Conteúdo verificado: Vídeo que alega que uma candidata a vereadora de Palmas começou a apuração das urnas com 1.111 votos e terminou com 58, sugerindo fraude no pleito.
É falsa a denúncia sobre uma suposta fraude nas eleições municipais de Palmas presente em um vídeo baseado em duas capturas de tela do aplicativo Resultados, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na primeira imagem, feita durante a apuração das urnas, a candidata a vereadora pelo Republicanos Rose Ribeiro parece estar com 1.111 votos. Na segunda, do resultado final do pleito, Rose tem apenas 58. A primeira imagem foi, contudo, alterada digitalmente e não representa a votação da candidata, que não foi eleita.
A manipulação pode ser percebida ao comparar a captura de tela viralizada com a interface do aplicativo do TSE em diferentes sistemas operacionais. Como verificado pelo Comprova, qualquer número superior a 999 aparece com um ponto de separação de milhar no aplicativo da corte, ao contrário do que é visto na captura de tela dos supostos votos iniciais de Rose Ribeiro. O padrão pode ser visto na captura de tela abaixo.
No Twitter, o Comprova também localizou dois registros de como estava a apuração de votos em Palmas em horários próximos ao da captura de tela compartilhada nas redes. Nenhum dos dois mostrava Rose com 1.111 votos.
Em nota oficial, o Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins (TRE-TO) negou a alegação viralizada, afirmando não ser possível alterar os dados inseridos nas urnas eletrônicas pelos eleitores.
As informações foram verificadas pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos de imprensa do Brasil para combater desinformações e conteúdos enganosos na internet. Participaram das etapas de checagem e de avaliação da verificação jornalistas de AFP, Rádio Band News FM, O POVO, Jornal do Commercio, UOL, Band, Jornal Correio, Estadão, Folha de S.Paulo, Gaúcha ZH e A Gazeta.
Para analisar a veracidade das capturas de tela, consultamos o portal de resultados do Tribunal Superior Eleitoral, confirmando que Rose Ribeiro terminou a votação do último dia 15 de novembro com 58 votos.
Em seguida, comparamos a captura de tela na qual Rose parecia ter 1.111 votos com a interface do aplicativo em diferentes sistemas operacionais: iOS, da Apple, Android, do Google, e a versão para desktop.
Para consultar como ocorreu a distribuição de votos ao longo da apuração das urnas na capital do Tocantins, buscamos no Twitter por publicações feitas no próprio dia 15 de novembro com as palavras-chave Palmas + vereadores. Essa pesquisa permitiu localizar dois registros de como estava a apuração às 17h37 e às 18h04 do dia do primeiro-turno.
Também consultamos o posicionamento oficial do TRE de Tocantins, publicado em seu site e, por fim, procuramos a candidata a vereadora Rose Ribeiro por e-mail e mensagem no Facebook, mas não obtivemos retorno até a publicação deste artigo.
Em um vídeo de 35 segundos, um homem é ouvido dizendo: Esse é o print da candidata Rose Ribeiro [ ] onde mostra que, antes da paralisação do sistema, ela tinha 1.111 votos e, quando o sistema voltou, ela ficou com apenas 58 votos. Então, o TSE tem por obrigação de responder essa pergunta: para onde foram os votos da candidata a vereadora Rose Ribeiro?.
Ao longo da gravação, são exibidas duas capturas de tela do aplicativo do TSE: uma, das 17h39, em que Rose parece ter 1.111 votos, e outra do resultado da eleição, que ela terminou com 58 votos.
Em um segundo vídeo também compartilhado nas redes, uma mulher que se identifica como Rose Ribeiro aparece junto a um grupo de pessoas em frente a uma unidade da Polícia Federal e afirma ter sido responsável por fazer o print viralizado.
Às 17h39, eu estava com 1.111 votos. Finalizou a eleição eu estou com 58 votos. Então, nós, que estamos aqui, nós queremos saber o que aconteceu. Nós queremos saber onde estão esses votos, não só o meu. O meu caso é o caso que eu consegui, por Deus, ter tirado o print no momento que eu vi a quantidade de votos, diz.
A captura foi, no entanto, alterada digitalmente.
Como demonstrado na comparação abaixo, qualquer número superior a 999 aparece com um ponto de separação de milhar no aplicativo Resultados do TSE, independentemente do sistema operacional utilizado. Isso não ocorre, contudo, com os supostos 1111 votos atribuídos a Rose na captura de tela compartilhada nas redes.
Publicações localizadas no Twitter fornecem mais um indício de que Rose Ribeiro não contabilizava 1.111 votos às 17h39 de 15 de novembro.
Após o fechamento das urnas do primeiro turno, um usuário publicou no Twitter uma captura de tela do aplicativo do TSE, feita apenas dois minutos antes do horário citado no vídeo às 17h37 na qual é possível ver a quantidade de votos dos candidatos a vereadores em Palmas.
Listado em primeiro lugar, com 1.042 votos, estava Marilon Barbosa (DEM). Como explicou a assessoria do TSE ao Comprova, durante a apuração das urnas o aplicativo da corte exibe os candidatos por ordem decrescente de votos. Ou seja: se Rose estivesse com 1.111 votos naquele momento, ela apareceria em primeiro lugar na lista.
Nesta captura, como nos testes realizados pelo Comprova, o número de votos superior a 999 também aparece com o ponto de separação de milhar.
Às 18h04, uma outra usuária compartilhou no Twitter capturas de tela de como estava a apuração de votos da cidade, segundo o Jornal do Tocantins. Como é possível verificar em seu site, este periódico também exibe os candidatos por ordem decrescente de votos.
Nos prints, Marilon Barbosa aparece em primeiro lugar, com os mesmos 1.042 votos. Da mesma maneira, Rose não aparece antes de Barbosa, ou mesmo figura na lista que apresentava os 25 candidatos mais votados naquele momento.
Em posicionamento oficial, o TRE de Tocantins negou que os votos de Rose Ribeiro tenham diminuído durante a apuração das urnas.
O Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins esclarece que o processo eleitoral é totalmente transparente e que não há como alterar os dados inseridos nas urnas eletrônicas pelos eleitores. Para conferir a lisura do processo, basta comparar a soma dos resultados dos boletins de urna, impressos na frente dos fiscais de partidos, ainda na seção eleitoral, com os dados disponibilizados pelo sistema da Justiça Eleitoral, diz a nota, publicada neste dia 18 de novembro.
O vídeo viralizado nas redes possui uma marca dágua do usuário do TikTok meupartidoeobrasil. Uma busca na rede social de vídeos por esse nome mostra, contudo, que o perfil não está mais disponível.
O Comprova entrou em contato com a Polícia Federal em Tocantins para saber se o órgão apura alguma irregularidade no pleito, mas não obteve retorno até a publicação deste artigo.
Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às eleições municipais, às políticas públicas do governo federal e à pandemia, como, por exemplo, o tuíte que afirmava que as justificativas de eleitores estavam sendo transformadas em votos válidos e a postagem que dizia que a votação estável ao longo da apuração em São Paulo era indício de fraude.
Apesar de apresentar uma denúncia local, o vídeo aqui verificado reflete um movimento amplo de descrédito de instituições eleitorais, que coloca em crédito a confiança dos brasileiros no sistema de votação como um todo e, por consequência, na democracia.
Em poucas horas, o vídeo foi visualizado dezenas de milhares de vezes no Twitter e sua alegação central foi replicada em diversas outras publicações no Facebook, YouTube e Instagram.
Esse conteúdo também foi verificado pelo site de checagem e-Farsas.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu conteúdo original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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