O consórcio internacional Covax prevê que o Brasil receba apenas 1,6 milhão de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford no primeiro trimestre deste ano, e 6 milhões no segundo trimestre. Dos 10.672.800 de doses alocadas para o país no primeiro semestre, cerca de 3 milhões serão adiadas para o segundo semestre, de acordo com documento publicado nesta quarta (3).
A estimativa, bem abaixo dos de 10 milhões a 14 milhões de doses que o Ministério da Saúde afirmou esperar no sábado (30), reflete dificuldades de autorização, produção e distribuição que têm afetado campanhas de vacinação em vários lugares do mundo. Novos cortes ou adiamento nos prazos não estão descartados, alertou a Covax.
Para ser distribuído pelo consórcio, um imunizante precisa ter recebido autorização do departamento de vacinas da OMS, o que ainda não ocorreu com o produto da AstraZeneca. A empresa não enviou ainda todos os dados necessários, de acordo com o balanço mais recente da entidade, e a autorização não é esperada para antes da segunda metade de fevereiro.
Além dessa regulação, há exigências burocráticas envolvendo a transferência da vacinas do consórcio para os países, que, segundo Ann Lindstrand, coordenadora de programas de vacinação da OMS, são complexas e levam algum tempo para serem cumpridas.
Fora as questões regulatórias, a chegada das vacinas depende também da capacidade de produção --os imunizantes que a Covax mandará para o Brasil virão de uma unidade na Coreia do Sul-- e da oferta de transporte.
Na segunda (1º), a diretora do departamento de imunizantes da OMS, Mariângela Simão, alertou sobre "gargalos na produção de vários fabricantes" e sobre o risco de que "os volumes sejam menores que os esperados".
Para todos os países que, como o Brasil, receberão doses da fábrica sul-coreana, o documento publicado nesta quarta ressalva que 15% do volume está previsto para o primeiro trimestre, 56% para o segundo trimestre e o restante, até o final do ano.
A Covax é uma iniciativa global promovida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e coordenada pela Aliança Gavi para facilitar o acesso de países a vacinas contra Covid-19. O acordo do Brasil na Covax prevê 42,5 milhões de doses até o fim de 2021.
No documento divulgado nesta quarta estão as previsões para a distribuição de 336 milhões de doses da AstraZeneca (240 milhões licenciados para o indiano Instituto Serum e 96 milhões entregues diretamente pelo laboratório) e de 1,2 milhão de doses da Pfizer/BioNTech, entre 145 países.
Embora a quantidade de vacinas da Pfizer seja muito abaixo dos 40 milhões contratados pelo consórcio, elas já podem começar a ser distribuídas, pois já foram aprovadas para uso emergencial pela OMS. Mas o Brasil não encomendou esse imunizante na Covax.
No total, as doses da previsão divulgada hoje cobrem, em média, 3,3% da população dos participantes --a meta da Covax era de ao menos 3% da população no primeiro semestre, o que seria suficiente para proteger os grupos mais vulneráveis, com prioridade para profissionais de saúde.
Seth Berkeley, principal executivo da aliança global por vacinação Gavi, disse que o número de doses distribuídas no primeiro semestre precisou ser reduzido por causa de atrasos sucessivos na aprovação e fabricação.
Acelerar a vacinação, contudo, é cada vez mais urgente, segundo Frederik Kristensen, principal executivo da coalizão para inovação e controle de epidemias Cepi, por causa do risco de variantes menos suscetíveis aos imunizantes.
"Se houver muitos vírus circulando, haverá mais mutações. Precisamos controlar o quanto antes a pandemia", disse ele.
Na última semana, ensaios clínicos feitos pela Novavax mostraram um nível de proteção abaixo de 50% contra a variante encontrada na África do Sul, chamada B.1.351 -para o coronavírus original, a eficácia é de quase 90%.
A mesma disparidade ocorreu nos ensaios da Janssen: a proteção contra o surgimento da doença, incluindo casos moderados e graves, foi de 66%, subindo a 85% contra quadros graves. Na África do Sul, porém, a taxa caiu para 57%.
Mesmo notícias mais favoráveis, como os testes que mostraram boa eficácia da Pfizer e da Moderna contra a variante encontrada no Reino Unido (B.1.1.7) podem acabar sendo anuladas se as mutações forem mais rápidas que as campanhas de vacinação: nesta terça, cientistas divulgaram a descoberta, em amostras de B.1.1.7, da mutação que torna a B.1.351 mais resistente.
Kristensen disse que a Cepi já está em contato com os diferentes desenvolvedores de vacina para desenhar adaptações necessárias para combater variantes mais resistentes do coronavírus.
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