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Empresa promovida por Trump pode fornecer testes ao Brasil

Empresa promovida por Trump pode fornecer testes ao Brasil

A negociação "de emergência", iniciada no dia 20 de abril, foi feita sem licitação, por meio de um chamamento às empresas interessadas em fornecer os testes

Publicado em 26 de maio de 2020 às 11:59

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Data: 12/03/2020 - Profissional em laboratório realiza teste de coronavírus. Freepik
Profissional em laboratório realiza teste de coronavírus. (Freepik)

A disputa milionária aberta pelo Ministério da Saúde para comprar testes rápidos da Covid-19 passou por uma reviravolta. A empresa Abbott, inicialmente desclassificada, conseguiu reverter sua situação e pode vencer o certame para fornecer 7 milhões de exames ao custo de R$ 259 milhões aos cofres públicos. Cada unidade sai por R$ 37, o preço mais baixo entre as candidatas.

A negociação "de emergência", iniciada no dia 20 de abril, foi feita sem licitação, por meio de um chamamento às empresas interessadas em fornecer os testes. Na época, o produto da Abbott ainda não tinha registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que inviabilizou a participação da empresa. Mas como a análise do ministério para a compra emergencial dos testes se arrasta por mais de um mês, deu tempo para a empresa conseguir, enfim, o registro e voltar ao páreo.

Os testes da Abbot ganharam projeção mundial nas últimas semanas. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu no dia 29 de abril a empresa na Casa Branca. Ele posou para fotos com o exame "ID NOW" e fez propaganda: "Quero agradecer pelo incrível trabalho que eles fizeram." Dias mais tarde, em 14 de maio, o Food and Drug Administration (FDA), espécie de Anvisa dos EUA, lançou "alerta" para possíveis "resultados inexatos" do exame e disse seguir em busca de mais dados e em contato com a empresa. A Abbott afirmou ao Estadão que o teste usado por Trump entrega "resultados confiáveis".

O produto oferecido ao Ministério da Saúde é outro, chamado de "Panbio COVID-19 IgG/IgM Rapid Test Device", e não foi alvo da análise do FDA. Não há também qualquer questionamento pela Anvisa.

O edital do ministério chegou a causar dúvidas entre empresas que apresentaram ofertas. Na leitura de alguns participantes, seria possível que mais de um laboratório vendesse ao governo, até chegar a 12 milhões de unidades. No documento mais recente sobre o edital, a pasta sinaliza que comprará apenas o teste da Abbott.

O chamado do ministério a empresas para a compra dos testes, sem licitação, foi lançado no dia 20 de abril. Baseado na legislação aprovada para enfrentar a pandemia, os governos têm feito compras emergenciais, sem licitação. Pela média de preço dos produtos ofertados, a compra toda poderia se aproximar de R$ 1 bilhão. Até o fim da segunda semana de maio, a disputa para fornecer testes rápidos era liderada pela Sallus, uma microempresa de Manaus sem histórico de fornecimento ao poder público.

O prazo para os lances se encerrou em 22 de abril. Este intervalo foi determinante para devolver a Abbott ao certame. As análises do ministério para a compra dos testes ocorrem em sigilo, mas foram entregues à reportagem por fontes que acompanham a discussão. Em ofícios, a pasta argumenta que a Abbott apresentava apenas um "protocolo de registro" quando ofereceu o teste e não há irregularidade em classificar a empresa no meio do processo.

Na atualização mais recente do edital entregue à reportagem, a Sallus passou para a terceira colocação. O laboratório público Bahiafarma segue em segundo. Ambas apresentam a mesma oferta: R$ 59, valor diferente do que consta em documentos da semana anterior, quando o melhor preço era da empresa de Manaus.

Como mostrou o Estadão, a Anvisa interditou a linha de produção de testes rápidos para dengue, zika e chikungunya da Bahiafarma, em 2019, após uma análise encontrar "resultados insatisfatórios" sobre "especificidade e sensibilidade" dos produtos. A agência também determinou o recolhimento dos exames. O governo pagou cerca de R$ 120 milhões pelos testes do laboratório em 2016 e R$ 160 milhões em 2017. A Bahiafarma diz que os testes para dengue e outras doenças cumprem com o prometido em bula.

Nas tratativas para compra de teste rápido para a covid-19, o ministério fez uma pesquisa de preços praticados por governos locais e hospitais do País. A média é de R$ 120, mais de três vezes superior ao ofertado pela Abbott. "Ressalta-se que o menor preço encontrado por meio das buscas aos supracitados sites (R$110,00), restou em um valor 197,30% superior ao ofertado pela empresa", escreveu o ministério.

ANÁLISE

Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou sobre a compra. No edital, a pasta afirma que vai submeter os testes comprados à análise do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS). A Abbott confirma que participou da licitação e não poderia oferecer mais detalhes porque o processo é confidencial. 

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