A cúpula da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid decidiu realizar uma sessão secreta com o ex-governador do Rio Wilson Witzel e quebrar os sigilos telefônico e fiscal de organizações sociais pagas para administrar hospitais no Rio de Janeiro. Os requerimentos serão pautados na sexta-feira, 18, conforme decisão anunciada pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).
Witzel foi à CPI, nesta quarta-feira, 16, mas desistiu de falar e encerrou o depoimento após um bate-boca com os senadores Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e Jorginho Mello (PL-SC), aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O governador prometeu revelar fatos gravíssimos que comprovam a interferência do governo federal na gestão estadual do Rio e desvios de recursos da saúde do Estado por meio das organizações sociais que administram os hospitais.
Durante o depoimento, Witzel disse que os hospitais federais no Rio "têm um dono", sem citar nomes. Ele foi afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e sofreu um processo de impeachment por acusações de desvios nos recursos da saúde. "Você imagina o quanto é preocupante um depoente vir dizer que essa rede tem um dono permanente a se beneficiar dela", afirmou o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), em entrevista coletiva. Para ele, com a presença de Flávio Bolsonaro e de deputados bolsonaristas na comissão, o depoimento do ex-governador "permitiu um reencontro da CPI com a milícia".
Flávio Bolsonaro acusou Witzel de fazer palanque político na comissão e de fugir na hora de responder sobre as acusações das quais é alvo. Nas redes sociais, após a sessão da comissão do Senado, o filho do presidente Jair Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo citando perguntas que faria ao ex-governador. Ele acusou a cúpula da CPI de promover um "jogo combinado" e "passar a mão na cabeça" de Witzel, livrando o ex-governador de responder o destino das verbas federais enviadas ao Estado. Witzel nega qualquer desvio.
A CPI vai ouvir nesta quinta-feira, 17, o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Marques, autor de um estudo paralelo que questionou o número de mortes por covid-19 no País e foi usado por Bolsonaro, sendo desmentido pelo próprio TCU. Para o mesmo dia, a comissão pautou o depoimento do empresário Carlos Wizard, que está fora do Brasil e pediu para ser ouvido de forma virtual - pedido negado pela CPI.
Os senadores não esperam a presença de Wizard amanhã. A cúpula da comissão decidiu pedir a apreensão do passaporte do empresário até que ele compareça no Senado. A medida depende de autorização judicial. O convocado é apontado como integrante do gabinete paralelo que assessorou o presidente Jair Bolsonaro na pandemia do novo coronavírus. "Ele não vem amanhã", afirmou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, ao falar da medida. O presidente da comissão, Omar Aziz, ironizou a ausência de Wizard: "espero que ele pegue um avião e venha amanhã".
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