O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid do Senado, Omar Aziz (PSD-AM), falou neste domingo (9) em "promiscuidade" por parte da gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello à frente da Saúde e defendeu que essa condução pelo general não seja confundida com a imagem do Exército brasileiro. "Fui deixar muito claro para que não queiram envolver uma instituição como o Exército brasileiro nessa promiscuidade que foi a gestão dele na Saúde. Para deixar claro isso", disse o senador ao comentar o adiamento do depoimento de Pazuello à CPI, que foi comunicado a ele pelo comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.
Em entrevista ao historiador Marco Antonio Villa divulgada neste domingo no Youtube, Aziz disse que a situação que envolveu a remarcação do testemunho de Pazuello já é "ponto superado", e condenou a forma como o presidente Jair Bolsonaro se porta diante das relações com a China. "O governo não é eterno, tem mandato de quatro anos, pode ser renovado por mais quatro, mas um dia sai. Agora, nossa relação com o povo chinês é histórica. E começa aí o problema. Estamos cutucando onça com vara curta. O presidente, que é o chefe maior de uma nação, comandante de uma nação, nesse momento, o equilíbrio dele é importante para que a gente possa sair dessa pandemia", avaliou o senador.
Sobre a ida de Pazuello à CPI, cujo depoimento foi remarcado para o dia 19 de maio, Aziz disse ainda que não irá discutir a "palavra" do comandante do Exército, responsável por comunicar a ele sobre a necessidade de ex-ministro entrar em quarentena após ter tido contato com infectados pela covid. "Para mim, a palavra do general Paulo Sergio tem fé pública, não vou discutir, e não quero provas, se general me falou nisso, tenho que acreditar no comandante do Exército", declarou Aziz. "Quem foi lá foi o Onyx Lorenzoni, ministro da Secretária-Geral da Presidência, que tem que estar preocupado em não contrair covid. Eu digo isso a todos que foram lá visitá-lo", afirmou também o senador sobre a visita - revelada pelo Estadão, de Onyx a Pazuello dias depois de pedir o adiamento da oitiva.
Para Aziz, Bolsonaro não pode querer fazer "guerra" contra a CPI. Neste sábado, o chefe do Executivo voltou a reclamar dos trabalhos da comissão, que chamou de "vexame". No dia anterior, Bolsonaro havia direcionado um recado aos membros do colegiado: "Portanto, você é livre para escolher, com o seu médico, qual a melhor maneira de se tratar. Escolha e, por favor, não encha o saco de quem optou por uma linha diferente da sua, tá ok?".
"A nossa guerra, de todos nós, é contra o vírus, contra a covid. 'Ah, o presidente vai ser 'impeachmado'. Não, não tem nada disso. Presidente não está sendo investigado, até porque nós não podemos nem investigar o presidente. O que está sendo investigado são atos que o Ministério da Saúde ou por omissão ou por erro ou por vontade política não fez a coisa certa", respondeu Aziz sobre as críticas do presidente.
O presidente da CPI disse ainda que os problemas no enfrentamento à covid não se deram por falta de dinheiro e citou a recusa, no ano passado, do governo federal em fechar um contrato de compra de vacinas com a Pfizer. "Um exemplo, por que a gente não comprou as 70 milhões de doses da Pfizer no ano passado, que teria imunizado 35 milhões de brasileiros? Até hoje a gente não conseguiu chegar nesse número de imunização", citou o senador, para quem, "pelo andar na carruagem" no Brasil e pela forma como o governo brasileiro está tratando a doença, os brasileiros não poderão aproveitar o carnaval nem no próximo ano.
"No momento que a gente tinha que ter participado de consórcio, ter apostado na pesquisa de vacina, o Brasil se ausentou, não quis fazer essa aposta", opinou o senador, lembrando que o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Antônio Barra Torres, falará à CPI nesta semana e poderá discutir com os senadores sobre os diversos imunizantes que estão no mercado e como o Brasil pode ter autonomia para produzir a vacina contra a covid-19 sem depender de insumos de outros de países.
O presidente da CPI afirmou que o colegiado, além de investigar, precisa apresentar propostas. Por isso, classificou como "importante" que depois do primeiro mês de trabalho a comissão já tenha relatórios preliminares para servir a encaminhamentos. "Um deles é que a gente faça uma lei que torna crime quem fica prescrevendo (remédio) sem ser profissional de saúde, principalmente na internet", reforçou. Segundo Aziz, a partir dos documentos já requisitados pela CPI, os senadores terão pelo menos "um milhão de páginas" para se debruçar.
Aziz ainda disse não ver, no momento, elementos que justifiquem uma convocação de Carlos Bolsonaro, que é filho do presidente e vereador no Rio de Janeiro. Para ele, não há crime na presença de Carlos em reuniões no Planalto, sendo necessário cuidado por parte dos integrantes do colegiado para que não se politize a CPI ao envolver os filhos do Bolsonaro.
Segundo Aziz, Carlos só seria convocado caso se aponte que o vereador interferiu diretamente em diretrizes do Ministério da Saúde no enfrentamento à pandemia. "Então, temos que ter muito cuidado para que não se interprete por parte de segmento da sociedade que quer que a gente faça investigação séria. Se tiver algo concreto contra o vereador Carlos que interveio no direcionamento do ministério em relação à covid, é lógico que vamos chamá-lo, mas até hoje não existe isso", disse o senador.
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