Phillippe Watanabe
SHARM EL-SHEIKH, EGITO - Você já imaginou como é estar em uma conferência da ONU para mudanças climáticas, as cada vez mais conhecidas COPs, onde líderes e técnicos de todo o mundo se reúnem para tentar decidir como será o futuro do planeta e o nosso?
Então imagine filas em quase todo canto, uma certa dificuldade para conseguir água e disputa mesmo para comprar comida a preços caros. Afinal, são mais de 20 mil pessoas tentando comer e beber no meio de um deserto. Para complementar, um fluxo de esgoto passando entre os pavilhões do evento.
Enquanto o resto vem ocorrendo basicamente desde o início da COP27, conferência no Egito que começou no domingo (6), por sorte, o esgoto vazando foi um malcheiroso momento pontual da quarta-feira (9) na conferência.
Olhando rápido, poderia até parecer que o pequeno córrego, formado no fim da tarde de quarta, era de águas limpas. A equipe egípcia da COP também não esclarecia a origem do estranho fluxo.
O que fazia parte das pessoas parar e prestar atenção na água que atravessava a entrada de um dos pavilhões era a aglomeração de participantes do evento buscando alguma forma de atravessar sem molhar os sapatos -o cheiro chegava um pouco depois.
Um caminho feito com três lajotas foi improvisado por funcionários para que as pessoas, equilibrando-se, pudessem cruzar o riozinho de esgoto. Um estrado de madeira também ajudou em outro trecho. Alguns desavisados, no entanto, acabaram com os pés molhados.
Por fim, um funcionário da COP usou um rodo para fazer o fluxo de água suja andar mais rápido meio-fio abaixo.
Esse, até o momento, foi o exemplo máximo de uma conferência climática que vem enfrentando diversos problemas de organização, um contraste curioso com a vigilância -inclusive sobre a internet, com bloqueio de sites- que cerca o evento e a realidade cotidiana egípcia.
A Folha de S.Paulo procurou a organização da COP27 para comentar os problemas, mas não houve retorno até a publicação do texto.
Até mesmo nos hotéis da cidade turística que sedia a COP27 há um intenso controle, com pessoas que se apresentam como representantes do governo perguntando sobre nacionalidade, número do quarto e questionando para onde os hóspedes vão quando estão saindo do edifício pela manhã — é possível notar, inclusive, que quem aborda possui, em seu celular, imagens de passaportes.
Ao menos no local onde a reportagem da Folha de S.Paulo está hospedada, os seguranças que ficam na portaria, com auxílio de um cabo e um espelho, conferem até a parte de baixo dos carros que querem entrar.
Nos pavilhões do evento, as filas para comida, refrigerante e café se espalham pelos espaços abertos e com relativamente poucas sombras. Quando a vez das pessoas finalmente chega para fazer o pedido, os preços são elevados.
Em geral, o evento começou com cardápios a mais de US$ 10 (cerca de R$ 53) para sanduíches ou pedaços de pizza e quiche. As opções incluem sabores com carne e também veganos.
Algumas melhorias, contudo, vieram a partir desta quinta (10), quando os estandes de comida passaram a oferecer todos os itens com descontos de 50%, caso o cliente solicite.
Além disso, os espaços começaram nesta quinta a entregar gratuitamente água e refrigerantes — vale destacar que a Coca–Cola é patrocinadora da COP27 (o que chegou a levantar críticas de ambientalistas).
Há ainda como recorrer a pavilhões do evento onde é possível encontrar cafés gratuitos, por conta de países e patrocinadores de estandes. Nesses locais, curiosamente, as filas parecem menores e mais rápidas.
Por vezes, também é possível pegar água de graça em bebedouros. A falta de abastecimento, porém, é frequente. Até mesmo em partes com menos circulação de gente, a água acabou e demorou a retornar nos últimos dias.
Na sala destinada à imprensa, por exemplo, já houve momentos em que não havia água para reabastecer as garrafas de vidro reutilizáveis dadas pela organização da COP.
Além das filas para comida, nos horários de movimentação intensa para a saída no fim do dia, formam–se filas de carros, táxis e ônibus. Mais longe da conferência, há momentos em que o trânsito chega a assustar, considerando a velocidade com que alguns motoristas andam e fazem manobras repentinas — acidentes parecem não acontecer por sorte.
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