A decisão de Jair Bolsonaro (sem partido) de nomear a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo, que responde pela articulação política, embute gestos voltados tanto às eleições presidenciais de 2022 como à performance do Planalto no Congresso.
De um lado, na leitura de dirigentes de partidos do centrão ouvidos pela reportagem, a escolha representa um aceno do presidente ao PL, comandando por Valdemar da Costa Neto, e uma tentativa de mantê-lo próximo de olho numa aliança no ano que vem.
Recentemente, o ex-presidente Lula (PT) indicou a integrantes do centrão que gostaria do empresário Josué Gomes, do PL, como seu parceiro de chapa em 2022. Gomes é filho de José de Alencar, que foi vice-presidente de Lula.
Além disso, as críticas que Bolsonaro tem recebido por sua gestão da pandemia também têm contribuído para deixar o PL mais distante.
Na leitura de presidentes de legendas de centro, embora não signifique a garantia do apoio do PL em 2022, o gesto a Costa Neto se constituiu na principal motivação de Bolsonaro para escolher Arruda.
Em outra frente, a nomeação da deputada é um aceno ao centrão no Parlamento e, especificamente, ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A parlamentar é próxima de Lira e teve a bênção dele para ocupar o ministério.
Apesar de a parlamentar ser ligada ao alagoano, integrantes do Planalto, aliados de Lira e pessoas próximas de Flávia Arruda dizem que o primeiro a sugerir o nome dela foi Luiz Eduardo Ramos, o antecessor da deputada na pasta.
Segundo essas fontes, o agora ministro da Casa Civil pensou numa opção que agregasse vitórias a Bolsonaro no Congresso e nas eleições e que fosse mulher, para aplacar críticas de que elas têm baixa representatividade no governo.
Com Flávia, o ministério passa a ter cinco deputados licenciados, o que, na visão de integrantes do centrão, torna o governo mais político e mais próximo a siglas de centro.
Enquanto o PSD comanda as Comunicações, o Republicanos a Cidadania e o PP ocupa a presidência da Câmara com apoio do Planalto, o PL, que ainda não tinha espaço no primeiro escalão, agora assume a articulação política.
"A Flávia Arruda é uma grande deputada e seguramente será uma excelente ministra. Tenho as melhores expectativas sobre ela", disse à reportagem o deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos.
Deputada de primeiro mandato, Arruda, 41, foi o nome escolhido pelo líder do Centrão para presidir a Comissão Mista de Orçamento, responsável por analisar e fazer modificações ao Orçamento de 2021.
Para emplacar a deputada no colegiado, Lira desfez acordo com partidos como MDB e DEM e, a partir de setembro, passou a bloquear a pauta de votação para pressionar pela instalação da comissão. A tentativa foi frustrada pelo então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A CMO só foi instalada em fevereiro deste ano, após a vitória de Lira ao comando da Câmara. A presidência de Flávia durou um mês e duas semanas, tempo em que concluiu a votação do Orçamento de 2021, criticado pelas manobras fiscais para turbinar emendas parlamentares.
Segundo colegas da comissão, Flávia tem caráter conciliatório e maturidade para assumir a Secretaria de Governo.
"É uma política por excelência. A gente brinca que ela parece ter 100 anos em termos de experiência e maturidade", elogia Margarete Coelho (PP-PI). "Tem aquela mesma característica do Arthur [Lira] de dar a palavra e cumprir."
Líder do DEM na Câmara, o deputado Efraim Filho (PB) também elogia a escolha. "A Flávia teve um bom desempenho na CMO, teve de articular com diversos líderes, com sensibilidade e conciliação."
Na Câmara, Flávia Arruda é coautora de uma lei que assegura medidas de combate e prevenção à violência doméstica durante a pandemia.
É também autora de uma lei que autoriza estados e municípios a resgatarem R$ 1,5 bilhão do Fundo Nacional da Assistência Social para aplicação em ações de assistência. Na sanção, Bolsonaro recebeu Arruda para que ela acompanhasse a transformação do projeto em norma jurídica.
Ela também relatou projetos relacionados à violência doméstica e à valorização da participação feminina em entidades de representação civil.
Nascida em Brasília, Flávia Arruda é casada com o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (então no DEM), que chegou a ser preso e teve o mandato cassado.
Em 2014, José Roberto desistiu de disputar o governo do DF em razão da Lei da Ficha Limpa --foi condenado por envolvimento no mensalão do DEM no Distrito Federal. Ele foi substituído por Jofran Frejat, do PR (hoje PL), e indicou a esposa para vice.
José Roberto Arruda foi investigado na Operação Caixa de Pandora, que apurou o envolvimento de deputados distritais, integrantes do governo do DF, Arruda e de seu vice, Paulo Octavio, em suposto esquema de propina.
Ainda no comando do DF, ele foi preso e deixou o DEM para não ser expulso da legenda e cassado.
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