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É enganoso post que atribui morte de idoso à Coronavac

É enganoso post que atribui morte de idoso à Coronavac

Ao contrário do que afirmam publicações nas redes sociais, a pessoa que morreu tinha Covid-19, havia sido hospitalizada e, como a vacina é de vírus inativado, ela não poderia ter desencadeado a doença

Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 22:42- Atualizado há 4 anos

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Passando a Limpo: É enganoso post que atribui morte de idoso à Coronavac
É enganosa publicação que atribui morte de idoso à vacina Coronavac. (Reprodução/Comprova)

Conteúdo verificado: em um post no Facebook, um homem dizia que seu pai, um idoso, teria morrido por conta da Coronavac

É enganoso um post no Facebook em que um usuário alega que a Coronavac, vacina de Covid-19 produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, tenha provocado a morte de seu pai. Publicada no dia 6 de fevereiro, a mensagem já havia sido compartilhada mais de 25 mil vezes na plataforma até esta quinta-feira, 11, antes de ser removida da rede social.

Conforme apurou o Comprova, a publicação se refere ao óbito de um idoso de 76 anos na cidade de Guaratinguetá, no interior de São Paulo. Por telefone, o autor do post, Samuel Abreu Batista, afirmou que seu pai recebeu a primeira dose da vacina em 25 de janeiro, posteriormente apresentou sintomas semelhantes aos da Covid-19 e faleceu no sábado, 6.

Segundo ele, na certidão de óbito consta morte por choque séptico com suspeita de Covid-19. A prefeitura de Guaratinguetá confirmou à reportagem as datas de vacinação e falecimento do idoso.

A relação do óbito com a vacina, porém, foi descartada pela administração municipal após exames de diagnóstico confirmarem que o pai de Samuel apresentava quadro de infecção de Covid-19 no dia anterior ao óbito, posteriormente à vacinação. Porém, ao passo que a Coronavac é um imunizante de vírus inativado, a vacina não poderia ter desencadeado a doença.

Além disso, uma apuração da prefeitura indicou um surto de infecções pelo novo coronavírus na casa de repouso Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis, onde o idoso morava.

COMO VERIFICAMOS?

O Comprova acessou o perfil de Samuel Batista, autor do post, no Facebook e verificou que o usuário era pastor na Comunidade Evangélica Projeto Vida em Cunha, São Paulo. A reportagem obteve o número de telefone de Batista e entrou em contato com ele por chamada telefônica e WhatsApp.

A partir do relato do pastor, apuramos o nome do idoso e a cidade em que morava. O passo seguinte foi questionar a Prefeitura Municipal de Guaratinguetá e o Instituto Butantan para averiguar mais informações sobre o caso. A administração da cidade retornou ainda na segunda-feira, 8. Já o Instituto Butantan ainda não havia sido notificado naquela data.

A reportagem ainda consultou o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais Flavio Fonseca Guimarães para confirmar se o exame positivo de Covid-19 do idoso de fato exclui a possibilidade de efeitos adversos da vacina. Também entramos em contato com a Santa Casa Guaratinguetá para confirmar as datas do envio de resultados dos exames do idoso.

Ainda tentamos conversar com representantes da instituição de longa permanência em que o falecido residia, mas não conseguimos nos comunicar com representantes da entidade beneficente, que também não responderam aos e-mails enviados pela reportagem.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a Covid-19 disponíveis no dia 12 de fevereiro de 2020.

VERIFICAÇÃO

De acordo com a prefeitura municipal de Guaratinguetá, um exame RT-PCR coletado no dia 5 de fevereiro, cujo resultado foi confirmado à pasta no dia 9, apontou que o pai do autor da publicação investigada pelo Comprova estava infectado com a doença quando ocorreu o óbito.

O filho revelou à reportagem que o idoso era residente do Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis de Guaratinguetá, onde recebeu a primeira dose da Coronavac em 25 de janeiro. A instituição de longa permanência consta no cadastro estadual de entidades do Estado de São Paulo.

Um comunicado da prefeitura atualizado no dia 10 de fevereiro afirma que a apuração da equipe técnica da secretaria de saúde do município constatou que o idoso foi hospitalizado com sintomas de Covid-19 e que o mesmo ocorreu com outros idosos que moravam na mesma instituição.

“Durante a investigação também recebemos informações de que funcionários da instituição estavam afastados por suspeita de contaminação pelo Covid-19, sendo que já foi possível constatar que três dos funcionários afastados testaram positivo recentemente, o que possibilitou estabelecer uma linha do tempo de contágio e vínculo epidemiológico e consequentemente resultou na abertura de um registro de surto por Covid-19 na referida instituição”, diz o comunicado.

Com o diagnóstico de Covid-19 confirmado, a prefeitura descartou as hipóteses de um evento adverso da vacina, “pois caso fosse reação vacinal não haveria presença de vírus na amostra coletada, uma vez que a vacina Coronavac é inativada e não pode causar a doença”.

Ao Comprova, o virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG Flávio Fonseca afirmou que a nota da prefeitura é precisa. Ele explica que o teste RT-PCR detecta o RNA do vírus na amostra do paciente, mas o vírus inativo aplicado na vacina não contém o RNA viral. Dessa forma, a inoculação do imunizante não permitiria ao exame detectar o material do coronavírus.

IMUNIDADE NÃO É IMEDIATA

Fonseca ainda destaca que somente a primeira dose não confere imunidade. Ele alerta que após vacinadas as pessoas ainda precisam manter a “guarda elevada” contra o vírus e seguir regras de prevenção, como o uso de máscaras e a prática do distanciamento social.

O site do Instituto Butantan também ressalta que, mesmo após a segunda aplicação, a imunidade contra o novo coronavírus não é desencadeada imediatamente. “Caso uma pessoa tenha Covid-19 logo após se imunizar, isso não significa que a vacina não funcionou, mas que seu o sistema imunológico ainda não teve tempo para criar a resposta imune”, diz o instituto paulista.

A página reafirma a necessidade de manter medidas de segurança, como o uso de máscara e a higienização constante das mãos. Nesta quarta-feira, 10, o Butantan também emitiu uma nota destacando que a morte do idoso ocorrida em Guaratinguetá não tem relação com a Coronavac.

RESULTADO

No primeiro contato com a reportagem, no dia 8 de fevereiro, embora já tivesse publicado o post, Samuel Batista afirmou que ainda aguardava os resultados do exame de Covid-19 e que a depender do apontamento pretendia ingressar com uma ação judicial para suspender a vacinação de idosos.

Segundo ele, a Santa Casa de Guaratinguetá havia dado um prazo de dez dias para informar a conclusão dos exames.

Em nota ao Comprova enviada na quinta-feira, 11, o hospital afirmou que envia as amostras a um laboratório parceiro credenciado. O prazo médio de resultado, segundo a instituição, corresponde a quatro dias, “a depender da demanda do prestador do serviço”.

A Santa Casa disse ainda que o resultado do exame de Covid-19 do idoso foi notificado ao hospital e repassado aos familiares na quarta-feira, dia 10. A prefeitura, no entanto, já havia confirmado o diagnóstico positivo à reportagem na tarde do dia 8 e novamente em nota no dia 9 de fevereiro, conforme mostra o e-mail abaixo.

A assessoria de imprensa justificou que o laboratório responsável pela análise enviou o resultado do exame diretamente à Secretaria Municipal de Saúde.

Em novo contato com Samuel Batista nesta sexta-feira, 12, o pastor disse que foi notificado sobre o exame.

POR QUE INVESTIGAMOS?

Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados a informações sobre a pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A publicação investigada nesta reportagem alcançou mais de 25 mil compartilhamentos, quase 10 mil interações e foi replicada em outras páginas na rede social.

Os imunizantes e a vacinação contra a Covid-19 são alvos frequentes de desinformação. O Comprova já desmontou um boato enganoso que usava vídeo de 2018 para afirmar que idosa morreu após tomar vacina, outro afirmava que a imunogenicidade da Coronacac apresentava riscos à saúde de pacientes. Também desmentimos uma mensagem enganosa repercutida por um assessor da Presidência da República com informações incorretas sobre a eficácia do imunizante.

Enganoso, para o Comprova é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

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