SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após uma cerimônia religiosa com inúmeras referências e declarações contra a violência, foi enterrado na tarde nesta segunda-feira (8) o corpo do octacampeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo Pereira do Nascimento, 33.
O lutador foi morto na madrugada deste domingo (7) com um tiro na cabeça. O tenente da Polícia Militar Henrique Otavio Oliveira, 30, suspeito de ter feito o disparo, acabou preso após se entregar na noite de domingo.
Lo foi baleado durante um show do grupo Pixote, no clube Sírio, na zona sul de São Paulo.
Ivã Siqueira Junior, advogado da família do lutador, disse que, segundo testemunhas, o desentendimento teve início depois de um homem entrar na roda de amigos de Lo, pegar uma garrafa de bebida e começar a chacoalhá-la. Ao mesmo tempo, o homem estaria encarando o lutador, como forma de provocação.
Lo teria, então, derrubado o homem e o imobilizado. Outras pessoas se aproximaram e separaram a briga, sem ter havido agressões, de acordo com relatos de testemunhas aos quais o advogado da família afirma ter tido acesso.
O homem teria, então, sacado uma arma e, de frente para a vítima, disparado uma única vez na cabeça do lutador, que foi atingido na testa. O atirador teria ainda chutado duas vezes a cabeça de Lo, enquanto este estava caído no chão, segundo colegas do campeão mundial.
A reportagem não conseguiu falar com a defesa do tenente. Domingo, na delegacia, um advogado que se apresentou como defensor do PM, recusou-se a falar com a imprensa e não deu informações sobre o caso.
A sua prisão foi mantida após realização de audiência de custódia nesta segunda-feira. Ele está no Presídio Romão Gomes, da PM, na zona norte.
"Permaneçam unidas para que situações como essa não aconteçam em nosso meio", afirmou o padre Luciano Borges às duas irmãs do lutador, em uma cerimônia antes do enterro no Cemitério do Morumby, zona oeste de São Paulo.
Antes, o religiosa já havia falado que a vida de Fátima Lo, mãe do supercampeão de jiu-jítsu, não seria mais a mesma por causa da perda do filho.
"Quantas vezes observamos a mesma situação, a mesma violência, que acaba tirando vidas de pessoas especiais, cheias de vontade de viver", afirmou o padre, que também atua na favela de Paraisópolis, vizinha ao cemitério.
O padre lembrou que Lo teria uma viagem nesta semana para a disputa de mais um campeonato. "Foram sonhos interrompidos pela maldade, pela violência, e por aquilo que acaba por tantas vezes destruindo a vida."
O religioso, que inúmeras vezes repetiu a palavra paz, disse que "quem mata nunca vence" e pediu aplausos aos lutadores do bem, referindo-se aos atletas de quimono que lotaram a capela e o saguão em frente. A multidão bateu palmas durante 35 segundos.
Pouco antes da cerimônia religiosa, Amanda Lo, 29, uma das irmãs de Leandro, até tentou evitar falar do crime, mas disse que queria justiça.
"Que a justiça seja feita porque ele foi brutalmente [morto]", afirmou. "Com certeza ele [o PM] conhecia meu irmão e foi por inveja", disse ela, completando que a família planeja criar o Instituto Leandro Lo para desenvolver ações sociais.
Saulo Gabriel Lo, 22, primo do campeão, disse acreditar que o crime foi premeditado. "Ninguém vai para a balada sozinho para perturbar uma turma com pelo menos dois lutadores a noite inteira, à troca de nada", disse. "Ele conhecia o Leandro, é como se um jogador de futebol não conhecesse o Neymar", afirmou sobre o fato de o policial militar supostamente também lutar jiu-jítsu.
O lutador Rider Zuchi, 26, que faz parte de um projeto de profissionalização do jiu-jítsu liderado por Leandro Lo, afirmou que violência, como a da madrugada do último domingo, representa "a sujeira do mundo".
Ainda durante o velório, o mestre Otávio de Almeida Júnior, presidente da Federação Paulista de Jiu-Jítsu, classificou o disparo que matou Leandro Lo como uma atitude covarde.
Após pedido dos lutadores à família, o caixão com o corpo foi levado aberto da capela até o local do sepultamento para que atletas, em dois corredores, pudessem reverenciar o ídolo.
O corpo foi enterrado por volta de 16h20 aos gritos de "é campeão". Ao menos seis policiais civis, praticantes do esporte, acompanharam toda a cerimônia de sepultamento.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta