Retirado do cargo de chanceler após forte pressão do centrão e de empresários, o ex-ministro Ernesto Araújo recebeu nesta quarta-feira (31) uma posição subordinada ao setor administrativo do Itamaraty. De acordo com interlocutores, a ideia é que ele permaneça na lotação até que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decida o destino dele: se fica no Brasil ou se é enviado para alguma missão no exterior.
Por ora, ele foi designado para a secretaria de gestão administrativa do Itamaraty. A estrutura, responsável entre outros temas por tratar das remoções para o exterior, é chefiada pela embaixadora Cláudia Buzzi.
A partir de agora, Ernesto deve despachar de uma sala no anexo 1 do Itamaraty, onde trabalha todo o segundo escalão da instituição. Em uma situação normal, o esperado seria que Ernesto fosse enviado para chefiar alguma embaixada no exterior.
Mas a demissão do ex-chanceler ocorreu em circunstâncias excepcionais, em meio a uma rebelião aberta de senadores contra a gestão dele no Itamaraty.
Lideranças no Senado - entre elas a presidente da Comissão de Relações Exteriores, Kátia Abreu (PP-TO) - já deixaram claro que não pretendem dar a bênção para a designação de Ernesto como embaixador de uma missão diplomática fora do Brasil. Dessa forma, o ex-ministro converteu-se em uma espécie de elefante branco para seu sucessor, o também diplomata Carlos França.
Sem condições políticas de ser designado para uma embaixada, as opções para o futuro de Ernesto foram reduzidas. Uma das alternativas é que ele seja enviado para uma posição fora do Brasil que não requer confirmação do Parlamento, como a missão brasileira junto à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Ernesto também poderia ser incumbido com o comando de um consulado, outro cargo que dispensa aprovação do Senado. Mas são posições consideradas abaixo da relevância que um ex-chanceler tem na instituição. Pessoas que acompanham a transição das duas administrações dizem que Ernesto pediu alguns dias para decidir qual cargo pretende pleitear.
A ideia de nomeá-lo para a secretaria de gestão administrativa foi uma forma de evitar que o ex-ministro permanecesse sem função na carreira.
Mas a possibilidade de que a solução tampão se alongue por um período maior preocupa diplomatas. No anexo 1 do Itamaraty, Ernesto despachará ao lado dos secretários da nova administração. Também estará a poucos passos do gabinete do novo ministro, o que faz membros da carreira temerem que ele queira exercer alguma influência sobre as decisões de França.
O chanceler recém-nomeado, por sua vez, dedicou os últimos dias a montar sua equipe no Itamaraty. Ele definiu que seu número dois será o embaixador Fernando Simas, hoje representante permanente do Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos).
Simas entrou na carreira em 1980. Com isso, França decidiu colocar na secretaria-geral do Itamaraty um diplomata experiente e que já comandou uma embaixada no exterior - no caso, a de Quito. França, por sua vez, é um embaixador recém-promovido e ainda não comandou nenhuma embaixada fora do Brasil.
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