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E-mail da Pfizer revela alerta a Bolsonaro já em março de 2020

E-mail da Pfizer revela alerta a Bolsonaro já em março de 2020

Em mensagem, farmacêutica informou ao presidente que  já buscava soluções contra o vírus. Existência ou não de respostas do governo a Pfizer se tornou um dos temas centrais de comissão do Senado

Publicado em 21 de maio de 2021 às 21:06

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O presidente Jair Bolsonaro
O presidente da República, Jair Bolsonaro. (Alan Santos/PR)

Com assunto "COVID-19-Pfizer Update", um e-mail do presidente mundial da Pfizer foi enviado à chefia de gabinete da Presidência da República no dia 17 de março de 2020 informando ao presidente Jair Bolsonaro medidas em andamento para ajudar no combate à pandemia.

O e-mail, ao qual o jornal Folha de S.Paulo teve acesso, foi entregue à CPI da Covid do Senado em caráter sigiloso. A mensagem foi enviada aos endereços [email protected], [email protected] e [email protected]. Pedro César era o chefe de gabinete de Bolsonaro na época. Hoje, ele é subchefe para assuntos jurídicos da Presidência.

A comunicação ocorreu seis dias depois de a Organização Mundial de Saúde  (OMS) decretar estado de pandemia no mundo.

No e-mail, Albert Bourla, CEO da Pfizer, se dirige diretamente a Bolsonaro e informa que a empresa, naquele momento, já buscava soluções contra o vírus para ajudar o mundo durante "tempos sem precedentes". Diz ainda que anexou documento com os principais pontos de compromissos adotados naquele momento.

O texto foi encaminhado com cópia para, além do gabinete presidencial, a chefia de gabinete do Ministério da Saúde, o gabinete da secretaria-executiva da pasta e o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster.

"A Pfizer continua a manter suprimentos de medicamentos críticos hospitalares e está em busca de soluções médicas contra a Covid-19. Ela também anunciou um plano de cinco compromissos para avançar nesse processo", diz o email.

A existência ou não de respostas do governo a Pfizer se tornou um dos temas centrais da CPI.

A Folha de S.Paulo revelou que uma série de e-mails entregue pela Pfizer à CPI da Covid em caráter sigiloso mostra a insistência da farmacêutica para negociar vacinas com o governo e a ausência de respostas conclusivas do Ministério da Saúde à proposta apresentada pela empresa no meio do ano passado.

No intervalo de um mês, de 14 de agosto a 12 de setembro de 2020, quando o presidente mundial do laboratório mandou carta ao Brasil com uma oferta de doses de vacina, foram ao menos dez e-mails enviados pela farmacêutica discutindo e cobrando resposta formal do governo.

Em depoimento à CPI da Covid na semana passada, o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, relatou esse pacote de cinco medidas, citado no email de março de 2020, a serem tomadas durante a pandemia que havia sido desenhado pelo CEO da companhia e enviado ao governo.

O primeiro ponto era tornar as ferramentas e conhecimentos da empresa abertas a cientistas. O segundo envolvia mobilizar os cientistas da empresa para buscarem soluções de combate à pandemia.

"O terceiro ponto desse plano consistia em colocar à disposição toda a nossa expertise, como companhia, no desenvolvimento de uma solução terapêutica, especialmente para as companhias biotecnológicas menores", contou Murillo. O quarto ponto previa colocar à disposição a "expertise e capacidade de fabricação de medicamentos" mesmo que a solução fosse encontrada por outra empresa.

O quinto era o que eles chamaram de "colaboração sem precedentes" tanto no nível privado como público-privado. "Talvez o melhor exemplo do resultado dessa colaboração foi a parceria da Pfizer com a empresa biotecnológica BioNTech", disse Murillo à CPI. "Hoje estamos aqui e temos esta possibilidade de falar de vacinas em grande medida como resultado dessa colaboração sem precedentes"

"Como consequência desse esforço sem precedentes, nós fomos capazes de oferecer para o mundo a primeira vacina eficaz e segura contra a Covid-19", afirmou Murillo. Não é possível saber se houve resposta da presidência. O Palácio do Planalto foi procurado, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.

Segundo documentos da Pfizer que estão na CPI da Covid, o próximo contato que a farmacêutica fez com o governo foi no dia 20 de maio, dois meses, portanto, do primeiro email enviado a Bolsonaro.

Naquela data, em maio, a empresa pede audiência ao ministro da Saúde e ao vice-presidente da República com o então presidente da Pfizer no Brasil para tratar de avanços da farmacêutica no combate à Covid.

Daquela troca de e-mails é agendada uma reunião virtual entre representantes da Pfizer e técnicos do governo brasileiro para o início de junho. No final daquele mês, a farmacêutica procura novamente o Ministério da Saúde, desta vez para falar sobre o desenvolvimento da vacina.

Pouco tempo depois, o laboratório assina Termo de Confidencialidade com o governo brasileiro, em 14 de julho, e, no dia 21 daquele mês, a Pfizer envia ofício ao ministério confirmando a participação do Brasil no estudo clínico de estágio final da vacina, que havia sido aprovado pela Anvisa.

Ainda no dia 21, a Pfizer reitera solicitação de audiência para apresentar uma proposta da Pfizer de fornecimento de vacinas. Um email do laboratório indica que uma audiência ocorreu no dia 29 daquele mês.

Outros e-mails são trocados até que nova reunião acontece no início de agosto. Depois desta audiência, no dia 14 daquele mês, como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo, a Pfizer formaliza por email enviado a autoridades e técnicos do Ministério da Saúde duas propostas de fornecimento de vacinas: uma com 30 milhões de doses e outra, com 70 milhões, cujos termos eram válidos por 15 dias, encerrados em 29 de agosto.

As informações da CPI mostram que os emails enviados pela Pfizer ao Ministério da Saúde, evidenciam a insistência da farmacêutica para negociar vacinas com o governo federal, ao mesmo tempo que deixam clara a ausência de respostas conclusivas às propostas apresentadas pela empresa.

Houve dois contatos telefônicos no período entre técnicos do Ministério da Saúde e representantes da Pfizer, mas os documentos da farmacêutica indicam que não houve nenhuma resposta conclusiva do governo sobre a oferta que havia sido feita.

Passada a data limite para assinatura do contrato, em 29 de agosto, houve novo e-mail da Pfizer a técnicos do ministério respondendo a pedido de informação com dados sobre a vacina até que, em 12 de setembro, foi encaminhada ao presidente Jair Bolsonaro com cópia para outras autoridades a carta do presidente mundial da Pfizer, Albert Bourla, na qual ele afirma que não houve resposta do governo brasileiro à proposta apresentada pela farmacêutica.

"Minha equipe no Brasil se reuniu com representantes de seus Ministérios da Saúde e da Economia, bem como com a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Apresentamos uma proposta ao Ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiros, mas até o momento não recebemos uma resposta", diz a carta.

As tratativas só são intensificadas novamente no final de outubro, passando por negociacões em novembro até o Brasil finalmente apresentar uma contraproposta à oferta da Pfizer em dezembro.

Durante a troca de emails, representantes do laboratório deixam claro que o fato de não terem ainda o registro da vacina na Anvisa não seria um problema ao Brasil já que o contrato só seria assinado após a autorização para uso do imunizante. Ou seja, não haveria prejuízo financeiro ao Brasil.

A oferta da Pfizer previa início de imunização em dezembro do ano passado, com 1,5 milhão de doses e mais 3 milhões no primeiro trimestre deste ano.

O Ministério da Saúde brasileiro só firmou acordo com o laboratório em março de 2021, quando adquiriu 100 milhões de doses --das quais 14 milhões devem ser entregues até junho, e o restante até setembro deste ano.

Em depoimento à CPI nesta semana, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi questionado sobre o assunto e classificou a insistência do laboratório como "agressiva"."Eu acredito que a estratégia de venda da Pfizer, a forma agressiva da publicidade, aquilo ali é uma estratégia de empresa. Então, ela veio muito forte para vender no Brasil, no boom da América Latina, o que é normal", disse.

Senadores que integram o grupo majoritário da CPI da Covid, formado por independentes e oposição, consideram que os emails enviados pela Pfizer comprovam a omissão do governo nas tratativas para comprar vacinas contra a Covid-19.

O lado governista da comissão, por sua vez, considera que essas comunicações fazem parte de um esforço para se criar uma narrativa falsa contra o governo do presidente Jair Bolsonaro.

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