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Comparar número de mortes por Covid em 2020 e 2021 não indica ineficácia da vacinação

Comparar número de mortes por Covid em 2020 e 2021 não indica ineficácia da vacinação

Publicação feita no Twitter engana ao relacionar o número de vacinados e o avanço de mortes por covid-19 entre 2020 e 2021. O post compara cenários diferentes da pandemia, da evolução de casos e da cobertura vacinal no Brasil. Ele descontextualiza matérias jornalísticas utilizadas como base dos argumentos apresentados no Twitter

Publicado em 29 de outubro de 2021 às 06:00

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Passando a Limpo: Comparar número de mortes por Covid em 2020 e 2021 não indica ineficácia da vacinação
Ao contrário do que diz postagem, entidades de saúde brasileiras e internacionais reforçam que a vacina tem sido eficaz no combate e na redução de casos graves e mortes pela doença. (Reprodução/Comprova)

Conteúdo verificado: Publicação feita pelo economista e comentarista da Jovem Pan Rodrigo Constantino, no Twitter, distorce dados oficiais sobre a covid-19 apresentados pelo G1 para contestar a eficácia das vacinas.

É enganosa a publicação compartilhada no Twitter pelo economista e comentarista da Jovem Pan Rodrigo Constantino contestando a eficácia das vacinas contra a covid-19, porque descontextualiza matérias jornalísticas utilizadas como base dos argumentos apresentados.

No tuíte verificado, Constantino utiliza dados divulgados pelo portal G1 em 1º de janeiro e em 15 de outubro de 2021. Na primeira data, o Brasil registrava 195 mil mortes pela doença, enquanto, na segunda, havia ultrapassado 600 mil mortes.

Diante disso, o comentarista escreveu: “Em 2020, sem vacinas, o Brasil não chegou a 200 mil mortes com covid; em 2021, com mais de 100 milhões de pessoas vacinadas com 2 doses, até agora mais de 400 mil pessoas morreram, ou seja, o dobro”.

A construção narrativa feita por Constantino descredibiliza os imunizantes contra a covid-19 por uma comparação sem fundamento, visto que os números de mortes e casos da doença têm caído desde o início da vacinação. Além disso, a publicação não considera o ritmo da imunização do país, distorcendo a realidade.

Diante disso, o Comprova considerou o conteúdo enganoso porque se baseia em dados imprecisos e confunde os internautas sobre os efeitos gerados pela vacina contra o coronavírus, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

COMO VERIFICAMOS?

O Comprova buscou informações sobre o caso em matérias jornalísticas e no site oficial da OMS (Organização Mundial da Saúde), da Universidade Johns Hopkins e do Ministério da Saúde brasileiro.

Entrevistamos, por WhatsApp, o autor da publicação, Rodrigo Constantino. Procuramos Sabine Righetti, pesquisadora de Política Científica associada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e fundadora da Agência Bori, com trabalho voltado para a covid-19.

Também conversamos por WhatsApp com Leonardo Weissmann, infectologista do instituto Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, além do infectologista da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 26 de outubro de 2021.

VERIFICAÇÃO

A relação estabelecida pelo comentarista da Jovem Pan Rodrigo Constantino entre o número de vacinados e o avanço de mortes por covid-19 entre 2020 e 2021 não tem fundamento, porque compara cenários diferentes da pandemia, da evolução de casos e da cobertura vacinal no Brasil. Ele descontextualiza matérias jornalísticas utilizadas como base dos argumentos apresentados no Twitter.

Não é cabível utilizar como parâmetro as métricas citadas por Constantino devido a uma série de fatores. O colunista errou ao afirmar que o ano de 2020 tinha menos mortes devido à ausência de vacinas.

Em entrevista ao Comprova, o infectologista Leonardo Weissmann, analisou a publicação de Constantino.

Segundo Weissmann, a informação citada na postagem está “fora de contexto” e é “sem sentido”. Ele explicou o motivo em 6 pontos:

Também contatado pelo Comprova, o ex-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia Carlos Starling, que é um dos integrantes do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 de Belo Horizonte, criticou a colocação do tuíte e a chamou de ingênua “do ponto de vista epidemiológico”, além de “contaminada por ideologia política”.

“Vacinas não são mágicas. O fato de termos as doses não significa que tenham sido aplicadas”, respondeu o infectologista à reportagem. Na avaliação dele, a capacidade vacinal do SUS poderia ter salvado muito mais vidas no começo do ano, caso os imunizantes tivessem sido adquiridos antes.

Starling lembrou ainda que o país teve, no começo de 2021, a disseminação da variante Gama (P1), mais transmissível e virulenta do que a Alpha, até então predominante.

“Somente agora, no segundo semestre de 2021 podemos ver o efeito real da vacinação nos indicadores epidemiológicos. Estudos de vida real publicados pelo Reino Unido, Israel, UruguaiChile, etc; mostram que as vacinas – todas elas – reduziram em mais de 90% o risco de morte por covid”, completou.

Pesquisadora de Política Científica associada à Unicamp, com trabalho voltado para a covid-19, Sabine Righetti afirmou ao Comprova que a análise tem de ser feita a partir do início da vacinação no país.

“Em abril a gente chegou a 4 mil mortos por dia, com uma média móvel aí de mais de 3,5 mil. De lá pra cá, com a aceleração da vacinação, a tendência de queda de mortos tem se mantido, nunca foi revertida, mesmo com as variantes”, disse a pesquisadora, fundadora da Agência Bori.

O mês de abril de 2021 foi o mais letal da pandemia no Brasil. Foi encerrado com média móvel de mortos superior a 2,5 mil, com 82.401 óbitos. A média móvel é o cálculo por meio do qual é possível analisar com mais precisão os movimentos da curva de infectados ou mortos, se ascendente ou decrescente.

Consiste na soma do número de casos ou de mortos dos sete dias anteriores. O resultado da soma deve ser dividido por sete. Não são os óbitos ocorridos na semana os que entram na operação matemática, mas os que foram registrados no sistema no decorrer da semana.

Em 30 de abril, o esquema vacinal havia sido completado em 15.677.543 pessoas, isto é, em 7,40% da população brasileira.

Para que um resultado coletivo favorável contra o vírus seja atingido, especialistas citam uma cobertura vacinal entre 80% e 90%, como mostra esta reportagem do UOL. “Só assim a gente terá uma prevenção de casos moderados e graves, o que tornará a doença algo possível de conviver”, projetou em janeiro Melissa Palmieri, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) em São Paulo.

As vacinas funcionam

Números do Consórcio de Veículos de Imprensa e do site Our World in Data mostram que a curva de mortos pela covid-19 caiu na medida em que a vacinação avançou no Brasil. É uma relação de causa e consequência possível de ser estabelecida, como afirmou Leonardo Weissmann e ao contrário do que sugeriu Constantino.

Em 25 de outubro, a média móvel de mortes diárias por covid-19 no país estava em 338, segundo dados do Consórcio de Veículos de Imprensa. Já o Our World in Data demonstra que a taxa de vacinação contra a covid estava, em 24 de outubro (último dado disponibilizado, até a publicação desta checagem), em 53,97%. Outros 20,08% da população tomaram uma dose do imunizante.

No país, onde há maior recusa de aplicação das vacinas, o número de internados por covid-19 tem sido elevado. Em uma matéria publicada em 30 de setembro, o UOL mostrou que, no Rio de Janeiro, 94,5% dos internados em um hospital de referência eram pessoas não vacinadas.

Um total de 206 pessoas entre os 218 internados com o vírus no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla não foram imunizados. Desse grupo, 12 hospitalizados haviam tomado ao menos uma dose da vacina. As informações foram repassadas ao portal de notícias pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

O cenário se repete nos Estados Unidos: o número de casos e mortes tem aumentado nos estados com as menores taxas de vacinação.

Como mostrou uma verificação anterior, feita pelo UOL Confere, dados da Universidade Johns Hopkins utilizados pelo monitoramento do site Our World in Data sobre o avanço da covid-19 entre março de 2020 e outubro de 2021 nos Estados Unidos comprovam que o avanço da imunização gerou queda no número de mortes pela doença entre janeiro — que foi o pico de casos no país — e julho deste ano.

O autor

O Comprova entrou em contato com Rodrigo Constantino. O economista respondeu que “publicou um dado oficial” e que “deixou perguntas sobre qual a explicação para tal fenômeno no ar”.

Em seguida, o comentarista da Jovem Pan expôs a repórter do Comprova no Twitter, por meio do compartilhamento das mensagens trocadas na apuração das informações aqui checadas, mas sem incluir a íntegra da mensagem enviada.

100 milhões de vacinados no Brasil

O Brasil alcançou a marca de 100 milhões de pessoas totalmente vacinadas em 13 de outubro deste ano, de acordo com dados levantados pelo consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL, a Folha de S. Paulo, o Estadão, o G1, o O Globo e o Extra fazem parte.

Naquela altura, o país passou a integrar a lista de nações mais populosas a ultrapassar a marca. Os Estados Unidos, a Índia e a China também haviam completado o esquema de vacinação em mais de 100 milhões de pessoas, segundo dados do Our World in Data e de veículos internacionais de imprensa.

O número foi alcançado 58 dias após a marca de 50 milhões de pessoas com o esquema de imunização completo, que ocorreu no dia 16 de agosto.

No dia em que o país atingiu a marca de imunizados, 201 novas mortes por covid-19 foram registradas. Ao todo, o Brasil notificou 605.884 óbitos por conta da doença desde o início da pandemia até o dia 25 de outubro de 2021.

São Paulo registrava mais de 100 mortes diárias e na data em que houve o recorde foram notificados apenas nove. No mesmo momento, os estados do Acre, Amapá, Ceará, Rondônia e Roraima não registraram nenhum óbito.

Ao todo, 18 estados apresentam queda e sete, alta. O Distrito Federal e o Ceará apresentaram estabilidade. O dado foi comparado com o mesmo índice de 14 dias anteriores.

A variação do Brasil está pelo quarto dia seguido em queda: o índice ficou em -41%. Se ficar abaixo de -15%, indica tendência de queda; acima de 15%, aceleração; entre esses dois valores, estabilidade.

POR QUE INVESTIGAMOS?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O post verificado foi compartilhado originalmente no Twitter e alcançou mais de 15,4 mil interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos.

Publicações enganosas como esta colocam a saúde da população em risco ao sugerir que a vacinação contra a covid-19 é dispensável. A eficácia e a segurança dos imunizantes já foram comprovadas em estudos de órgãos nacionais, como a.Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e internacionais.

É por meio da imunização que os números de casos e óbitos da doença têm caído. Além da repercussão, a postagem torna-se nociva por partir de uma pessoa de visibilidade, capaz de formar opinião de outras pessoas sobre assuntos diversos. Dessa maneira, o tuíte acaba sendo considerado por pessoas que o têm como autoridade.

Outras verificações desmentem boatos da internet como essa, ligada à vacina, como a de um deputado do Paraná que afirma que teste de anticorpos podem substituir os imunizantes e a de um tuíte que engana ao dizer que a vacina da Pfizer tem partículas contaminantes.

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Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

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