O empresário Eduardo Riedel (PSDB), 53, foi eleito governador de Mato Grosso do Sul neste domingo (30), segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O tucano derrotou o deputado estadual Capitão Contar (PRTB), que havia chegado ao fim do primeiro turno na liderança da disputa, depois de contar com um "empurrãozinho" do presidente Jair Bolsonaro (PL) num debate da TV Globo.
Com 92,85% das urnas apuradas, Riedel tinha 56,43% dos votos válidos e não poderia mais ser ultrapassado por Contar, que somava 43,57%.
Riedel pela primeira vez concorreu a um cargo eletivo e teve uma disputa muito acirrada no segundo turno contra Contar, revertendo a desvantagem em relação ao turno inicial, em que terminou na segunda posição.
Ele foi secretário de Governo e de Infraestrutura do atual governador, Reinaldo Azambuja (PSDB), que conseguiu eleger o sucessor, escolhido apesar de ser considerado um ilustre desconhecido para a maioria da população.
Àquela época, a decisão custou a Azambuja o apoio da ex-vice-governadora e deputada federal Rose Modesto, que, sem conseguir espaço no ninho tucano, migrou para o União Brasil e concorreu ao governo estadual.
Rose terminou a disputa em quarto lugar e anunciou apoio a Contar no segundo turno da eleição sul-matogrossense.
No PSDB há 19 anos, Riedel é um empresário que faz parte do agronegócio, setor que deu a ele muitos apoios na campanha eleitoral. Chegou à vice-presidência da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil) e presidiu a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul).
Teve como cabo eleitoral importante em toda a sua campanha um nome justamente do setor, a senadora eleita Tereza Cristina (PP), ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro, que recebeu 60,85% dos votos válidos no estado.
Também foi apoiado por Simone Tebet (MDB), terceira colocada na disputa à Presidência da República e que é sul-matogrossense.
A campanha de Riedel explorou na campanha o fato de ele ser desconhecido do cenário eleitoral. O candidato se apresentava ao eleitor nas ruas e brincava com o fato de muitos desconhecerem a pronúncia do nome (lê-se "Rídel").
Para justificar, dizia que não buscou holofotes enquanto ocupou secretarias e que esteve ocupado trabalhando por Mato Grosso do Sul.
Ainda no primeiro turno, a disputa ao governo de Mato Grosso do Sul foi redesenhada a partir do debate da TV Globo, no dia 29 de setembro. Provocado pela candidata à presidência Soraya Thronicke (União Brasil), Bolsonaro acabou declarando apoio a Contar no Estado.
Esse fator foi determinante para que o Contar fosse ao segundo turno, deixando para trás figuras políticas conhecidas como o ex-governador de Mato Grosso do Sul André Puccinelli (MDB) e o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD).
Contar avançou ao segundo turno com 26,71% dos votos válidos, enquanto o governador eleito recebeu 25,16%. Puccinelli ficou com 17,18%, na terceira colocação, e Trad obteve 8,68% dos votos válidos, na sexta posição.
A diferença entre os dois candidatos, em números absolutos, foi de 22.294 votos. Enquanto Riedel recebeu 361.981 votos, Contar avançou com 384.275.
Coube à ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina o trabalho de minimizar os danos da fala de Bolsonaro, já que o PL está na coligação de Riedel. Dias depois, Bolsonaro gravou um vídeo em que se dizia neutro na disputa sul-mato-grossense, justamente por ter o apoio dos dois concorrentes.
O vídeo do debate, porém, foi arma recorrente de Contar, que o utilizou à exaustão em sua campanha. A coligação de Riedel entrou na Justiça Eleitoral contra a estratégia, alegando que induzia o eleitor ao erro.
A decisão judicial foi de que a fala de Bolsonaro poderia ser usada, desde que contextualizada e explicando a neutralidade posterior do candidato.
Outra estratégia do concorrente foi associar o nome de Riedel ao atual governador, Reinaldo Azambuja, alegando que ele não representava renovação por ter sido secretário durante a gestão tucana.
Também fazia alusão a investigações que envolveram o nome de Azambuja, como forma de ligar o candidato a esses casos.
No contra-ataque, a campanha de Riedel evidenciava a falta de experiência administrativa do concorrente. Militar reformado, Contar foi eleito deputado estadual em 2018 e, até então, não tinha ocupado nenhum cargo no Legislativo ou no Executivo.
O tucano também se aproveitou das ausências do concorrente nos debates na reta final. Dizia que Contar desrespeitava o eleitor e tinha medo do embate, aproveitando o espaço para se vender como gestor experiente.
Agora, quando assumir o Governo de Mato Grosso do Sul, no próximo dia 1º de janeiro, Riedel terá desafios como combater as queimadas no Pantanal e preservar o bioma -que em 2020 teve recorde de incêndios- e desenvolver a logística no estado, essencial para o escoamento da produção agrícola.
Politicamente, o futuro governador terá de contribuir para evitar que o PSDB encolha ainda mais no cenário nacional.
Os tucanos elegeram somente 13 deputados federais no último dia 2, o que fará com que a sigla passe a ter a partir de 2023 o tamanho de legendas menores no Congresso, e somente quatro candidatos do partido disputaram o segundo turno das eleições para governadores -os outros foram no Rio Grande do Sul, Pernambuco e Paraíba.
Além disso, o partido perdeu a hegemonia de quase 30 anos governando São Paulo, já que Rodrigo Garcia não avançou sequer ao segundo turno.
O candidato liderava a Coligação Trabalhando por um Novo Futuro, que reuniu, além de PSDB, outros seis partidos (Cidadania, Republicanos, PP, PSB, PL e PDT). O vice-governador eleito é o atual deputado estadual Barbosinha (PP).
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