A Polícia Civil de Joinville, em Santa Catarina, investiga caso racismo e ameaça de morte contra vereadora eleita Ana Lucia Martins, do PT, primeira negra da história da Câmara Municipal da cidade. Ela foi alvo de ataques racistas nas redes sociais após ter sido eleita domingo (15). Por meio de um perfil falso, pessoas que se dizem membros de uma denominada "juventude hitlerista" publicaram mensagens de ódio e com ameaças de morte. "Agora só falta a gente m4t4r el4 e entrar o suplente que é branco (sic)", dizia uma das mensagens.
Ana registrou boletim de ocorrência ontem e prestará depoimento na delegacia. Ela foi eleita no domingo com 3.126 votos - a sétima mais votada na cidade. O caso é investigado pela Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCAMI). O inquérito é conduzido pela delegada Cláudia Gonçalves.
Ainda no domingo da eleição, as redes sociais de Ana foram invadidas, e fotos e dados da biografia da candidata foram apagados. Ela disse ter sido alvo também de comentários velados por um radialista da cidade. "Ele deixou bem claro que o meu mandato não é bem-vindo em Joinville", disse.
Professora aposentada, Ana fez uma campanha pautada nas bandeiras do movimento negro e das mulheres negras. "Sabia que não seria fácil. Estava ciente que enfrentaria uma certa resistência em uma cidade que elegeu apenas na segunda década do século 21 a primeira mulher negra. Só não esperava ataques tão violentos e com aval de parte de pessoas que se declaram 'profissionais da imprensa'", escreveu Ana nas redes sociais.
Em Santa Catarina, pesquisadores apontam existir ao menos 69 células neonazistas de 340 espalhadas pelo País. Recentemente, ao tomar posse como governadora interina, Daniela Rainehr (sem partido) teve dificuldades em dizer que não concorda com os ideais de seu pai, Altair Reinehr, que já escreveu artigos de teor antissemita negando a existência do holocausto judeu e outros crimes da Alemanha nazista. Após críticas, a governadora interina diz ser 'contrária ao nazismo'.
Sexto colocado na corrida eleitoral para a prefeitura de Porto Alegre, Valter Nagelstein (PSD) criticou de maneira racista os vereadores recém-eleitos pelo PSOL na cidade. Dos 36 recém-eleitos, cinco são negros - um recorde na cidade. Em 2016, apenas um vereador negro era eleito.
"Muitos deles jovens, negros. Vereadores esses sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência e nenhum trabalho e pouquíssima qualificação formal", afirmou Nagelstein em mensagem de áudio dirigida a seus seguidores.
"Tomaremos as medidas legais cabíveis", disse nesta quarta, 18, o historiador Matheus Gomes (PSOL), negro e quinto mais votado para a Câmara Municipal. "Não aceitaremos nenhum tipo de desqualificação racista."
Para a vereadora Laura Sito (PT), a declaração reflete "o ódio da elite" brasileira.
"Ele vai ser cobrado por isso, acabou o tempo em que os racistas tinham folga em POA (Porto Alegre)", acrescentou o vereador Gomes.
Após repercussão, o Núcleo de Estudos Judaicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) emitiu uma nota de repúdio intitulada "Valter Nagelstein não representa a comunidade judaica gaúcha".
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