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Crise com demissão de general em 1977 foi marco da ditadura militar

Crise com demissão de general em 1977 foi marco da ditadura militar

O então ministro do Exército, Sylvio Frota, foi demitido pelo presidente Ernesto Geisel, um episódio que marcou os anos finais do regime iniciado em 1964

Publicado em 30 de março de 2021 às 19:17

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Ditadura
O ministro do Exército, Sylvio Frota, foi demitido em 1977 pelo presidente Ernesto Geisel . (Arquivo Nacional)

Lembrada como uma crise institucional de dimensão comparável à atual, do governo Jair Bolsonaro, a demissão do então ministro do Exército, Sylvio Frota, em 1977 pelo presidente Ernesto Geisel foi um marco dos anos finais da ditadura militar. O choque entre os dois generais naquele ano opunha as duas principais alas do regime: a política da abertura "lenta, gradual e segura", anunciada por Geisel em 1974, e o grupo linha-dura, representado por Frota, que rejeitava a possibilidade de entregar o poder a civis.

Frota ocupava um posto de relevância extrema em um governo tocado por militares. Na época, não havia Ministério da Defesa, e o comandante de cada Força tinha status de ministro  — situação que perdurou até 1999.

O ministro do Exército se movimentava para se candidatar à Presidência da República em eleição indireta, prevista para 1979, e divergia de Geisel, por exemplo, em relação ao afastamento do comandante do 2º Exército, em 1976, após a morte do operário Manoel Fiel Filho nas dependências de uma unidade.

Geisel tomou a iniciativa de demiti-lo em 12 de outubro de 1977. Cercou-se de precauções para evitar um levante de oficiais alinhados ao ministro, como avisar com antecedência os militares fiéis e a escolha da data do feriado, que tornaria mais difícil uma resposta.

Segundo conta o jornalista Elio Gaspari no livro "A Ditadura Envergonhada", em uma reunião de cinco minutos, o presidente disse ao ministro que não estava sendo cumprido o que haviam combinado e afirmou que precisava que ele se demitisse.

Frota se recusou a sair, e Geisel respondeu: "O cargo de ministro é meu, e não deposito mais em você a confiança necessária para mantê-lo. Se você não vai pedir demissão, vou exonerá-lo".

O ministro ainda tentou, em reação, convocar uma reunião do alto comando contra o presidente. Não conseguiu. Deixou o posto lançando um manuscrito de oito páginas em que falava na "deformação e no abandono dos objetivos da Revolução".

Criticou o "capitalismo de Estado" do governo e mencionou a ameaça das "pesadas algemas do totalitarismo marxista" e a complacência com a "infiltração comunista" na imprensa e no próprio governo.

Na sequência, Geisel promoveu uma reformulação de postos militares, com dezenas de trocas em cargos de comando. Ainda assim, os comandantes da Marinha e da Aeronáutica permaneceram em suas funções, diferentemente do ocorrido agora no governo Bolsonaro.

Geisel entregou o poder em 15 de março de 1979 a seu escolhido, João Baptista Figueiredo, o último dos generais do regime, que se encerrou em 1985.

O ex-ministro do Exército escreveu posteriormente o livro "Ideais Traídos" com a sua versão dos acontecimentos.

Geisel é apontado no relato como traidor e chefe de um "governo de centro-esquerda", pelo reconhecimento da comunista República Popular da China, e por supostamente desmantelar a segurança interna. Foi aquela a presidência responsável pela revogação do AI-5 (Ato Institucional nº5), o mais duro dos instrumentos da ditadura.

Frota também afirmou no livro que, como ministro do Exército, devia atuar como representante da Força junto ao presidente, e não como "um delegado deste na instituição". O ex-ministro se disse traído pelos demais generais, a quem entendia que deviam obediência e ele, e não ao presidente.

Disse que as "revoluções" — terminologia que militares usam para se referir à ditadura — "não têm prazos e somente se exaurem com a integral concretização de seus objetivos". Frota morreu em 1996, aos 86 anos, pouco mais de um mês após a morte de Geisel.

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