Com a saída do MDB do chamado blocão da Câmara dos Deputados, o presidente Jair Bolsonaro deu início a uma estratégia para garantir que o partido se mantenha alinhado nas principais votações de interesse do governo federal.
Para dissipar o receio de derrotas ou fragilidade na Casa, Bolsonaro tem se esforçado por uma aproximação com o ex-presidente Michel Temer (MDB), um dos caciques da legenda e indicado para chefiar a missão humanitária do Brasil no Líbano.
Além disso, o Palácio do Planalto mira também a presidência da Câmara. Ao trazer o MDB para perto, Bolsonaro busca aproximação com o deputado Baleia Rossi (SP), líder e presidente do partido, apontado como pré-candidato à eleição que definirá o sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A articulação para ter os emedebistas como aliados é vista como estratégica também para garantir a popularidade do presidente.
Pesquisa Datafolha publicada nesta quinta-feira (13) mostra que Bolsonaro apresentou a melhor avaliação de governo desde o início do mandato.
Segundo o levantamento, 37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, ante 32% da pesquisa anterior, realizada em junho.
Mais acentuada ainda foi a queda na curva da rejeição. Caíram de 44% para 34% os que o consideravam ruim e péssimo. A avaliação regular passou para 27%, ante 23% em junho.
O MDB tem a quinta maior bancada da Câmara, com 35 deputados.
O partido fazia parte do blocão, que tinha 221 congressistas, e foi criado formalmente para garantir ao grupo a maior parte das indicações de membros da CMO (Comissão Mista de Orçamento).
A legenda, no entanto, buscava se afastar do chamado centrão, que reúne uma série de legendas que hoje atuam como base de Bolsonaro, justamente para se desconectar do governo e reafirmar posição de independência.
Para isso, o MDB decidiu sair do blocão, já que este grupo além de ser composto por boa parte das siglas do centrão, é também comandado por Arthur Lira (AL), líder do PP e principal representante desse segmenrto de deputados.
A formalização da saída do MDB ocorreu no dia 27 de julho, em uma decisão tomada com o DEM --ao todo, são 63 deputados. A decisão acendeu o alerta no governo.
Como gesto ao MDB, Bolsonaro escolheu Temer como chefe da missão que presta ajuda ao Líbano, palco de uma explosão que deixou 220 mortes, além de milhares de feridos.
Dirigentes do MDB já sinalizaram ao Planalto que a legenda votará sempre a favor de reformas consideradas estruturantes, como a tributária. A previsão é que a matéria seja apreciada neste segundo semestre. Eles não garantem, contudo, a mesma postura sobre as demais pautas.
A preocupação de Bolsonaro é de que a sigla reforce sua postura de independência em temas considerados estratégicos para a tentativa de reeleição, dificultando, por exemplo, a aprovação de vitrines eleitorais, como o Renda Brasil, uma reformulação do Bolsa Família, e a extensão com outro valor do auxílio emergencial.
A sucessão do presidente da Câmara é outro pano de fundo. No Planalto, já é dado como certo que o candidato que tiver o apoio de Rodrigo Maia terá votos tanto na esquerda como no centro e deverá polarizar a disputa com um dos nomes do bloco do centrão, atual aliado de Bolsonaro.
Segundo ministros palacianos, o favorito de Bolsonaro é Lira. Líder formal do blocão, com 156 deputados, ele comanda congressistas de PL, PP, PSD, Solidariedade, Pros, PTB e Avante. Lira, porém, é ainda líder informal do centrão. Entram aí partidos como Republicanos e PSC.
Com receio de antecipar a participação na disputa e referendar alguém sem vitória certa, Bolsonaro decidiu se afastar e movimentar peças que garantam a ele aproximação com outros pré-candidatos.
Um deles é justamente Baleia, do MDB, por quem o presidente tem simpatia. É considerado um nome mais palatável aos eleitores bolsonaristas por sua imagem não ser tão associada ao grupo partidário.
Além disso, ele é menos lembrado por escândalos de corrupção. O PP, legenda de Lira, foi uma das siglas mais atingidas pela Lava Jato.
Quando o MDB deixou o blocão no fim do mês passado, integrantes do PP defenderam que o Planalto retirasse cargos do partido na máquina pública como uma forma de retaliação caso eles não votassem com o governo.
Com receio de derrotas legislativas, Bolsonaro adotou postura contrária. O presidente não mexeu em nenhum cargo e ainda acenou com mais espaço para o MDB em postos de vice-liderança no Senado e no Congresso. Ele pretende fazer as mudanças até o fim deste mês.
A ponte do presidente com o MDB tem como principais interlocutores o deputado federal Fábio Ramalho (MDB-MG) e o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, também filiado ao partido.
O primeiro já promoveu dois almoços para o presidente no Planalto e levou um grupo de deputados.
Já Skaf, segundo assessores presidenciais, tem atuado junto à cúpula do partido. Foi ele quem ajudou a viabilizar o convite de Bolsonaro para que Temer liderasse a missão humanitária no Líbano.
Segundo empresários paulistas, o dirigente da entidade avalia se lançar candidato ao Governo de São Paulo em 2022. O desejo é ter o apoio de Bolsonaro, seja pelo MDB, seja pela Aliança, partido que o presidente tenta criar.
A aproximação entre Bolsonaro e Temer, que se tornou uma espécie de conselheiro presidencial, se intensificou no início deste mês. Porém, ambos já tinham uma relação de confiança desde a transição de governo.
De acordo com aliados do ex-presidente, Temer ganhou a confiança de Bolsonaro quando, na transição, determinou que a equipe ministerial abrisse todos os dados do governo para facilitar a entrada do novo presidente.
No ano passado, ambos chegaram a conversar pelo telefone poucas vezes. Os dois foram contemporâneos na Câmara, mas não eram próximos --Bolsonaro era do baixo clero. Temer presidiu a Casa.
Neste ano, no entanto, no auge da crise entre o Executivo e o Judiciário, quando foi cogitada a abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro, a relação dos dois se estreitou.
Dias após o episódio em que apoiadores de Bolsonaro atiraram fogos de artifício contra o STF (Supremo Tribunal Federal), Bolsonaro e Temer se falaram ao telefone. O emedebista defendeu ao presidente que ele afastasse o então ministro da Educação, Abraham Weintraub.
Temer ainda recomendou ao presidente que diminuísse as críticas aos ministros do Supremo, buscasse um canal de diálogo e não desse mais entrevistas à imprensa na portaria do Palácio da Alvorada.
Os conselhos do emedebista foram seguidos por Bolsonaro, que iniciou uma fase de aproximação ao bloco do centrão e de postura "paz e amor", que se estende há quase dois meses sem ataques diretos ao Supremo e ao Congresso.
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