O presidente Jair Bolsonaro publicou, nesta terça-feira (7), um vídeo nas redes sociais em que toma uma dose de hidroxicloroquina e afirma que, "com toda certeza", o tratamento para o novo coronavírus "está dando certo". "Eu confio na hidroxicloroquina, e você?", argumenta.
O chefe do Executivo foi diagnosticado com a doença nesta terça. Entusiasta do medicamento, Bolsonaro ressalta no vídeo que estava "mais ou menos no domingo, mal na segunda-feira" e hoje está "muito melhor" devido ao remédio.
"Sabemos que hoje em dia existem outros remédios que podem ajudar a combater o coronavírus, sabemos que nenhum tem a sua eficácia cientificamente comprovada, mas mais uma pessoa que está dando certo", diz em referência a si próprio logo após tomar um copo de água para engolir o medicamento. Na publicação, Bolsonaro destaca que está na terceira dose do remédio.
Desde o início da pandemia, o presidente entrou em sintonia com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na defesa do uso da hidroxicloroquina associada à azitromicina como solução para o avanço do novo coronavírus. Nenhum estudo científico até o momento, entretanto, confirmou a eficácia do remédio, que pode causar danos colaterais graves.
Mesmo assim, Bolsonaro pressionou o Ministério da Saúde até a pasta aderir a protocolo de tratamento à Covid-19 não só para casos graves, mas também para pessoas com sintomas leves da doença. O presidente determinou, inclusive, que as Forças Armadas ajudassem na produção do remédio. O Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército já gastou mais de R$ 1,5 milhão para ampliar, em 100 vezes, sua produção de cloroquina.
A ampliação da produção entrou na mira do Tribunal de Contas da União, que quer saber se houve superfaturamento nas compras do produto e se houve má aplicação de recursos públicos por Bolsonaro ao determinar a ampliação da produção sem comprovação científica adequada.
O laboratório do Exército firmou ao menos 18 contratos para comprar a cloroquina em pó e outros insumos de fabricação, como papel alumínio e material de impressão, ao custo total de R$ 1.587.549,81, segundo cálculos feitos pela Repórter Brasil com base no portal de compras do governo federal. Quase 95% dos gastos foram para a compra de 1.414 kg de cloroquina em pó.
As compras, sem licitação, fazem parte das ações de enfrentamento à pandemia. Os recursos vieram do Tesouro Nacional e foram repassados ao laboratório pelo Ministério da Defesa.
Mesmo sem a comprovação de eficácia indicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), vários centros pelo país já anunciaram o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes diagnosticados com a Covid-19. A prática é criticada por associações médicas, pesquisadores, especialistas que atuam no combate ao novo coronavírus.
A líder de equipe para Implementação de Pesquisas da Organização Mundial de Saúde (OMS), Ana Maria Henao Restrepo, comentou sobre os testes em andamento de medicamentos para a Covid-19. Durante entrevista coletiva, ela lembrou que a hidroxicloroquina foi testada no estudo comandado pela OMS, mas "infelizmente, não teve os resultados positivos que gostaríamos" contra a enfermidade.
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