> >
De juiz da Lava Jato a superministro: relembre a trajetória de Sergio Moro

De juiz da Lava Jato a superministro: relembre a trajetória de Sergio Moro

Como juiz da Lava Jato, Moro condenou Lula e outras lideranças políticas, abrindo caminho para Jair Bolsonaro surgir como alternativa para a presidência em 2018. Relembre o histórico do ex-ministro

Publicado em 24 de abril de 2020 às 18:10

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Moro em julgamento de Lula: condenação do ex-presidente contribuiu para eleição de Bolsonaro em 2018
Moro em julgamento de Lula: condenação do ex-presidente contribuiu para eleição de Bolsonaro em 2018. (Reprodução)

Ao anunciar sua saída do Ministério da Justiça e Segurança Pública e romper publicamente com o governo de Jair Bolsonaro, o ex-juiz federal Sergio Moro alegou que se demitiu "para preservar sua biografia". Apontando interferências do presidente na direção da Polícia Federal, Moro, que construiu sua imagem como um dos responsáveis e líderes da Operação Lava Jato, deixa o governo criando uma das crises mais agudas no mandato de Bolsonaro.

Responsável pela condenação em primeira instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Moro é magistrado desde 1996. No Paraná, onde construiu sua carreira jurídica, começou a se especializar em crimes financeiros e teve como primeiro grande caso em suas mãos o escândalo do Banestado, entre 2003 e 2007, que apontou para uma evasão de dezenas de bilhões de reais do Banco do Estado do Paraná durante a década de 1990. 

Ele passou a ser figura reconhecida pelos brasileiros a partir de 2014, com a Operação Lava Jato, fortemente inspirada na operação Mãos Limpas, da Itália, que também levou lideranças políticas para a prisão. Alçado por alguns como "herói nacional", foi durante as investigações da Lava Jato que ele ganhou admiradores e adversários ao autorizar conduções coercitivas contra políticos, quebras de sigilo e assinar mandados de busca e apreensão e de prisão dos envolvidos na operação.

As apurações conduzidas pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal apontaram Lula como principal articulador do esquema de propina da política brasileira. A cada nova delação premiada, a operação se aproximava do petista e o embate entre Moro e Lula foi ganhando status de grande duelo, principalmente pelos grupos antipetistas, que cresciam a cada nova operação.

A peleja entre ele e Lula aconteceu em 2017, quando o juiz condenou o ex-presidente no caso do tríplex do Guarujá. Moro entendeu que Lula era o dono oculto do apartamento, que teria sido recebido como propina paga pela empreiteira OAS, em troca de benefícios em obras da Petrobras.

Famoso pela atuação na Operação Lava Jato, o ex-juiz Sergio Moro aceitou virar Ministro da Justiça. Moro chegou ao Governo depois de ganhar notoriedade nacional e internacional por comandar os julgamentos da Operação Lava Jato(Marcelo Camargo /Agência Brasil)

EM MEIO A LAVA JATO, BOLSONARO SURGE COMO ALTERNATIVA

Além de Lula, as investigações da operação colocaram boa parte dos partidos como recebedores de vantagens indevidas pelas maiores empresas do Brasil. A descrença com a classe política como um todo – já que líderes do PSDB como Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckimin, até então principais opositores de Lula, também foram envolvidos ou citados pelo esquema – abriu espaço para que o então deputado federal Jair Bolsonaro começasse a crescer e despontar como alternativa política.

Apesar de experiente no Congresso, Bolsonaro, até então conhecido apenas por opiniões mais radicais, não tinha grande influência entre outros parlamentares. Mesmo assim, conseguiu se candidatar pelo PSL e acabou eleito. Popular pelo discurso da flexibilização do armamento e de maior agressividade na segurança pública, Bolsonaro também se elegeu graças ao apoio dos chamados grupos lavajatistas, em geral mais moderados, que viram nele a única opção para derrotar Lula em 2018.

Jair Bolsonaro e Sergio Moro
Jair Bolsonaro e Sergio Moro: atritos começaram ainda no primeiro mês de governo. (Carolina Antunes/PR)

ATRITOS COM O PRESIDENTE

Ao vencer a disputa eleitoral, Bolsonaro anunciou alguns dias depois a já esperada nomeação de Sergio Moro como ministro, prometendo dar a ele carta branca para que continuasse a "caçada por corruptos". Contudo, ainda nos primeiros dias de governo, Bolsonaro e o ex-juiz começaram a bater cabeça.

Ainda em janeiro de 2019, Moro se mostrou desconfortável ao anunciar a flexibilização da posse de armas. Algumas sugestões suas ao texto do presidente foram desconsideradas e, em entrevistas, ele evitava ser colocado como autor das propostas. A primeira alfinetada veio no mês seguinte, com a revogação da nomeação da advogada Ilana Szabó, defensora do desarmamento, do Conselho de Segurança Pública. Escolhida por Moro, Ilana foi duramente criticada por apoiadores bolsonaristas e o ministro teve que recuar.

Em agosto, Bolsonaro pediu a mudança da superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, a contragosto de Moro, que venceu uma primeira batalha, mantendo Ricardo Saadi a frente do cargo. Em seguida, o ministro acumulou derrotas com a perda do comando do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o Banco Central; a saída definitiva de Saadi na PF do Rio; e a ameaça de desmembrar a Segurança Pública de seu ministério.

Supremo Tribunal Federal (STF)
Supremo Tribunal Federal (STF): indicação à vaga na Corte teria sido prometido a Moro por Bolsonaro. (José Cruz/Agência Brasil/Arquivo)

VAGA NO STF E POSSÍVEL CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA

Mesmo com um clima ruim com o presidente, nos bastidores dizia-se que Moro permanecia no cargo por uma suposta promessa de Bolsonaro de indicá-lo a uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A nomeação favoreceria aos dois, já que a cadeira era um desejo do juiz e, assumindo o cargo, Moro estaria fora de uma possível disputa com Bolsonaro pela presidência em 2022.

Nesta sexta-feira (24), quando terminou seu pronunciamento, as redes sociais já tinham inúmeras postagens que pediam a eleição do ex-ministro para presidente da república em 2022. O rompimento com Bolsonaro rachou os grupos de apoio ao presidente. Entre as tags utilizadas no Twitter as principais foram #Moro2022 e #MoroPresidente. Na maioria das postagens, perfis que apoiavam Bolsonaro descrevem decepção e associam Moro à imagem de herói.

O pedido para que o ex-juiz ocupasse o cargo máximo do Executivo não é de agora. Com a força da Lava Jato, Moro já aparecia nas pesquisas de intenção de votos publicadas pelo Datafolha desde a corrida eleitoral de 2018. Em pesquisa feita pelo instituto FSB, em dezembro de 2019, o ex-ministro aparecia com 48% das intenções de voto em primeiro turno, porcentagem maior que a do próprio ex-presidente Lula, que ficou com 39%. Em um eventual segundo turno contra o atual presidente, a disputa ficaria empatada, ambos com 36%. Em levantamento feito pelo Atlas Político, em fevereiro deste ano, Moro aparece em terceiro lugar, com 20% das intenções, perdendo apenas para Bolsonaro e Lula.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, fala a imprensa sobre seu pedido de demissão do cargo
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, fala a imprensa sobre seu pedido de demissão do cargo . (Marcello Casal Jr/Agência Brasil )

EM PRONUNCIAMENTO, MORO DIZ "ESTAR A DISPOSIÇÃO DO PAÍS"

Desde que ganhou apoiadores que pediam sua ascensão à presidência, o ex-ministro sempre foi categórico ao dizer que não pretendia concorrer ao cargo, embora alguns parlamentares e aliados do governo afirmam que o movimento de pedir demissão seria, na verdade, para desassociar sua imagem à do presidente para concorrer ao pleito de 2022.

A interpretação de que Moro estaria vislumbrando uma candidatura e os pedidos para que ele o faça ganharam força pelo tom de disposição presente no final do discurso. Após ressaltar que não poderia voltar à magistratura, o ex-ministro falou em procurar um emprego e terminou repetindo que a máxima do seu ministério sempre foi fazer a coisa certa sempre: “Não enriqueci no serviço público. Nem como magistrado nem como ministro. E quero dizer que independentemente de onde eu esteja eu sempre vou estar à disposição do país para ajudar o que quer que seja.”

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais