Apesar de o Rio de Janeiro passar por um aumento da ocupação de UTIs nas últimas semanas, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) decidiu liberar casamentos, formaturas, casas de show, apresentações de música ao vivo, circos e outros eventos a partir desta quinta (1º).
A porcentagem de leitos para Covid-19 ocupados atingiu 86% há 12 dias na rede pública da cidade, e hoje está em 79% (incluindo as redes municipal, estadual e federal). Considerando apenas a rede municipal, que faz a maioria dos atendimentos, só havia 29 vagas intensivas nesta manhã.
Na rede privada, esse patamar já chega a 90% segundo o pediatra Graccho Alvim, diretor da Aherj, principal associação de hospitais do estado. "Nos últimos 15 dias tivemos uma pressão maior. Começou a internar muito mais paciente grave, e as vagas para Covid estão quase cheias na cidade", diz.
Segundo as novas regras divulgadas por Crivella, as festas e cerimônias de diversos tipos poderão ser realizadas em espaço aberto e fechado, inclusive com música ao vivo, mas terão que restringir o público a um terço da capacidade do local e não poderão ter pista de dança, self-service nem "compartilhamento de objetos".
A liberação não inclui boates, rodas de samba e quadras de escolas de samba, mas inclui casas de festas infantis, mesmo com as aulas da rede pública ainda vetadas. Já as casas de show deverão ter lugar marcado, venda de ingressos pela internet e limitação de 50% da capacidade.
A permissão para a música ao vivo também vale para bares e restaurantes, que continuam proibidos de comercializar bebidas para quem está de pé na rua, fora dos comércios -regra que vem sendo constantemente desrespeitada em frente a bares na zona sul, por exemplo.
Crivella, que chama a nova fase da reabertura de "6B" porque antecipou uma parte das flexibilizações, diz que em seguida a cidade deve passar por um período "conservador".
"A fase 6B tem previsão de 15 dias, e então será feita uma avaliação. É a última fase dessa retomada de atividades econômicas que iniciamos em junho. Em seguida, poderemos passar ao período conservador, e espero que as pessoas estejam conscientes da necessidade de usar máscara, manter higienização das mãos e evitar aglomeração, até que tenhamos a vacina contra a Covid-19", declarou.
Outras atividades que ele permitiu foram as feiras de artesanato e food parks, assim como feiras de negócios e exposições abertas. Ambulantes podem voltar aos parques, praças e mercados populares, mantendo o distanciamento de dois metros entre as barracas.
A venda da pipoca e do refrigerante também retorna aos cinemas e teatros após reivindicação dos empresários do setor, que já estava autorizado a reabrir com metade da capacidade desde 14 de setembro. Museus, galerias, bibliotecas, arenas e circos devem, em tese, respeitar o limite de quatro metros quadrados por pessoa.
As ruas e praias do Rio de Janeiro estão cheias desde o início de agosto, apesar de restrições que proíbem ficar na areia. A máscara já não parece um item obrigatório (apesar de ser), e a fiscalização é rara.
A secretaria municipal de Saúde afirma que o aumento da ocupação de UTIs se deve ao fechamento de leitos estaduais e privados, o que reduziu o total disponível. Com o afastamento do governador Wilson Witzel (PSC) e a denúncias de desvio de recursos para o combate à pandemia, o Rio não tem mais hospitais de campanha estaduais em funcionamento, apenas um municipal.
Graccho Alvim, da associação de hospitais particulares, afirma que muitas unidades privadas que haviam fechado alas dedicadas à doença voltaram a abri-las nas últimas semanas, apesar de não divulgarem os números absolutos de vagas. "A situação é preocupante [para a rede privada], porque com o fechamento das unidades públicas, para onde vão esses pacientes?", diz o pediatra, que se diz preocupado ainda com as crianças.
"Nesta semana tivemos dificuldade para conseguir leitos de pediatria na rede privada. Com as pessoas saindo de casa, começamos a ver um número maior de crianças infectadas, e temos poucos leitos infantis. Não sei qual vai ser o impacto após reabertura das aulas", afirma.
Nos últimos dois meses tem se observado no estado uma flutuação na média móvel de novos casos e óbitos pela Covid-19. Na última semana, as mortes têm seguido tendência de aumento.
A pesquisadora da Fiocruz Margareth Portela alerta para o risco de um repique semelhante ao europeu, lembrando que no Rio a estabilidade se deu num patamar ainda alto. "Estamos preparados para contratar pessoas, botar os leitos para funcionar?"
A prefeitura afirma que busca abrir mais 95 leitos de UTI com financiamento do Ministério da Saúde. Já o estado diz que negocia parceria com os municípios para a abertura de mais 140 leitos intensivos e que, caso seja necessário, é possível contratar leitos privados.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta