A Coronavac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech, virou alvo de polêmica, em meio a uma briga política envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e o governo de São Paulo, de João Doria (PSDB).
Na segunda-feira (9), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou a interrupção dos estudos clínicos da Coronavac. A motivação seria a morte de um dos voluntários da pesquisa. A agência reguladora, no entanto, se limitou a dizer que a suspensão se tratava de um "evento adverso grave", ocorrido no dia 29 de outubro.
A paralisação dos estudos clínicos da vacina está prevista nas normativas da agência quando acontece um problema grave, além disso, faz parte dos procedimentos de boas práticas clínicas. Em nota, a Anvisa informou que os possíveis eventos adversos que levam a suspensão dos testes são: óbito, eventos que colocam a saúde do voluntário em risco, incapacidade ou invalidez, reações que exigem internação hospitalar do paciente ou prolonga internação, anomalia congênita ou defeito de nascimento, suspeitas de infecção por meio de agentes infeccioso e evento clinicamente significante.
Embora seja uma medida protocolar prevista, a suspensão dos estudos com a Coronavac ganhou contornos políticos nesta terça-feira (10). Nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro comemorou a decisão da Anvisa, considerando a interrupção dos estudos uma vitória pessoal. Segundo ele, essa é mais uma situação em que "Jair Bolsonaro ganha, disse. Na mesma postagem, o presidente criticou o governador de São Paulo, João Doria, e afirmou, sem nenhuma comprovação, que a vacina causa morte e invalidez.
O governo de São Paulo e o diretor do Instituto Butantan reagiram à proibição da Anvisa de interromper os estudos. Em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (10), Covas foi categórico ao afirmar que a morte relatada pelo órgão não tinha nenhuma relação com a vacina.
"Do ponto de vista clínico do caso - e nós não podemos dar detalhes sobre ele, infelizmente -, é impossível, é impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina. Impossível, eu acho que essa definição encerra um pouco essa discussão", enfatizou Covas.
A suspensão ocorreu no mesmo dia em que o governador João Doria anunciou que o primeiro lote de doses da Coronavac, com 120 mil dosagens, chegaria no Estado de São Paulo no dia 20 de novembro. Por isso, a atitude da Anvisa foi vista com desconfiança pelo governo estadual. Na avaliação da equipe de Doria, a suspensão pode ter o objetivo de retardar o cronograma da imunização.
O diretor do Instituto Butantan também disse que a condução do caso pela agência reguladora causou estranhamento. "Até estranhamos um pouco. É um óbito não relacionado à vacina. Como são mais de 10 mil voluntários nesse momento, a pessoa pode ter um acidente de trânsito e morrer. Isso em nenhum momento para a interrupção do estudo clínico. Isso foi colocado à noite pela Anvisa, não foi solicitado o esclarecimento", pontuou.
No início da tarde de terça-feira (10), boletim de ocorrência obtido por veículos de imprensa indica que a causa da morte do voluntário que participava dos testes da vacina CoronaVac foi suicídio ou overdose. De acordo com a polícia, o homem de 32 anos foi encontrado no chão do banheiro de casa e, perto do braço dele, havia uma seringa e diversas ampolas de remédio. O corpo do jovem foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML).
Segundo Covas, o governo de São Paulo reenviou todos os esclarecimentos à Anvisa e aguarda que a liberação da pesquisa o mais rápido possível. "Ela (a agência) agora está apta a tomar a decisão de retomar o estudo o mais rápido possível", disse. Porém, enquanto a autorização não for oficializada pela Anvisa, as pesquisas clínicas com os voluntários não podem ser retomadas pelo instituto.
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