Fora dos holofotes em meio ao risco de chegada do novo coronavírus, a dengue tem voltado a crescer e já soma 94 mil casos neste ano, de acordo com novos dados do Ministério da Saúde.
O total representa um aumento de 71% em relação ao mesmo período de 2019. O balanço considera os dados informados por secretarias de saúde até a quinta semana do ano.
"Com certeza, este ano será pior do que o ano passado, e os dados já mostram isso", afirmou à reportagem o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Wanderson Oliveira.
Em encontro com secretários estaduais e municipais de Saúde para discutir medidas de controle do coronavírus, o Ministério da Saúde fez um apelo para que a rede de saúde reforce a vigilância contra o novo vírus, mas não perca a atenção para outras velhas doenças que atingem o país.
Nos últimos dias, o alerta em torno do coronavírus identificado na China e a necessidade de trazer brasileiros em Wuhan fizeram o governo declarar emergência em saúde pública.
O ministério também passou a soltar informes diários de casos de suspeita de infecção pelo vírus."Ainda não temos casos confirmados de coronavírus no Brasil. Mas temos outros desafios simultâneos que não podemos baixar a guarda", disse Oliveira no evento, citando em seguida dados de sarampo, febre amarela e dengue.
Segundo especialistas, o avanço da dengue já era esperado por causa da mudança, no último ano, no sorotipo predominante de vírus da dengue em circulação, o qual passou a ser o tipo 2 --entre quatro possíveis.
A última vez que esse sorotipo havia circulado com mais força foi em 2008, o que indica a possibilidade de que haja mais pessoas suscetíveis à doença. "Os anos de 2017 e 2018 foram muito atípicos, e estávamos vivendo um crescente [de casos em 2019]. Já estávamos observando que o vírus 2 causaria uma circulação muito mais significativa neste ano e vínhamos fazendo esse alerta", afirmou Oliveira.
Ao todo, o Brasil já soma 14 mortes por dengue. Para comparação, no mesmo período de 2019, havia 5 mortes registradas.
Os dados por estado não foram divulgados. Boletim do Ministério da Saúde com informações até 18 de janeiro, no entanto, aponta São Paulo e Paraná como estados que lideram em número absoluto de casos.
Já as maiores incidências da doença, padrão que considera o total de casos pela população, é registrada até o momento no Paraná, no Acre e em Mato Grosso do Sul.
O infectologista Marcos Boulos, coordenador de grupo de arboviroses da secretaria de São Paulo, disse que o novo aumento da dengue começou a ser verificado em alguns municípios do estado a partir de janeiro, um pouco mais tarde do que o habitual.
"Já esperávamos desde dezembro. Agora está chegando, e já temos vários municípios com índice duas vezes maior", afirmou.
Para ele, embora o último ano já tenha sido um dos maiores em registros --foram 1,5 milhão de casos prováveis da doença--, o auge da epidemia é esperado para este ano.
"Mas é possível ocorrer dois anos seguidos com alto número de casos? Pode. A infestação de Aedes [aegypti, mosquito que transmite a dengue] está aumentando e temos uma população muito suscetível. A chance de ter [um maior número de casos] é grande", afirmou.
Outro fator é a ocorrência de um maior número de casos no último ano em determinadas regiões - o que aumenta o alerta para áreas menos atingidas."Brinco que devemos nos preocupar mais com dengue, porque o coronavírus não é daqui. Mas, se chegar, a vigilância está alerta", disse o infectologista.
Boulos afirmou que o estado tem feito reuniões com municípios para discutir ações e apostado em capacitação para aumentar a assistência.
Já o Ministério da Saúde tem citado como medidas de controle o reforço em novas tecnologias, caso de um projeto para liberação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que reduz a capacidade do vetor em transmitir as doenças.
Segundo Oliveira, a pasta também finalizou recentemente a distribuição de novos estoques de inseticidas após problemas que levaram à falta do produto em alguns locais no último ano. Ele disse que a situação já está regularizada.
Além da dengue, dados do Ministério da Saúde também mostram que o Brasil já registra neste ano 3.439 casos de chikungunya e 242 casos de zika, outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
No caso do chikungunya, o número é pouco menor em comparação ao mesmo período do ano passado, quando houve 4.149 registros.Alguns estados, porém, têm maior número de casos --como Espírito Santo, que concentra 31% dos registros de chikungunya até a quinta semana deste ano.
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