O Ministério da Saúde informou nesta quinta-feira (3) que, caso haja mais disponibilidade de doses de vacina contra a Covid-19, pode ampliar o seu plano inicial para imunizar outros grupos, com prioridade para a manutenção de serviços essenciais.
A pasta, no entanto, também afirmou que as crianças não estão previstas na estratégia para a vacinação contra o novo coronavírus.
Nesta semana, o Ministério da Saúde divulgou um plano preliminar de vacinação contra a Covid-19, que será dividido em quatro fases. Essas etapas vão atingir 109,5 milhões de pessoas, nas estimativas do ministério, ou 51,4% da população do país
A previsão é que a vacinação comece em março, abrangendo inicialmente os idosos a partir dos 75 anos - ou 60, desde que residam internamente em asilos ou instituições psiquiátricas -, indígenas e profissionais da saúde. Serão vacinados cerca de 13 milhões de brasileiros, ou em torno de 6% da população.
A segunda etapa vai atingir idosos com idade de 60 a 74 anos.
A terceira prevê a imunização de pessoas com doenças (como as cardiovasculares) que elevam o risco de agravamento da Covid-19.
A quarta e última etapa deve abranger professores, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e a população privada de liberdade.
Em entrevista online à imprensa, representantes da pasta afirmaram que o plano apresentado mirou inicialmente a situação epidemiológica, levando em consideração os óbitos e o risco de agravamento da doença e também os grupos mais expostos ao vírus.
Caso haja maior disponibilidade de vacinas, esse plano será ampliado para incluir outros grupos, dando preferência para a manutenção dos chamados serviços essenciais.
"A partir do momento que se tem mais vacinas licenciadas, que se tem mais quantitativos disponíveis, há de se pensar, sim, e se planejar a inserção de novos grupos, principalmente no que diz respeito à manutenção dos serviços essenciais do país", afirmou Francieli Fantinato, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações.
Em março, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) publicou um decreto no qual especificou quais seriam os serviços essenciais, que estariam autorizados a atuar no início da pandemia do novo coronavírus, quando houve medidas mais rigorosas de distanciamento social.
Estavam previstas inicialmente 52 áreas de atuação, como saúde, serviços de atendimento à população vulnerável, inspeção de alimentos, fiscalização ambiental, controle aéreo, produção de petróleo, serviços de telemarketing.
O presidente causou controvérsia ao incluir posteriormente academias de ginástica e salões de beleza.
Em relação à não inclusão de crianças, o ministério afirmou que esse grupo não é considerado de risco. A pasta também afirmou que não há estudos que comprovem a eficácia de vacinas em crianças.
"Nenhum país do mundo tem estudos que mostrem a utilização de vacinação na faixa etária pediátrica. Até onde eu saiba, a gente não viu nenhum trabalho que mostre ou nenhuma desenvolvedora que tenha colocado [vacina] na fase 3 nessa faixa etária. Nós não temos dados em relação a essa questão", disse o secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Arnaldo Medeiros.
Medeiros também foi questionado a respeito da possibilidade de autorizações para uso emergencial de uma vacina contra a Covid-19 - conforme anunciado ontem pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Mais especificamente, ele foi indagado sobre se estados brasileiros poderiam iniciar a vacinação, à parte do governo federal. Nesta quinta, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) disse que a imunização no estado começaria em janeiro.
Medeiros não respondeu claramente, mas indicou que a vacinação emergencial ficaria a cargo do Programa Nacional de Imunização.
"Havendo uma autorização emergencial pela Anvisa, se for incorporada [uma vacina] ao programa nacional de imunização, a estratégia será do Programa Nacional de Imunização", afirmou.
O secretário de Vigilância em Saúde também afirmou que a pasta está investindo nas redes de frio para armazenamento de vacinas e que pode ainda melhorar sua estrutura para receber vacinas que necessitem de condições especiais, como a da Pfizer, que precisa ser armazenada a -70ºC.
Na quarta-feira, o Reino Unido se tornou o primeiro país ocidental a aprovar uma vacina em regime emergencial, justamente a produzida pela empresa americana. O país deve disponibilizar 800 mil doses da vacina a partir da próxima semana para a sua população.
"O Ministério hoje tem um quantitativo extremamente importante de salas de vacinação, 38 mil salas de vacinação espalhadas pelo país, mais 52 Cries [centros de referência de imunobiológicos especiais]. Então, na verdade, temos uma capilaridade muito grande", disse
"A Secretaria e o Ministério da Saúde investiram R$42 milhões na aquisição de novas câmaras refrigeradas para toda a rede de frio espalhadas pelo país inteiro. Estamos, sim, avaliando a disponibilidade [de uma rede de frio para atender vacinas específicas] e investindo cada vez mais na capacidade de estocagem e armazenamento do nosso país", disse.
Medeiros também comentou o aumento no número de novos casos de infecção pelo novo coronavírus nas últimas semanas. O secretário falou que não se trata de uma "segunda onda" da pandemia e atribuiu essa elevação dos números ao "relaxamento" das recomendações das autoridades de saúde por parte da população.
"Estamos analisando essa questão, mas a gente verifica que, talvez, nas últimas semanas, houve um relaxamento das recomendações que sempre fizemos aqui: higienização, uso continuado da máscara, evitar aglomeração, distanciamento mínimo entre as pessoas, de no mínimo um metro com máscara, um pouco mais sem máscara, etiqueta respiratória, a higienização das superfícies", disse.
"É fundamental para que a gente possa diminuir a transmissibilidade da doença, enquanto não tivermos efetivamente uma vacina de eficácia e segurança comprovada, ou nenhum retroviral que tenha se mostrado seguro e eficaz, com relação ao vírus, que nós mantenhamos as recomendações da chamada etiqueta respiratória", completou.
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