As declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enquadrando o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, não surpreenderam a equipe da pasta.
Segundo auxiliares do ministro ouvidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo", a leitura é de que o presidente tenta se afastar de responsabilidades na crise envolvendo a pandemia do coronavírus para jogar no colo de Mandetta e dos governadores os efeitos negativos na economia.
A ordem interna é não rebater e seguir o trabalho de combate à covid-19, a exemplo do que tem feito o próprio ministro. Demissão também está fora do horizonte de Mandetta e de sua equipe, exceto se Bolsonaro mandar.
Após dias contrariando publicamente as orientações do ministro sobre a melhor forma de evitar a propagação do vírus, o presidente disse nesta quinta-feira (02) que falta humildade ao ministro e, embora tenha afirmado que não pretende dispensá-lo no meio da guerra, ressaltou que ninguém é indemissível em seu governo.
O protagonismo do auxiliar diante da crise envolvendo a pandemia do coronavírus já vinha incomodando o presidente há algum tempo.
O Mandetta já sabe que a gente está se bicando algum tempo. Eu não pretendo demitir o ministro no meio da guerra. Agora, ele é uma pessoa que em algum momento extrapolou. Eu sempre respeitei todos os ministros, o Mandetta também. Ele montou o ministério de acordo com sua vontade. Eu espero que ele dê conta do recado, disse Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan.
Questionado sobre as declarações, Mandetta respondeu: "Trabalho, lavoro, lavoro", repetindo a palavra que significa "trabalho" em italiano.
As críticas de Bolsonaro ao trabalho da pasta já não têm o mesmo impacto. A avaliação interna no ministério é de que o presidente deve cessar os ataques quando "a realidade se impuser", possivelmente quando for registrado o pico de casos da covid-19 no País. Segundo estimativas da Saúde, isso deve ocorrer ainda em abril.
A principal divergência entre Bolsonaro e Mandetta é sobre a questão do isolamento social. Enquanto o presidente defende flexibilizar medidas como fechamento de escolas e do comércio para mitigar os efeitos na economia do país, permitindo que jovens voltem ao trabalho, Mandetta tem mantido a orientação para as pessoas ficarem em casa.
A recomendação do ministro segue o que dizem especialistas e a Organização Mundial de Saúde (OMS), que consideram o isolamento social a forma mais eficaz de se evitar a propagação do vírus.
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