O governo de João Doria (PSDB-SP) afastou o coronel da Polícia Militar que fez uma convocação para o ato bolsonarista do 7 de Setembro em Brasília, além de ter criticado o tucano, outros políticos e o Supremo Tribunal Federal.
"A Polícia Militar do Estado de São Paulo informa que o coronel Aleksander Toaldo Lacerda foi afastado das suas funções à frente do Comando de Policiamento do Interior-7", diz nota do governo paulista.
"A Corregedoria da instituição, que é legalista e tem o dever e a missão de defender a Constituição e os valores democráticos do país nela expressos, analisa as manifestações recentes do oficial, que foi convocado ao Comando Geral para prestar esclarecimentos", completa o texto.
As críticas do coronel foram reveladas pelo jornal O "Estado de S. Paulo" e constituem um degrau acima na percebida bolsonarização das forças policiais do país. Isso porque envolvem um oficial da ativa, com cargo de comando e na PM do Estado mais populoso.
Doria tem insistido que não há contaminação na tropa paulista, mas o incidente acendeu um alerta no Palácio dos Bandeirantes.
"São Paulo tem orgulho da sua Polícia Militar, a mais bem treinada do Brasil. Indisciplina não será admitida na PM, que respeita suas regras e suas funções", disse o governador ao jornal "Folha de S.Paulo".
Em redes sociais, o coronel Lacerda havia convocado "amigos" para o 7 de Setembro bolsonarista, que vem sendo promovido pelo presidente em meio à crise institucional com o Judiciário para angariar apoio.
Também criticou Doria, seu chefe, a quem chamou de "cepa indiana", numa analogia com a variante delta do novo coronavírus. Fez ataques a Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara que integrou o governo paulista na semana passada, ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e a ministros do Supremo.
Com efeito, todos estão na trincheira contrária à de Bolsonaro em disputas políticas. Doria quer ser candidato à Presidência em 2022, e Pacheco é estimulado pelo cacique Gilberto Kassab (PSD) a entrar na disputa pelo seu partido.
Ele também apoiou a pauta do voto impresso, derrotada na Câmara, mas transformada em desculpa prévia de Bolsonaro para tumultuar o processo eleitoral do ano que vem, no momento em que amarga grande rejeição nas pesquisas.
Oficiais da reserva da PM paulista já haviam se manifestado em favor, como o notório apoiador do presidente Ricardo de Mello Araújo, ex-comandante do batalhão de elite Rota e hoje diretor-geral da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo).
A estatal federal, que teve a estadualização barrada por Bolsonaro, é vista no governo paulista como um centro de difusão de apoio ao presidente. Ele já visitou o local, fazendo um discurso agressivo e sendo recebido com festa.
O movimento é acompanhado com discrição pelo governo Doria. A relação do tucano com a PM já teve altos e baixos, e é aberto o intuito bolsonarista de buscar manifestações de apoio na corporação.
Não só em São Paulo. Governadores de estados nordestinos liderados por opositores de Bolsonaro, como Bahia, Ceará, Pernambuco e Maranhão, vivem em estado de alerta devido à penetração do Planalto em suas tropas.
Dois incidentes são mencionados sempre: o apoio que Bolsonaro deu ao motim da PM do Ceará no começo de 2020, quando resistiu a enviar forças federais a pedido do governo petista do Estado, e a ação de policiais de Recife contra manifestantes contrários ao presidente, em maio.
Mais do que uma eventual ruptura com apoio do estamento fardado das Forças Armadas, o que preocupa mais especialistas no cabo de guerra que Bolsonaro insiste em manter com as instituições é a agitação de polícias estaduais.
O próprio Doria chamou isso de milicianização das PMs, ao acusar Bolsonaro da prática no episódio do motim cearense. Com seu discurso armamentista e a proximidade do seu clã familiar com o mundo das milícias de ex-policiais do Rio, o quadro envolvendo o presidente se desenha claro.
O 7 de Setembro deste ano ganha ares conflituosos com a crise. Em São Paulo, Doria concedeu o uso da Avenida Paulista para os manifestantes pró-Bolsonaro porque eles fizeram o pedido antes. A Justiça determina que apenas um grupo político ocupe a via por vez, para evitar confrontos.
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