Conteúdo verificado: Mensagem viral no WhatsApp diz que o governo sul-africano teria dito que a variante Ômicron, assim como o vírus da covid-19, não existem. Segundo o texto, as pessoas ficam doentes por causa de uma reação do corpo humano às proteínas spike, presentes na vacina
É falso que o governo da África do Sul tenha informado que a nova variante Ômicron do coronavírus não existe, e que o aumento de hospitalização identificado no país é resultado de reação à proteína spike, presente nas vacinas como afirma uma postagem disseminada por WhatsApp. Na verdade, em uma declaração publicada no site oficial do governo, o presidente Cyril Ramaphosa afirma que os cientistas sul-africanos identificaram a nova cepa.
Ouvido pelo Comprova, o virologista Flávio da Fonseca também afirma ser falsa a ideia de que o aumento de casos e hospitalizações na África do Sul seja causado pela proteína spike. Como os órgãos de saúde e cientistas já explicaram e Fonseca reforça, os sintomas são causados pelo RNA do vírus.
Ao contrário do que afirma o conteúdo, o Sars-CoV-2 existe, foi isolado e teve o genoma sequenciado em vários países, inclusive por universidades e centros de pesquisa brasileiros. A doença surge de um grupo de vírus conhecido – os coronavírus -, que já provocaram outras epidemias no passado, como as de Sars e Mers nas últimas duas décadas. Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, o Sars-CoV-2 é o sétimo coronavírus a comprovadamente infectar seres humanos.
Variantes são novas versões do vírus que passaram por alguma mutação durante o processo de replicação dentro do corpo do hospedeiro. No caso da Ômicron, como anunciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ela possui várias mutações em relação ao Sars-CoV-2 originalmente encontrado em Wuhan, na China.
Dados preliminares indicam que a cepa pode facilitar a reinfecção de indivíduos, o que fez com que fosse classificada como variante de preocupação. Pesquisadores ainda tentam descobrir se as mutações da Ômicron a tornam mais transmissível ou induzem a quadros mais severos entre os infectados.
O Comprova considerou o conteúdo falso porque ele foi inventado.
Primeiramente, buscamos no site do governo da África do Sul a posição do país em relação à variante Ômicron. Também entrevistamos especialistas para entender se era possível que as internações fossem provocadas pela reação às vacinas.
Buscamos informações nos sites de autoridades de saúde, como a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde brasileiro e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para entender o que são variantes de um vírus e o que esses órgãos dizem sobre elas.
Além disso, entrevistamos o microbiologista, virologista e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Flávio da Fonseca, sobre as mutações que compõem a Ômicron e sobre a proteína spike, mencionada no conteúdo verificado.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 2 de dezembro de 2021.
Em um comunicado divulgado no dia 28 de novembro, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, disse que, mais cedo, naquela semana os cientistas do país identificaram uma nova variante do coronavírus que causa a covid-19.
O chefe do Executivo afirmou que essa nova cepa foi chamada de Ômicron, sendo classificada como uma “variante de preocupação” pela OMS. Ele também adiantou que ela tem mais mutações do que as demais variantes identificadas anteriormente.
“A identificação precoce dessa variante é resultado do excelente trabalho feito pelos nossos cientistas na África do Sul e um resultado direto do investimento que os nossos departamentos de Saúde e de Ciência e Inovação têm feito na nossa capacidade de vigilância genômica”, celebrou Ramaphosa.
Além de negar a existência da Ômicron, o conteúdo checado inventa que “se trata de uma reação do corpo humano com as proteínas spike contidas nas vacinas, não há vírus”. Como já informado pelo Comprova em verificação anterior, a proteína citada é exclusiva do Sars-CoV-2, fica em sua superfície e é a parte que conecta o vírus às células humanas no início da infecção.
A variante Ômicron possui uma mutação com 50 alterações genéticas no total. Destas, 32 estão na proteína spike do vírus. Essas alterações são detalhes no genoma do vírus que, ao se multiplicar no corpo humano infectado, podem passar por essas mudanças.
O Comprova contatou o virologista Flávio da Fonseca para analisar o conteúdo verificado. “Essa informação é completamente incorreta, falsa e sem embasamento científico”, afirma Fonseca.
Flávio explica o procedimento feito na detecção de uma nova mutação: “Quando se detecta uma nova variante, não é detectada pela proteína S. Se isola o genoma do vírus e ali detectam as mutações, não na proteína. Embora elas sejam afetadas, o método de detecção não é feito através delas”.
O virologista ainda ressalta que os sintomas causados pela infecção da covid-19 (independentemente de qual variante seja) são resultado do contato do corpo humano com o RNA viral que o está afetando, não por conta da vacina.
Em um artigo em seu site, a Fiocruz explica que quando um vírus se replica dentro do corpo de um organismo, existe a possibilidade de ocorrerem erros na replicação, que são chamados de mutações. Quanto mais um vírus circula, como ocorreu com o Sars-CoV-2 ao se espalhar por todos os continentes, maiores são as chances de que ele passe por mutações, já que ele está se replicando mais e mais dentro de vários indivíduos.
Variantes são, portanto, vírus que passaram por uma ou mais mutações em parte de sua composição genética. Em geral, essas mudanças não têm impacto na capacidade do vírus de causar infecções ou doenças. Até junho deste ano, quando o texto da Fiocruz foi publicado, mais de mil variantes do coronavírus já haviam sido identificadas em todo o mundo. O problema acontece quando, durante essas mutações, o vírus se torna mais transmissível ou capaz de causar doenças mais graves. Essas são as chamadas “variantes de preocupação”.
A Organização Mundial da Saúde classificou a variante B.1.1.529 de variante de preocupação no último dia 26 de novembro, dando-lhe o nome de Ômicron. Desde o início da pandemia, o uso de letras gregas para representar as variantes foi adotado para facilitar a discussão com audiências não científicas. Por isso, outras variantes de preocupação ficaram identificadas como Alfa, Beta, Gama e Delta.
Identificada inicialmente pela vigilância genômica da África do Sul, mas já presente em outros países, a Ômicron tem um “vasto número de mutações, algumas das quais são preocupantes”, segundo a OMS. “Evidências preliminares sugerem um aumento no risco de reinfecções com essa variante em relação às demais”, indica a entidade.
No comunicado mais recente da OMS, do dia 28 de novembro, é dito que ainda não está claro se a Ômicron é mais transmissível ou pode tornar a doença mais severa, embora o número de infecções e de hospitalizações esteja em crescimento nas províncias sul-africanas onde a variante está circulando. Estudos têm sido conduzidos para determinar esses riscos.
Embora ainda limitados, os primeiros dados indicam que há mais chance de pessoas que já foram infectadas desenvolverem novamente a doença com a Ômicron. A OMS tem trabalhado para identificar o impacto da nova variante em quem se vacinou contra a covid-19. “Vacinas continuam tendo um papel crítico para reduzir casos graves e óbitos, inclusive em relação à variante dominante atualmente, a Delta”, afirma a entidade.
O Sars-CoV-2, causador da covid-19, é um vírus da família do coronavírus, capaz de causar doenças respiratórias em seres humanos, que podem ir desde resfriados até casos letais. Vírus dessa família já haviam causado as epidemias de Sars (Severe Acute Respiratory Syndrome) em 2003 e de Mers (Middle East respiratory syndrome coronavirus) em 2012. Segundo o Ministério da Saúde, este é o sétimo coronavírus conhecido a infectar seres humanos.
O vírus foi inicialmente isolado a partir de um surto da doença em humanos na província de Wuhan, na China, em dezembro de 2019, o que explica o nome covid-19, que vem de “coronavirus disease 2019”, ou “doença do coronavírus de 2019” em português.
As primeiras análises já mostravam que o Sars-CoV-2 era geneticamente muito similar aos coronavírus encontrados em morcegos e, ao mesmo tempo, estava bem adaptado aos receptores de células humanas, o que permitia que ele as invadisse de forma fácil, infectando pessoas.
Desde que a OMS declarou a doença uma pandemia, em março de 2020, o Sars-CoV-2 foi não só identificado como teve o seu genoma sequenciado por pesquisadores independentes de todo o mundo. No Brasil, a Fiocruz, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) foram algumas das instituições que mapearam o código genético do vírus.
Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia, as políticas públicas do governo federal e as eleições de 2022 que tenham viralizado nas redes sociais.
Quando o conteúdo é sobre o novo coronavírus, sua verificação é ainda mais necessária, já que informações equivocadas podem levar as pessoas a se colocarem em risco de contaminação ou evitarem estratégias de imunização, como as vacinas, consideradas pelas autoridades de saúde como principal instrumento para conter a disseminação do vírus.
O conteúdo verificado foi sugerido por leitores do Comprova via WhatsApp, onde circulou. Sugestões como esta podem ser encaminhadas pelo número (11) 97045-4984, ou clicando neste link. O mesmo conteúdo foi considerado falso por Aos Fatos e Boatos.org.
Recentemente, o Comprova publicou verificações mostrando como a desinformação tenta minar a confiança nas vacinas. Mostrou, por exemplo, que médico espalha tese infundada de que vacinados são perigosos e devem ser isolados; que a vacinação em massa não ampliou a taxa de mortalidade por covid, diferente do que afirma médico; e que uma ativista antivacina espalha boatos sobre AVC em pilotos e aborto em palestra.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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