Conteúdo investigado: Imagem publicada no Twitter mostra a convenção do Partido Liberal (PL), realizada no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, em 24 de julho. O ato marcou a aprovação da candidatura do presidente da República, Jair Bolsonaro, à reeleição. Na imagem é possível ver espaços vazios nas arquibancadas e também na quadra. O post é acompanhado da legenda: “Flopou”. O termo é uma gíria utilizada como sinônimo do verbo “fracassar”.
Onde foi publicado: Twitter.
Conclusão do Comprova: É enganosa uma imagem compartilhada no Twitter cuja legenda afirma que a convenção do PL, realizada em 24 de julho para oficializar a candidatura de Bolsonaro à reeleição, tenha “flopado”, com baixa adesão de apoiadores.
A imagem compartilhada registra espaços da arquibancada, atrás do palco, onde não foi permitida a presença do público. E, apesar de haver vazios na área reservada a caravanas, na parte da arquibancada à lateral e à frente do palco, o evento contou com a presença de 12 mil pessoas, segundo a legenda política. O Comprova tentou checar o número de participantes também com a administração do Maracanãzinho e com a empresa Sympla, que distribuiu os ingressos para a convenção, mas não teve resposta. A capacidade máxima do Maracanãzinho é de 11.800 pessoas sentadas nas cadeiras da arquibancada, de acordo com informações do site oficial do Maracanã.
Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: Até o dia 28 de julho, somados nos dois perfis no Twitter, os posts com a imagem do evento de lançamento da candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição tiveram mais de 52 mil curtidas, 2,1 mil comentários e 3.412 retweets.
O que diz o autor da publicação: Procurados pelo Comprova, por meio de mensagem direta no Twitter, apenas um dos perfis – o UpdateCharts – respondeu o contato, mas não informou sobre a autoria da foto.
Em seu post, o perfil UpdateCharts afirma que a convenção de Bolsonaro “flopou” após fãs do movimento k-pop se mobilizarem para boicotar o evento, utilizando a mesma estratégia do comício de Donald Trump, quando ingressos foram esgotados por pessoas que não pretendiam comparecer ao evento.
Questionamos o perfil sobre de onde foi retirada a informação da suposta ação de fãs do k-pop no caso da convenção do PL e se houve também conhecimento, por parte do perfil, do uso de sites geradores de dados pessoais com o objetivo de congestionar a plataforma de ingressos, fazendo com que os apoiadores do presidente não conseguissem se cadastrar.
Em resposta, o perfil apenas enviou links de matérias publicadas em sites, como o Estado de Minas e o Estadão, que explicam o contexto da relação feita pela imprensa entre a ação nos EUA e na convenção do PL.
Já o perfil GadoDecider, também procurado pelo Comprova, não respondeu.
Como verificamos: Em um primeiro momento, fizemos uma busca no Google pelas palavras “convenção do PL”, “Maracanãzinho” e “Bolsonaro”. A pesquisa nos levou a reportagens publicadas na imprensa a respeito do ato, como é o caso do Poder 360, G1 e Metrópoles.
Também buscamos informações no site oficial do Maracanã a respeito da capacidade do Maracanãzinho, ginásio que sediou a convenção. Por e-mail, o Comprova questionou a administração do local sobre as áreas reservadas pelo PL para realização do ato, bem como o público que compareceu ao evento, mas não houve retorno.
Os mesmos questionamentos foram feitos ao partido, por meio de contato com assessoria de imprensa, também sem resposta. Analisamos, ainda, vídeos e fotos disponibilizados nos veículos de comunicação e os arquivos compartilhados pela própria assessoria do PL à imprensa.
Para tentar ter a dimensão do público presente no evento, buscamos informações no site Sympla, uma startup brasileira de tecnologia, especializada na comercialização de ingressos e organização de grandes eventos. Por lá, encontramos referências métricas sobre quantas pessoas cabem em um metro quadrado e como definir a lotação máxima de um evento.
Por fim, tentamos contato com os autores dos conteúdos publicados no Twitter.
No dia 24 de julho deste ano, o PL realizou a convenção nacional que resultou na aprovação da candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro à presidência da República. O evento teve como palco o ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, que tem capacidade para receber 11.800 pessoas sentadas, nas arquibancadas.
O ato reuniu políticos e apoiadores do presidente. Segundo a assessoria do partido, o público, que, além das arquibancadas, ocupou também a quadra, foi de 12 mil pessoas. A maior parte dos presentes no evento fazia o uso de roupas nas cores verde e amarela, em alusão à bandeira do Brasil. As mesmas cores predominaram na decoração do ginásio.
O ato também definiu o general Walter Braga Neto (PL) como vice na chapa encabeçada por Bolsonaro. Antes que o presidente chegasse ao local foi feita uma votação virtual, tendo os dois nomes sido aprovados por unanimidade.
Bolsonaro esteve no evento acompanhado de sua esposa, a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Dos três filhos do presidente que são parlamentares, apenas o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) compareceu. O vereador Carlos Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro estavam em viagem aos Estados Unidos.
De acordo com informações oficiais divulgadas pelo PL antes da realização da convenção, a chegada do presidente ao local estava prevista para às 11h22.
Em uma das publicações no Twitter, que mostra parte da arquibancada do ginásio Maracanãzinho vazia, um dos perfis mencionou um boicote, por parte de integrantes do movimento k-pop, estilo musical da Coreia do Sul, ao evento de lançamento da candidatura de Jair Bolsonaro. De acordo com matérias publicadas pelo jornal Estado de Minas e pelo site Nexo jornal, usuários do Twitter ligados ao gênero e militantes da esquerda entraram na plataforma Sympla, responsável pela distribuição dos ingressos obrigatórios para entrada na convenção, e utilizaram sites geradores de dados pessoais, como CPF, e-mail e CEP, com o objetivo de congestionar a plataforma, fazendo com que os apoiadores de Bolsonaro não conseguissem retirar os ingressos para participar do evento.
A ação seria inspirada em algo que ocorreu nos EUA em 2020. Nas eleições presidenciais daquele ano, o então candidato à reeleição, Donald Trump, foi alvo de protestos semelhantes. Na época, fãs de k-pop e usuários do TikTok afirmaram ser os responsáveis pelo público pequeno durante um comício do presidenciável em Tulsa, no estado de Oklahoma. Na ocasião, a campanha de Trump chegou a anunciar que o evento contou com mais de 1 milhão de inscrições, mas apenas 6.200 pessoas estiveram presentes no comício.
No caso da convenção do PL, de acordo com informações divulgadas pelo próprio partido e publicadas pelo jornal O Globo, foram feitas 50 mil inscrições para participação no evento. No entanto, 40 mil foram canceladas em função de terem sido identificadas como perfis falsos.
A plataforma Sympla confirmou a exclusão das solicitações feitas, mas não esclareceu ao Comprova como identificaram que as contas se tratavam de perfis falsos.
“A Sympla informa ainda que não divulga dados sobre organizadores e eventos criados na plataforma. Caso necessário, essas informações podem ser solicitadas diretamente aos produtores responsáveis pela organização e execução destes eventos”, acrescentou, em nota.
Com os cancelamentos de ingressos solicitados, o PL liberou a entrada na convenção sem a necessidade de apresentação dos bilhetes, mas limitou o público a 10 mil pessoas, segundo matéria publicada pelo jornal Estado de São Paulo. Como, após a realização da convenção, o partido informou contabilizar 12 mil participantes (incluindo apoiadores, imprensa e políticos presentes), a capacidade máxima estimada pela legenda foi atingida.
O Comprova buscou confirmar com a própria administração do Maracanãzinho dados sobre o total de pessoas presentes na convenção, mas não teve resposta.
Imagens publicadas pelo jornal O Globo, cuja equipe esteve no local desde às 9h30, mostram tanto imagens de espaços vazios quanto de espaços ocupados no Maracanãzinho.
De acordo com a publicação, apesar de o lado esquerdo das arquibancadas estar vazio durante todo o evento, o lado direito permaneceu cheio.
Na quadra, os apoiadores se dispuseram mais próximos ao palco, o que gerou a impressão de vazio na parte de trás, ainda segundo o Globo. A postagem verificada mostra justamente o ângulo da parte por trás do palco e boa parte do lado esquerdo da arquibancada, que estavam vazias durante o evento.
As imagens divulgadas pela própria legenda (acima) também mostram alguns vazios em setores específicos, como toda a parte esquerda das arquibancadas, a parte mais afastada do palco. Além de algumas cadeiras na parte direita. De acordo com matéria do jornal Estado de São Paulo, durante a convenção, parte do público que estava na arquibancada também foi deslocado para a quadra, o que provocou mais vazios nos assentos.
O Comprova entrou em contato com o fotógrafo responsável pelas imagens do evento divulgadas pelo PL, para ter acesso aos metadados e confirmar os horários em que as fotos foram tiradas, mas não obteve resposta.
Cabe ressaltar que, apesar do PL ter divulgado um total de 12 mil pessoas na convenção – superando os 10 mil esperados –, informações disponibilizadas no site da própria plataforma (Sympla) que geriu a distribuição das entradas para a convenção dão conta de que, no caso de um evento com pessoas em pé, é possível acomodar entre três e nove pessoas por metro quadrado.
Assim, no caso do Maracanãzinho, num cálculo que desconsidera a instalação de palco e outras estruturas, bem como limitações impostas pelo Corpo de Bombeiros e os próprios organizadores, com o espaço total da quadra de 40×20 metros (800m²), conforme atesta o site do Maracanã, levando em consideração o número mínimo de três pessoas por metro quadrado, poderiam ser comportadas 3,2 mil pessoas na quadra. No máximo, considerando nove pessoas por metro quadrado, seriam 7,2 mil, além das arquibancadas, que comportam 11.800 pessoas sentadas.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos ou enganosos que envolvem o atual presidente e pré-candidato à reeleição Jair Bolsonaro podem influenciar na compreensão da realidade e na imagem construída pelos eleitores sobre o político. A escolha sobre o candidato deve ser tomada com base em informações verdadeiras e confiáveis.
Outras checagens sobre o tema: Com a proximidade do processo eleitoral deste ano, cresce o número de conteúdos de desinformação que circulam nas redes sociais, sobretudo envolvendo candidatos à Presidência, como é o caso de Jair Bolsonaro.
O Comprova já mostrou que Bolsonaro foi aplaudido por embaixadores, ao contrário do que afirma post, que é montagem foto que mostra Bolsonaro passando de moto sob uma faixa “Vai trabalhar, preguiçoso!” em Salvador e que vídeos enganam para dizer que adesão a ato pró-Bolsonaro foi baixa.
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