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Direita faz ofensiva na Câmara por aumento de pena para estuprador

Direita faz ofensiva na Câmara por aumento de pena para estuprador

Deputados do PL, partido de Jair Bolsonaro, coletam assinaturas para votar urgência de outro texto na mesma linha. As propostas também retomam uma bandeira do bolsonarismo: a castração química

Publicado em 2 de julho de 2024 às 10:40

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Mulher denunciou tentativa de estupro em Vitória
Discussão sobre estupro e punição a ele movimentou a pauta social nas última semanas. (Oliveira Alves)
Victoria Azevedo e Mariana Holanda

Deputados da direita estão se articulando para aprovar matérias que endureçam penas contra estupradores após o PL Antiaborto por Estupro ter gerado desgaste e críticas na sociedade. Além de o próprio autor do projeto de lei, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ter sugerido aumento da pena para estupradores, deputados também devem votar na CCJ (Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça) uma outra proposta sobre o tema. Em outra frente, deputados do PL, partido de Jair Bolsonaro, coletam assinaturas para votar urgência de outro texto na mesma linha. As propostas também retomam uma antiga bandeira do bolsonarismo: a castração química dos criminosos.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, representantes do centro e de setores conservadores no Congresso avaliaram que a direita perdeu para a esquerda no debate dessa proposta –uma ala desses parlamentares diz que o projeto foi um "tiro no pé". Com as críticas, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou em junho que uma comissão especial irá analisar o projeto no segundo semestre.

A presidente da CCJ da Câmara, Caroline de Toni (PL-SC), incluiu na pauta de votações do colegiado desta terça (2) um projeto que aumenta a pena para estupradores —segundo ela, a pedido de parlamentares do PL. "Espero que o governo apoie. Depois de tanta crítica ao PL 1.904 é o mínimo que se espera", diz.

Apresentado originalmente em 2010, o PL foi apensado com outras 56 matérias de conteúdo semelhante. Relator da matéria na CCJ, o deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM) diz à reportagem que é preciso aproveitar as oportunidades na política para avançar com pautas que são de interesse dos parlamentares da direita. Ainda é possível pedir vistas (mais tempo de análise).

"Já que a esquerda trouxe essa narrativa, é uma boa oportunidade de fazer o tema andar e conseguir aprovar com votos tanto da direita quanto da esquerda", afirma. "Se eles forem coerentes com o discurso em relação à proteção da mulher e das críticas ao projeto do antiaborto, tem tudo para que a gente possa aprovar com facilidade esse projeto", diz.

O relatório do deputado altera o Código Penal e aumenta a pena máxima de 10 para 20 anos para quem cometer estupro. Se a vítima for menor de 18 anos e maior de 14 anos, a pena máxima será aumentada de 12 para 22 anos. O parecer também prevê que o crime de estupro de menores de 14 anos terá pena máxima aumentada de 15 para 20 anos, e se resultar em lesão corporal de natureza grave, de 20 para 24 anos.

O relator também incluiu dispositivo que trata da castração química, tema que foi discutido e aprovado em comissão do Senado recentemente. O texto condiciona a progressão de regime e a concessão de livramento condicional se o condenado por estupro "aceitar submeter-se voluntariamente a tratamento químico-hormonal para a diminuição do ímpeto sexual e da libido."

Um parlamentar da oposição diz que esse projeto, avançando ou não, trará bônus para a direita: se ele tiver endosso do governo e for aprovado, será uma vitória por ser um tema defendido pelos deputados; se for contra, a direita poderá usar isso para desgastar a imagem do Executivo. O governo tem evitado se posicionar em temas de matéria penal e que resvalam na chamada pauta de costumes, para não ser atrelado a eventuais derrotas e para reforçar que a prioridade do Executivo é a pauta econômica.

Uma pessoa que acompanha as discussões diz, sob reserva, que o governo poderia apoiar o projeto se ele tratasse somente do endurecimento das penas para estupradores. Mas já que o relator incluiu a castração química, a tendência é que o Executivo ou não oriente ou se posicione contrário ao texto na comissão.

Parlamentares do centrão, por sua vez, deverão endossar a matéria. Apesar dessa ofensiva, dois parlamentares da direita avaliam que o tema pode até ser votado na CCJ, mas que ele só deverá ir ao plenário da Casa após as eleições municipais de outubro. Isso porque o recesso parlamentar começa em 18 de julho e a Câmara historicamente fica esvaziada durante o processo eleitoral.

Uma das propostas que foi apensada ao projeto que será discutido na CCJ é de autoria dos deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Filipe Barros (PL-PR), líder da oposição na Câmara. Nas últimas semanas, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) passou a colher assinaturas para um requerimento de urgência dessa proposta. Na prática, se pautado e aprovado, esse requerimento acelera a tramitação do PL na Casa, já que ele não precisa passar pela análise das comissões temáticas e segue direto ao plenário.

Barros diz à reportagem que o endurecimento de penas para estupradores é uma "pauta histórica da direita". "Toda vez a esquerda barrou qualquer tipo de avanço nesse sentido. Queremos retomar essa pauta para deixar claro que nós, da direita, defendemos o aumento da pena para estuprador", diz.

Para Nikolas, uma parte da esquerda deve apoiar a proposta, por temer desgaste no período eleitoral. Nikolas se queixou ainda do debate em torno do PL Antiaborto por Estupro, que, segundo ele, teria sido pautado por "mentiras" e "desinformação". "Com certeza, [o novo PL vai] mostrar quem de fato está a favor do aumento de pena para o estuprador e quem não está. E expor aqueles que de fato estão dizendo que nós somos a bancada do estupro". Além dessas propostas, Sóstenes disse à coluna Mônica Bergamo que defende que a mulher estuprada que optar por interromper a gravidez nesta fase da gestação não seja mais acusada de cometer crime.

Ele disse que essa mudança se deu após a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ter divulgado vídeo dizendo que o aborto deveria ser punido sem que a mulher fosse criminalizada. Michelle demorou para se posicionar nas redes. Na última terça-feira (25), postou um vídeo em que faz sugestões, como o aumento de punição para estupradores, sem progressão de regime. A exceção seria para os que aceitassem se submeter à castração química.

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