Em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (18), o ex-chanceler Ernesto Araújo disse que tinha conhecimento da carta enviada ao governo brasileiro em setembro do ano passado pela Pfizer, na qual o CEO da empresa, Albert Bourla, alertava que havia uma proposta de venda de vacinas ao Ministério da Saúde, sem resposta por parte do Brasil. Araújo relatou que "talvez" no dia 14 de setembro, dois dias após o envio da correspondência, foi informado sobre o documento pelo embaixador do Brasil para os Estados Unidos, Nestor Foster, um dos destinatários da carta.
"Embaixador fez telegrama informando sobre esse documento", disse. Segundo ele, o telegrama mencionava que a carta já era de conhecimento direto do Ministério da Saúde, a quem caberia a "centralização da estratégia de vacinação", afirmou Araújo, segundo quem ninguém do governo o procurou para tratar da carta.
O ex-ministro disse que não repassou a oferta da Pfizer ao presidente Jair Bolsonaro por entender que seria redundante, uma vez que pressupunha que o presidente já tivesse conhecimento. "Eu não era destinatário da carta", disse Araújo. "Eu tive conhecimento do tema e o telegrama de Washington também esclarecia que a própria embaixada em Washington havia antecipado o assunto para a assessoria internacional do Ministério da Saúde", completou.
O ex-ministro foi questionado sobre o fato de a carta da Pfizer ter ficado dois meses sem resposta do governo brasileiro, e respondeu não saber o que pode ter motivado esse atraso.
A carta foi levada à CPI pelo ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, que revelou o fato de a correspondência ter ficado sem resposta até sua iniciativa de contatar a Pfizer. O episódio foi confirmado à CPI pelo gerente-geral da farmacêutica na América Latina, Carlos Murillo.
Depois de se contradizer em relação às demandas do presidente Jair Bolsonaro na pandemia, o ex-chanceler Ernesto Araújo disse que, nas reuniões ministeriais dais quais participou, a compra de vacinas para a covid-19 não era discutida especificamente. A exceção foi o encontro que ocorreu em fevereiro ou março deste ano, quando se teria debatido o contato de Bolsonaro com a Pfizer.
"Com exceção em março ou fim de fevereiro onde se decidiu que o presidente faria contato com presidente da Pfizer para obtenção da vacina da Pfizer. Foi reunião onde o presidente disse 'sim, quero falar com o presidente da Pfizer'", relatou Araújo.
Os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacaram a demora do assunto vir à tona nas reuniões ministeriais, lembrando que a farmacêutica enviou carta a Bolsonaro em setembro do ano passado falando de uma oferta feita ao Ministério da Saúde que continuava sem resposta.
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