O Comitê de Contingência da Covid-19 do governo paulista recomendou a volta do uso de máscaras em locais fechados em todo estado diante da tendência de crescimento de casos nas últimas semanas. O assunto foi abordado em um encontro entre o governador Rodrigo Garcia (PSDB) e especialistas que integram a recém-criada Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, à qual o comitê é vinculado, no Palácio dos Bandeirantes, na tarde desta terça-feira (31).
"A Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde através do Comitê Científico do Estado de São Paulo recomendou o retorno do uso de máscaras em estabelecimentos fechados sem caráter obrigatório, não modificando a legislação vigente em São Paulo da utilização apenas em ambientes hospitalares e no transporte coletivo", afirmou o governo em nota.
O fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados foi decretado pelo ex-governador João Doria (PSDB) em 17 de março em reação ao arrefecimento da pandemia no estado. "Apesar do cenário favorável com relação aos três primeiros meses do ano, o Comitê tem verificado um crescimento no número de casos e hospitalizações, sem crescimento de óbitos proporcional graças à ampla cobertura vacinal do Estado de São Paulo referência e líder mundial em vacinação", diz a nota que anuncia a recomendação.
Perguntado sobre a diretriz, o secretário municipal da Saúde, Luiz Carlos Zamarco, afirmou vai antecipar para esta quarta-feira (1º) a reunião semanal que discute a pandemia para definir se a capital paulista acompanhará a recomendação do estado.
A gestão Ricardo Nunes (MDB) vem flexibilizando o uso da máscara na capital paulista. No último dia 14, a prefeitura acabou com a obrigatoriedade do uso de máscaras em táxis e carros de aplicativos. O item de proteção continua obrigatório no transporte coletivo e em serviços de saúde, como postos e hospitais.
Dados da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e da Unesp com apoio da Fapesp para acompanhar a evolução da pandemia, mostram que a média móvel de novas internações (UTI e enfermaria) aumentou 74% no estado de São Paulo em três semanas. Foram comparados os dias 6 e 27 de maio, quando as médias alcançaram 176 e 306, respectivamente.
O médico João Gabbardo, coordenador executivo do Comitê Científico do governo estadual, disse à reportagem que o recente aumento de novos casos e o número de internações levaram a entidade a adotar a recomendação. No entanto, ele afasta a hipótese de uma nova onda de infecção. "Nessa última semana tivemos aumento de 40% de internações em São Paulo, e 80% de transmissibilidade", afirma Gabbardo. "Felizmente a vacinação contribui para que o aumento de internação não ocorra na mesma proporção. Por isso, é só uma recomendação."
A orientação, segundo ele, deve ser utilizada em ambientes abertos onde houver aglomeração. A capital recebeu neste final de semana a Virada Cultural, e a gestão Ricardo Nunes (MDB) pretende realizar uma edição do Carnaval em julho. Além disso, estão previstos ainda a Parada LGBT e a Marcha Para Jesus na cidade nos próximos meses.
Segundo a coluna de Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo, o número de casos notificados de Covid-19 no estado de São Paulo quase dobrou de uma semana para a outra, segundo dados oficiais analisados pelo comitê científico. A média diária de novas infecções na semana passada chegou a 4.830, contra 2.622 da semana anterior, num salto de 84,2%.
Nesta segunda-feira (30), o Brasil registrou a maior média móvel de casos de Covid desde o fim de março, 24.993 infecções por dia, um crescimento de 31% em relação ao dado de duas semanas atrás. Foi o maior valor desde 31 de março, quando a média era de 25.910 casos diários.
Desde 12 de maio, o comitê de contingência paulista está vinculado à Secretaria Estadual de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, criada para planejar medidas de saúde e pesquisas para o enfrentamento de doenças infecciosas. A pasta é comandada pelo infectologista David Uip, que já chefiou a comissão de contingência no governo Doria.
Na recomendação, o comitê paulista também orientou que os municípios façam uma busca ativa pelos adultos que ainda não tomaram a segunda e a terceira dose da vacina contra a Covid e dos idosos que ainda não tomaram a quarta dose. Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, o país registra dificuldades para completar os ciclos de vacinação recomendados, com cobertura infantil estagnada, reforço baixo entre jovens e apenas 10% dos idosos com a quarta dose.
Somente no estado de São Paulo, até esta terça-feira (31), 2,7 milhões de pessoas não haviam aparecido para tomar a segunda dose da vacina contra a Covid, segundo a Secretaria Estadual da Saúde - na capital paulista são 677 mil faltosos, de acordo com a prefeitura. Do total no estado, 1,2 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 12 anos não foram aos postos para a segunda dose, pouco mais de 40% do público esperado.
Entre os que podem receber reforços na vacinação, 10 milhões já poderiam ter tomado a terceira dose no estado e 3,3 milhões, a quarta dose. Pode ser imunizado com a terceira dose quem tem a partir de 12 anos. Já a quarta, a partir de 60 anos. Nos dois casos, é preciso ter tomado a última vacina há ao menos quatro meses.
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