Leandro Cavalieri, homem que ameaçou Felipe Neto em frente ao condomínio do youtuber, perdeu o seu principal apoio para tentar uma vaga na Câmara Municipal do Rio de Janeiro neste ano.
O deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) desautorizou o uso de seu nome pelo ex-aliado político. O afastamento ocorreu após Cavalieri se apresentar como seu assessor parlamentar no ataque com fogos de artifício ao prédio do STF (Supremo Tribunal Federal) em junho. Ele não trabalhava no gabinete.
"Aquela situação foi algo que não gostei. Nada contra ele [Cavalieri], mas não há mais vinculação política ou pessoal. O motivo foi ele ter se apresentado como meu assessor sem nunca ter sido. O ato em si [contra o STF] não foi antidemocrático como tem sido descrito", disse Otoni, que foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República pelos crimes de difamação, injúria e coação no inquérito que investiga atos antidemocráticos.
O deputado do PSC disse ainda não querer comentar as ameaças feitas por Cavalieri a Felipe Neto em frente ao condomínio do youtuber.
"Não tenho nada a declarar sobre esse episódio. São decisões que cada ser humano toma. Se alguém se sentiu ofendido cabe também procurar a Justiça para obter alguma retratação", disse o congressista
Cavalieri, que até o mês passado se apresentava como "Cavalieri do Otoni", foi com um carro de som para a frente do condomínio onde mora Felipe Neto e fez ameaças contra ele. No alto-falante, repetiu as fake news que acusam o youtuber de incentivar a pedofilia.
"Chega, chega! Cadê você Felipe Neto?", gritava Cavalieri, que agora se apresenta como "Guerreiro de Bolsonaro".
"É, Felipe Neto. A gente vai se encontrar em breve. Quero ver se tu é macho [sic]. Quero ver tu tirar onda comigo. Seus seguranças não me intimidam, não. Aqui o bonde também é pesado", disse Cavalieri em vídeo postado nas redes sociais.
Os ataques contra Felipe Neto começaram após ele se posicionar publicamente como crítico ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ganhar espaço na mídia para expor sua opinião. Ele participou do programa Roda Viva, da TV Cultura, e gravou um vídeo para o jornal americano The New York Times no qual criticou a atuação do presidente no combate à pandemia.
Uma montagem de um tuíte falso que atribui ao influenciador a frase "criança é que nem doce, eu como escondido" passou a ser compartilhada em diferentes redes sociais, como Facebook e WhatsApp.
Neto afirma que se trata de uma "mentira nojenta" articulada pela extrema direita para arruinar sua reputação.
"Todas essas postagens negativas são ataques orquestrados com o único objetivo de destruir reputações, o que comprova o quão inclinados ao ódio, silenciamento e perseguição são os envolvidos. Não preciso nem irei responder ódio com ódio, porque a verdade sempre prevalece", afirmou Felipe Neto.
Em seu perfil no Twitter, o youtuber disse que sua equipe derrubou, na última segunda-feira (27), 1.247 vídeos enviados para o Facebook e o Instagram com "informações caluniosas sobre mim, a maioria com acusações de pedofilia".
"Hoje, até às 14h, já foram 664 vídeos derrubados. Cada 1 vídeo desse tem potencial de atingir milhares-milhões de pessoas", escreveu na tarde de terça-feira (28).
Um grupo de 37 entidades divulgou um abaixo-assinado em defesa do influenciador. O texto é assinado por entidades como 342 Artes, Associação Juízes para a Democracia, Fórum pela Democracia e Prerrogativas.
"O cidadão Felipe Neto tem o direito, como todos nós temos, de se posicionar. Concordemos ou não com suas manifestações e posições, fato inconteste é que está ele protegido por nossa Constituição Federal", diz o documento.
"A intenção desta campanha difamatória ultrapassa, e muito, os limites da crítica, os limites protegidos pelo constitucional direito de se expressar, ao atribuir a Felipe Neto ações que inclusive podem constituir a prática de crimes", afirma o texto.
A liderança do PSOL na Câmara dos Deputados encaminhou um ofício ao senador Angelo Coronel (PSD-BA), presidente da CPMI das Fake News, solicitando que a comissão parlamentar de inquérito do Congresso apure os ataques virtuais promovidos contra o youtuber.
Para os parlamentares do PSOL, a ação difamatória pode ter vínculos com o chamado "gabinete do ódio", estrutura do Palácio do Planalto que seria usada para disseminar mensagens de difamação contra opositores de Bolsonaro.
"O modus operandi utilizado pelo 'gabinete do ódio' levanta séria suspeita de que o caso tenha sido mais uma peça produzida e disseminada sob os comandos desta conhecida organização criminosa", afirma o ofício.
O partido pede que a CPMI das Fake News tome medidas pela busca e apreensão de provas da campanha contra o youtuber a fim de evitar que elas sejam destruídas.
"É indisfarçável a participação de uma rede de fake news, amplamente articulada, que ataca, difama e calunia, de forma sistemática e organizada, qualquer opositor democrático ao atual mandatário da República", diz o ofício.
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