
Fontes do jornal afirmam que a decisão de exportar vacinas para outros países deve demorar mais tempo.
A informação é corroborada pela fala, durante esta semana, do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Anurag Srivastava. Questionado sobre exportação de vacinas, ele afirmou que o programa de imunização do país seria lançado no sábado (16) e, portanto, ainda era muito cedo para discutir a entrega a outras nações.
Você deve se lembrar que o primeiro-ministro já afirmou que a produção e a capacidade de entrega da Índia serão usados para o benefício de toda a humanidade para combater essa crise", disse Srivastava. "O processo de vacinação na Índia está apenas começando. É muito cedo para dar uma resposta específica sobre destinação para outras países enquanto ainda estamos analisando os cronogramas de produção e entrega. Nós tomaremos decisões a esse respeito no devido tempo, isso pode demorar.
Embora membros governo Bolsonaro reafirmem que estão otimistas e que os atrasos estão ocorrendo apenas por questões logísticas e de cronograma, outros interlocutores são mais céticos e destacam que, nas conversas, os indianos sempre foram vagos sobre quando o lote de vacinas poderia ser entregue.
Nas palavras de um interlocutor, o problema das conversas com os indianos sempre foi o cronograma de entrega.
Em nota que foi divulgada pelo governo Bolsonaro na quarta (13), constava uma primeira previsão de retorno da aeronave ao Brasil para sábado (16), prazo que já foi prorrogado em um dia.
Caso o Itamaraty e o Ministério da Saúde não consigam desembaraçar a compra, Bolsonaro corre o risco de sofrer uma derrota política para o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
A vacina da AstraZeneca/Oxford será produzida no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mas ainda não há estoques no país.
Por outro lado, a Coronovac desenvolvida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, e por uma farmacêutica chinesa já tem doses em quantidade significativa no país. A vacina do Butatan tem sido usada como trunfo de Doria, que certamente capitalizará politicamente caso ela seja usada no início da imunização.
Os dois imunizantes estão no momento tendo seus pedidos de análise emergencial pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta