Weslley Galzo e Julia Affonso
A Polícia Federal tem três jatos da Embraer, mas alegou que não tinha recursos para transportar o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro na quarta-feira passada, data de sua prisão. Apesar de haver uma ordem judicial para que Ribeiro fosse transferido de Santos (SP), onde reside, até Brasília, a PF manteve o ex-ministro em São Paulo.
O descumprimento da ordem judicial foi citado pelo delegado Bruno Calandrini, que preside o inquérito sobre a existência de um gabinete paralelo no Ministério da Educação operado por Ribeiro e dois pastores, como indicação de interferência na investigação. Levantamento feito pelo Estadão em bases públicas de monitoramento de voos no país mostra que apenas um dos jatos da PF tem registro de voo na quarta-feira. Outras duas aeronaves de fabricação da Embraer de propriedade da corporação não aparecem como tendo sido usadas na data.
A ordem de prisão de Ribeiro foi expedida na última segunda-feira, pelo juiz Renato Borelli, da 15.ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, que especificou a necessidade de o ex-ministro ser transferido para Brasília.
Apesar dos dois dias de antecedência, a PF não colocou aeronaves à disposição da operação. No dia da prisão, apenas o jato modelo Embraer ERJ-145LR voou para cumprir missões policiais. O trajeto realizado na ocasião teve início em Foz de Iguaçu, às 11h19, com uma parada em Curitiba e foi finalizado às 13h55 em Brasília.
A PF também possui o jato modelo Embraer ERJ-145EL, que não foi utilizado no dia da prisão de Ribeiro. O último registro de viagem dessa aeronave data do dia 20 de junho, quando foi realizado um percurso do interior de São Paulo para Brasília. Um dos jatos chegou a ser usado no dia 16 para transportar os corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips para perícia na capital federal.
A corporação ainda conta com um terceiro avião: um Embraer modelo E175. Esse jato foi entregue ao governo em dezembro do ano passado numa cerimônia que contou com a presença de três ministros e do então diretor-geral da PF, Paulo Maiurino. Ainda não há registros em bases públicas de o E175 já ter começado a voar em operações oficiais.
Apesar da disponibilidade das aeronaves, o delegado Caio Rodrigo Pellim, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF (Dicor), pediu à Justiça Federal que mantivesse o ex-ministro da Educação em São Paulo "ante a restrição orçamentária, bem como a fim de se manter a integridade física dos presos e evitar exposição desnecessária, recomendável que a audiência de custódia seja realizada remotamente ou, em último caso, pelo juiz federal competente da localidade das prisões".
Após a transferência frustrada, Calandrini apontou "interferência" na operação sobre o gabinete paralelo no MEC em mensagem enviada a colegas da PF. O delegado relatou não ter "autonomia investigativa e administrativa para conduzir o inquérito policial do caso com independência e segurança institucional".
Ontem, a Justiça Federal remeteu o inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF), atendendo a um pedido do Ministério Público Federal, que apontou indícios de interferência do presidente Jair Bolsonaro na investigação.
Procurada pela reportagem, a PF não justificou o motivo de as aeronaves não terem sido utilizadas na operação de transferência de Ribeiro. A corporação também não respondeu aos questionamentos sobre a frota de jatos de que dispõe atualmente
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) informou que "as aeronaves servem para dar suporte em operações em que seja imprescindível e conveniente seu uso". A entidade declarou desconhecer outras situações em que a transferência de presos não tenha ocorrido por falta de recursos ou motivos de segurança
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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