Conteúdo verificado: Vídeo publicado no Facebook traz uma reportagem em vídeo do Jornal da Record e, em uma legenda sobre as imagens, a inscrição: “CoronaVac é proibido (sic) nos EUA e na Europa. Por isso que Bolsonaro não queria a Vacina Chinesa”.
É enganoso um vídeo publicado no Facebook que afirma que a vacina Coronavac tenha sido proibida na Europa e nos Estados Unidos. A agência reguladora europeia ainda analisa a segurança e eficácia do imunizante, enquanto a sua semelhante no país americano não fez essa análise.
A alegação enganosa foi inserida em cima de uma reportagem do Jornal da Record sobre um certificado de vacinação que será adotado pela União Europeia. A reportagem diz que o Parlamento Europeu aprovou tirar restrições para viajantes que já tenham sido vacinados com um dos imunizantes autorizados pelo órgão regulador do bloco econômico.
A Coronavac não está entre esses imunizantes até o momento de publicação deste texto. Porém, não é possível afirmar que brasileiros não podem entrar nesses locais, já que há outras formas para viajar tanto para a Europa quanto para os Estados Unidos.
O Comprova entrou em contato com o autor do post, que compartilhou a publicação em grupo no Facebook chamado “Bolsonaro 2022”, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
Primeiramente, fizemos buscas em sites de notícias para entender o que poderia ser a tal proibição. Também pesquisamos as páginas oficiais da European Medicines Agency (EMA) e do Food and Drugs Administration (FDA), onde são disponibilizados conteúdos sobre o andamento do processo de aprovação de vacinas no bloco europeu e nos Estados Unidos, respectivamente, e o site da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entramos em contato, por e-mail, com a Comissão Europeia e o FDA e tentamos falar com o autor do post por mensagem direta no Facebook, mas ele não respondeu até a publicação deste texto.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de maio de 2021.
Nos Estados Unidos, o FDA é o órgão regulador equivalente à Anvisa no Brasil. Ele avalia e garante a segurança e eficácia de remédios, produtos biológicos, alimentos e cosméticos. Assim, é ele quem avalia os dados obtidos em testes clínicos por candidatas a vacinas contra a covid-19, por meio de seu Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos Relacionados.
As pautas de todos os encontros do comitê estão disponíveis no site da FDA. O Comprova consultou os encontros de 2020 e 2021 e não encontrou nenhuma menção à vacina da Sinovac. Portanto, a vacina que no Brasil é chamada de Coronavac ainda não passou pela análise e não possui nem autorização nem recusa do comitê.
A postagem analisada afirma que ela “foi proibida” e isso pressupõe que ela já teria sido analisada e negada pela FDA, o que é falso. Ela não pode ser aplicada, mas isso pode mudar caso venha a passar pela análise e seja aprovada.
O Comprova perguntou ao FDA se a Sinovac já havia feito algum pedido de análise, mas o órgão respondeu por meio de sua assessoria que “não comenta testes clínicos de vacinas de covid-19 nem o contato estabelecido com nenhum dos fabricantes de vacinas sobre seus produtos em investigação”.
Até a publicação deste texto, o comitê havia analisado as vacinas das farmacêuticas Pfizer/BioNTech, Moderna e Janssen (Johnson & Johnson). Todas elas foram consideradas seguras e eficientes em proteger contra o novo coronavírus e receberam autorização de uso emergencial, o que significa que elas podem ser aplicadas nos Estados Unidos.
Usada no Brasil, China, Turquia, Chile, Indonésia e outros países, a Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida por aqui em parceria com o Instituto Butantan, está sob análise contínua pela EMA (agência regulatória europeia).
A análise contínua é um processo pelo qual o órgão analisa dados de segurança e eficácia do imunizante conforme eles vão se tornando públicos. Com isso, é possível acelerar o processo de análise e a possível aprovação. Quando o comitê regulador decide que há dados suficientes, o laboratório ou empresa farmacêutica pode apresentar o pedido formal de autorização para uso.
A EMA começou a avaliar os dados da Coronavac no dia 4 de maio. Seu uso não ter passado por análise até agora não quer dizer que ela foi proibida na Europa.
Um ponto que está em discussão é a permissão para entrada de turistas de outros países nas nações que formam a União Europeia. O bloco defende que quem foi imunizado com as vacinas aprovadas para uso na região – BioNTech/Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen – possa viajar com o Certificado Digital Verde, que vem sendo chamado de “passaporte da vacina”. Mas quem não tiver sido vacinado e quiser viajar poderá apresentar teste negativo para a Covid ou comprovar que se recuperou da doença. Ou seja, não há uma proibição da Coronavac ou de qualquer outro imunizante.
Segundo a Comissão Europeia anunciou em 3 de maio, além de propor a entrada na União Europeia por motivos não essenciais, como turismo, de pessoas que tomaram uma das vacinas autorizadas pelo bloco, a intenção é permitir o acesso também daquelas que vêm de países com uma situação epidemiológica controlada.
Além disso, ainda de acordo com o órgão, a proposta pode ser ampliada para pessoas que receberam uma das vacinas que tenham concluído o processo de uso de emergência da OMS. Isso ainda deixaria de fora a Coronavac, mas incluiria a vacina Sinopharm, também fabricada na China.
Funcionaria da mesma forma que o imunizante, por exemplo, contra a febre amarela, cujo comprovante de vacinação é exigido para se entrar em alguns países como a Tailândia.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos da América concede, atualmente, permissão para a entrada de brasileiros com visto de estudante válido e matriculados em instituições de ensino locais e para viajantes qualificados que procuram entrar no país para fins relacionados a viagens humanitárias, resposta à saúde pública e segurança nacional.
Os viajantes internacionais para os Estados Unidos são obrigados a fazer um teste viral três dias antes do voo e fornecer documentação por escrito do resultado do teste de laboratório (papel ou cópia eletrônica) à companhia aérea.
Na Europa, a entrada de brasileiros saindo do Brasil também é permitida em alguns casos. Podem entrar, por exemplo, pessoas que têm cidadania de um dos países da União Europeia e essa liberação se estende para os familiares diretos, como filhos e cônjuge.
Quem estuda ou trabalha no continente, com uma carta específica do país em questão, e quem trabalha na saúde, com pesquisas ou em funções diplomáticas e militares, também consegue um visto europeu.
Mesmo quem mora em um país europeu, entretanto, precisa fazer um exame para detectar a Covid-19 e, em caso positivo, não poderá viajar. Além disso, algumas nações recomendam quarentena compulsória antes de voltarem à rotina.
Existem países que fazem parte do território europeu e que estão aceitando a visita de brasileiros. A maioria deles não faz parte da União Europeia ou do Espaço Schengen, o que explica a liberação para os moradores do Brasil que estão viajando a turismo.
Entre os países da União Europeia que permitem a entrada de brasileiros em viagem para Europa estão a Croácia, Irlanda e Eslovênia. Além deles, outras nações do Velho Continente estão abertas aos brasileiros, sendo elas a Albânia, Andorra, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Macedônia do Norte e Sérvia.
Em sua 4ª fase, o Comprova checa conteúdos possivelmente falsos ou enganosos de redes sociais sobre a pandemia ou o governo federal e que tenham alcançado alto grau de viralização. Peças de desinformação sobre vacinas são nocivas porque enfraquecem a confiança da população no principal método disponível para controle da pandemia.
Desenvolvida pela empresa biofarmacêutica chinesa Sinovac Biotech e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, a Coronavac é, até agora, o imunizante mais aplicado no país e, desde que o governo de São Paulo anunciou sua inclusão no plano estadual de vacinação, no ano passado, tornou-se alvo de disputas entre o governador, João Doria (PSDB) e Bolsonaro.
Em outubro, o presidente chegou a desautorizar sua compra, já anunciada, pelo Ministério da Saúde. Desde então, apoiadores de Bolsonaro criticam o imunizante, como faz o post verificado neste texto ao dizer “Olha aí o problemão. Depois a culpa é do presidente da República Bolsonaro”. A postagem foi publicada no perfil de um usuário do Facebook e compartilhada no grupo de apoio ao presidente, somando 7,3 mil interações até o dia 11 de maio. No perfil a postagem somava 447 reações, 61 comentários e 2,6 compartilhamentos. Já no grupo foram registradas mais de 2,7 mil reações, 174 comentários e 1,4 compartilhamentos.
Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que usa dados imprecisos e que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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