Em um encontro para estreitar laços e trabalhar junto com a Faculdade de Medicina da USP no combate à Covid-19, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tentou se esquivar do assunto pandemia. Ele esteve com médicos e professores na instituição paulistana na manhã desta quinta-feira (25), após visitar o vizinho Hospital das Clínicas.
Durante sua fala, Queiroga disse que teve abertura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para criar a equipe como preferisse e que se aproximar da academia nesse momento é importante. Mas, quando questionado por professores presentes sobre as ações de enfrentamento ao vírus, desconversou. Sobre o tratamento precoce, que não tem eficácia comprovada, também se esquivou dizendo que os médicos têm autonomia.
Marco Mello, presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, foi o mais enfático ao ler um manifesto e questionar o ministro.
"Podemos esperar do senhor respeito para com a medicina baseada em evidências ou será apenas mais uma gestão que desprezará as medidas de isolamento e incentivará o uso de medicamentos sem eficácia comprovada?", perguntou.
Mello também o questionou sobre o tratamento precoce, que não tem eficácia comprovada. Queiroga, entretanto, evitou uma resposta direta. Respondeu pedindo um voto de confiança e dizendo: "Quem vai avaliar minha gestão é a história. Vamos olhar para a frente, vamos deixar de gerar calor. Nós queremos é luz. Luz, não calor".
Do lado de fora da sala, cerca de 100 estudantes gritavam "fora, genocida", "fora, Bolsonaro", "pela vida", o que era ouvido com constrangimento pelos participantes do encontro a cada vez que a porta se abria.
Em certo momento, as duas telas que exibiam convidados virtuais foram invadidas por imagens do protesto. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, que também participou do encontro, comentou os protestos em sua fala: "Não recrimino, é próprio da juventude. Já fiz muito barulho". Ele disse ainda que o "governo acredita, sim, na ciência" e que não é negacionista.
Mais cedo, um grupo de 20 estudantes ligados a organizações como UNE (União Nacional dos Estudantes) e Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) aguardava a passagem do ministro pelo portão principal da faculdade, o que não ocorreu.
Eles levaram uma faixa de mais de dez metros com a inscrição "A gripezinha já matou 300 mil brasileiros. Fora, genocida" --a bandeira foi reaproveitada de protestos anteriores, de quando o Brasil atingiu 100 mil mortos pela Covid-19. "Atualizamos o número, mas até que número de mortos vamos atualizar?", questionou Isis Mustafá, diretora de relações internacionais da UNE.
"Estamos aqui para protestar contra um projeto do presidente que nega a existência do coronavírus, um projeto de governo genocida", completou Rozana Barroso, presidente da Ubes.
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