Em frente ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, zona norte do Rio, é intensa a movimentação de policiais e de familiares dos mortos durante uma operação que matou ao menos 21 pessoas. Por volta das 13h30, uma kombi chegou à unidade trazendo o corpo de um jovem coberto por um lençol.
Cristino Valle Brito, da OAB-RJ, estava acompanhando a retirada do corpo e disse que o jovem chegou a pedir ajuda para ser encaminhado ao hospital, mas morreu a caminho da unidade.
"Infelizmente, eles [os policiais] não estão fazendo o socorro dos mortos e dos alvejados. A gente está pedindo um cessar-fogo, ao menos temporário, para socorrer feridos e retirar corpos", afirmou.
Valle Brito diz que o jovem foi baleado na região conhecida como Terra Prometida, na parte alta da Vila Cruzeiro, favela do complexo da Penha onde ocorreu a ação policial. Ainda de acordo com ele, existem outros corpos na comunidade. "Os corpos estão distribuídos na mata e em locais de difícil acesso."
Por volta das 14h15, o corpo de mais uma pessoa chegou ao hospital. Quinze minutos depois, um carro branco trouxe um homem ferido. Enquanto era colocado em uma maca, familiares gritavam em protesto, dizendo que a polícia havia feito uma covardia na comunidade e que as pessoas não podiam ser tratadas como bichos.
Mais cedo, por volta das 13h, uma viatura da Polícia Rodoviária Federal chegou ao hospital trazendo duas pessoas feridas, um homem e uma mulher - ela consciente, ele desacordado. Os tiros na comunidade começaram ainda de madrugada, continuavam na tarde desta terça e podiam ser ouvidos do hospital Getúlio Vargas. Segundo a assessoria da unidade, o total de mortos já chega a 20 pessoas, além de 7 feridos.
A conta não inclui uma moradora identificada como Gabrielle Ferreira da Cunha, 41. Segundo a Polícia Militar, ela foi baleada na localidade conhecida como Chatuba, comunidade vizinha à Vila Cruzeiro, durante o confronto. A corporação diz que os demais mortos são criminosos. Assim, no total, são 21 mortos no total.
Às 14h40, mais um corpo chegou em meio a gritos de revolta da família. Uma jovem dizia que não aceitava a morte do irmão e que haviam acabado com a vida dele.
Segundo a PM, a operação desta terça foi feita em conjunto com Polícia Rodoviária Federal e tinha como objetivo localizar e prender lideranças criminosas que estariam escondidas na comunidade, inclusive vindos de outros estados, como Alagoas, Bahia e Pará.
No início da tarde, os parentes das vítimas estavam reunidos em frente ao Hospital Getúlio Vargas. Muito emocionados, eles não quiseram falar com a reportagem.
Por volta das 12h, um policial civil ferido chegou à unidade no banco traseiro de uma viatura. O agente estava com o rosto ensanguentado e foi levado às pressas para dentro do hospital. De acordo com informações da polícia, ele teria sido atingido pelos estilhaços de um projétil no nariz quando fazia a perícia na comunidade.
No começo da tarde, o delegado Alexandre Herdy, titular da Delegacia de Homicídio, esteve no hospital e disse que a equipe foi atacada enquanto fazia a perícia.
" Ao chegar ao local, as equipes foram encurraladas e surpreendidas por disparos vindos do alto da mata e do morro. Não houve possibilidade de reação", disse ele, acrescentando que o agente foi atingido no nariz por estilhaços.
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