SÃO PAULO - O médico Walter Correa de Souza Neto disse na CPI da Covid, nesta quinta-feira (7) que os profissionais trabalhavam sobre pressão para usar tratamento não eficaz no combate à Covid na Prevent Senior e ainda denunciou diversas fraudes dentro da operadora. Ele ainda deve ser questionado se trabalhou mesmo estando infectado pelo novo coronavírus.
Questionada, a defesa do profissional não esclarece se ele foi ou não trabalhar sabendo que estava infectado pelo novo coronavírus.
"O Dr. Walter prestará todos os esclarecimentos necessários dentro do contexto da pergunta", disse a advogada Bruna Morato, que representa os médicos, em mensagem enviada por WhatsApp.
O senador Marcos Rogério (DEM-RO) confirmou à coluna que recebeu a informação, não confirmada, de que Walter foi trabalhar infectado. E afirmou que fará a pergunta ao médico, para que ele esclareça se isso de fato ocorreu.
O médico pediu, e obteve, um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) que garante a ele o direito de ficar em silêncio para não se autoincriminar no depoimento à CPI.
Em resposta a Renan Calheiros (MDB-AL), durante o depoimento na CPI, Souza Neto disse que não sabe a razão de não constar Covid-19 no atestado de óbito de Regina Hang. Ela era mãe do empresário Luciano Hang e ficou internada no hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior.
Ele ainda explicou que o motivo da morte de Anthony Wong foi de fato omitido. Segundo o médico Walter Correa de Souza Neto, seria ruim para a política da empresa que todos soubessem que Wong — um pediatra e toxicologista se notabilizou por defender o "tratamento precoce" — morreu de covid-19. A testemunha, que trabalhou na empresa por 7 anos, negou ainda ter tido acesso ao prontuário da vítima de forma ilegal.
O médico Walter Correa de Souza Neto explicou que o modelo de acolhimento da Prevent Senior era "absolutamente inadequado, talvez em alguns momentos até criminoso”. Segundo ele, o atendimento era feito por enfermeiros, que tinham acesso ao sistema de prontuários através da conta dos médicos.
"A imposição da empresa pela agilidade induzia os médicos as vezes a simplesmente deixar o atendimento a cargo do enfermeiro e ficar rodando os consultórios para carimbar e assinar. Alguns colegas chegavam ao absurdo de fazer carimbos extras e deixar com os enfermeiros.
O médico Walter Correa de Souza Neto relatou que a falta de autonomia dos profissionais na Prevent Senior era tanta que não tinham autonomia nem para proteger a própria vida. Ele contou que, em certa ocasião, no início da pandemia, chegou a ser obrigado a retirar a máscara para não assustar os pacientes.
Segundo o médico, a ordem partiu da Dra. Paola, a mesma que havia dito "prescreva cloroquina pra quem espirrar. Espirrou, dá cloroquina nele", numa troca de mensagens apresentada à CPI pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) na reunião de ontem.
Walter Correa de Souza Neto disse que os médicos da Prevent Senior sabiam que o tratamento de pacientes da covid-19 com hidroxicloroquina não trazia os resultados prometidos e divulgados pela direção da operadora de saúde. Ele classificou como “fraude” o estudo desenvolvido pela empresa para justificar a prescrição da droga.
"Essa coisa de que ninguém vai a óbito e ninguém intuba, isso já era muito claro: a gente sabia que era fraude. Além de o estudo ser muito ruim já quando foi publicado em abril, eu internava paciente que havia tomado o kit. Eu acompanhava esse paciente depois pelo prontuário durante a internação e via esses pacientes irem a óbito. Mas eles [Prevent Senior] continuaram fazendo essa política de 'evangelização' de prescrever a medicação e às vezes induziam os médicos ao erro também", afirmou.
Com informações da Agência Folha e do Senado
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