Investigadores que acompanharam nesta terça-feira (12) a exibição do vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril no Palácio do Planalto avaliam que o conteúdo da gravação é devastador para o presidente Jair Bolsonaro. Um deles destacou que a gravação escancara a preocupação do presidente com um eventual cerco da PF a seus filhos.
O vídeo é ruim para Bolsonaro, muito ruim, anotou. Segundo tal investigador, o vídeo da reunião ministerial confirma que o presidente Jair Bolsonaro justificou a necessidade de trocar o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro à defesa de seus próprios filhos, confirmando cabalmente as acusações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro que atribui ao presidente tentativa de interferência na corporação.
O registro da reunião foi exibido nesta terça, a um restrito grupo de pessoas autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, relator do inquérito sobre suposta tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF. A exibição foi realizada no Instituto Nacional de Criminalística da corporação em Brasília, em ato único conforme determinado por Celso de Mello com participação de Moro, integrantes da Advocacia-Geral da União e procuradores e investigadores que acompanham o caso.
Após a exibição o advogado de Moro, Rodrigo Sánchez Rios, afirmou que o material confirma integralmente as declarações dadas pelo ex-juiz tanto no anúncio de sua demissão quanto no depoimento prestado à Polícia Federal no último dia 2. Em nota, o advogado afirmou ainda que o vídeo não possui menção a nenhum tema sensível à segurança nacional e defendeu que a íntegra da gravação seja tornada pública.
Nesta segunda, 11, às vésperas da exibição do vídeo, Bolsonaro afirmou que tem zero preocupação com a gravação e que decidiu entregar o vídeo pela verdade acima de tudo. No entanto, o presidente disse esperar que apenas trechos que envolvam o inquérito sejam divulgados. Ele afirmou que oda reunião foi bruto, pois era reservado e se fosse em público teria usado uma forma mais polida.
Antes de entregar a mídia ao Supremo, a Advocacia-Geral da União alegou que a gravação tratava de assuntos potencialmente sensíveis de Estados e pediu para remeter apenas trechos. Depois pediu que a divulgação se restringisse aos trechos do inquérito e ainda pediu que fosse definida a cadeia de custódia da gravação.
Em depoimento à PF, Moro afirmou que, na reunião, da qual participaram ministros, Bolsonaro cobrou a substituição do superintendente do Rio e do então diretor-geral da polícia, Maurício Valeixo, além de relatórios de inteligência e informação da corporação. A troca da Superintendência do Rio é ponto central das investigações envolvendo uma possível interferência do presidente na corporação. Segundo o ex-ministro Sergio Moro, Bolsonaro tentava interferir na PF.
Após a saída de Moro, Bolsonaro conseguiu trocar o comando da PF no Rio.O novo diretor-geral da PF, Rolando Souza, decidiu trocar a chefia da Superintendência da PF no Rio de Janeiro, foco de interesse da família de Jair Bolsonaro, como revelou o Painel.
Segundo pessoas que assistiram o vídeo contaram à Folha, Bolsonaro chamou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu desafeto, de bosta. A autoridades governo do Rio de Janeiro, reservou o termo estrume. O filme tem outros ?momentos que suscitariam constrangimento político para o governo.
Um dos presentes à exibição relatou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) tinham de ir para a cadeia. O vídeo tem aproximadamente duas horas. O início da sessão para mostrá-lo atrasou porque foi necessário realizar o espelhamento da mídia, procedimento técnico de perícia, para assegurar a integridade dos arquivos originais. O procedimento durou quase três horas. Moro e os demais presentes tiveram que permanecer sem celular.
*Com informações da Folhapress
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