A maioria da população considerou justa a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no início de novembro, aponta a mais recente pesquisa Datafolha.
De acordo com o levantamento, 54% dos entrevistados entendem que a libertação do petista foi justa, ante 42% que a consideram injusta. Disseram não saber 5% dos entrevistados.
A pesquisa ouviu 2.948 pessoas na quinta-feira (05) e sexta-feira (06) da semana passada em 176 municípios pelo país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Lula deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba no dia 8 de novembro, após cumprir 19 meses da pena por condenação de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP).
O processo ainda tramita, e Lula tem parte da pena pendente.
O ex-presidente pôde voltar à liberdade graças à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que mudou antigo entendimento da corte e considerou inconstitucional a prisão de réus condenados que ainda tenham recursos pendentes em cortes superiores, como é o caso do petista.
Mas Lula permanece, com base na Lei da Ficha Limpa, impedido de disputar eleições.
Na pesquisa, o Datafolha também questionou os entrevistados sobre se eles confiam nas declarações do ex-presidente.
Os que dizem não confiar nunca somam 37%, enquanto outros 25% afirmam que sempre confiam. Afirmam que às vezes têm confiança no que fala o ex-presidente 36%.
O Datafolha também perguntou aos entrevistados sobre o grau de confiança em declarações de Jair Bolsonaro. O resultado foi mais desfavorável ao atual presidente: 43% disseram nunca confiar no que Bolsonaro diz e outros 37% afirmam que às vezes confiam. Disseram confiar sempre 19%.
Há duas semanas, Lula teve confirmada em segunda instância outra condenação, no caso do sítio de Atibaia (SP). A pena foi ampliada para 17 anos e um mês de prisão. Também nesse caso, ele poderá aguardar em liberdade a tramitação dos recursos.
O processo do tríplex já teve mérito julgado no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), de segunda instância, e no STJ (Superior Tribunal de Justiça), que reduziu em abril a pena para oito anos, dez meses e 20 dias de prisão.
A decisão do STF que permitiu a soltura de Lula e de outros condenados na Lava Jato, como o ex-ministro José Dirceu, ocorreu em meio a um ambiente político de contestação à Operação Lava Jato na esteira da revelação de conversas de autoridades envolvidas na investigação, como o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol.
Os diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil e por outros veículos mostraram proximidade entre o então juiz e os procuradores, o que incluiu a indicação de uma testemunha pelo magistrado, a sugestão de ordem de deflagração de fases da operação e a recomendação de troca de uma procuradora em audiência.
A defesa de Lula tenta anular os processos, argumentando que Moro não tinha a imparcialidade necessária para julgá-lo.
O apoio ao ex-presidente, no recorte por faixas da população, é maior entre jovens de 16 a 24 anos e de entrevistados com escolaridade de nível fundamental, faixas em que 61% consideram justa a soltura.
A tendência se inverte nos segmentos de alta renda. A reprovação à libertação chega a 59% entre quem tem renda salarial mensal acima de dez salários mínimos.
Na divisão por regiões, o respaldo ao ex-presidente é maior no Nordeste, onde 71% afirmaram que a libertação é justa.
No Sul e no Sudeste, a corrente que entende que a saída da cadeia é injusta está numericamente à frente, por 49% a 47%, mas dentro do limite da margem de erro.
Na comparação com pesquisas feitas anteriormente pelo Datafolha sobre a prisão do petista, os números indicam uma mudança favorável ao ex-presidente, em que pese a formulação das perguntas ter mudado nesses levantamentos.
Em julho deste ano, já após as primeiras reportagens do Intercept, o Datafolha questionou os entrevistados a respeito da condenação de Lula no caso tríplex. Disseram que a decisão era justa 54%, ante 42% que a consideravam injusta.
Em abril de 2018, logo depois de o ex-presidente ser preso em decorrência da condenação, a prisão também era considerada justa por 54% dos eleitores ouvidos.
Ao mesmo tempo em que mostrou números positivos para o petista, a pesquisa feita neste mês apontou também apoio ao trabalho do ex-juiz Moro, hoje ministro da Justiça de Bolsonaro.
O levantamento o coloca como o mais popular ministro do governo, com avaliação ótima/boa de 53% dos entrevistados. O trabalho do atual presidente é considerado ótimo/bom por 30%.
Após deixar a cadeia, Lula retomou sua rotina de participação em eventos do PT e de declarações sobre a conjuntura política.
O ex-presidente promoveu um ato ao lado da sede da Polícia Federal, em Curitiba, e fez viagens para o Nordeste e para o Rio de Janeiro, nas quais manifestou uma série de críticas a medidas do governo Bolsonaro, principalmente na gestão da economia.
Ao chegar, no dia seguinte à soltura, a São Bernardo do Campo, em São Paulo, seu berço político e onde reside, discursou para militantes, defendeu as manifestações de rua no Chile e afirmou que seu adversário político governa para milicianos.
O ex-presidente Lula também é réu em outras seis ações penais no Paraná, São Paulo e Distrito Federal. Na semana passada, foi absolvido na ação penal do chamado "quadrilhão do PT", no DF, junto com a ex-presidente Dilma Rousseff e os ex-ministros Antonio Palocci Filho e Guido Mantega.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta