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Ervas que prometem emagrecimento podem causar danos ao fígado

Ervas que prometem emagrecimento podem causar danos ao fígado

O problema acontece pela falta de regulamentação e uso excessivo dos produtos por parte da população

Publicado em 10 de fevereiro de 2022 às 10:40

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O caso de hepatite fulminante que causou a morte da enfermeira Edmara Silva de Abreu, 42, fez novo alerta do perigo decorrente do consumo de produtos sem a supervisão médica. Abreu tinha utilizado cápsulas de "ervas para emagrecimento" que continham chá verde, carqueja e mata verde. Essas substâncias são consideradas hepatóxicas, ou seja, podem causar danos ao fígado e desencadear problemas sérios de saúde, como a hepatite, uma inflamação no órgão com diversas causas.

Comprimido de chá verde
Os produtos naturais não passam por estudos clínicos e não há regularização por parte de agências sanitárias, como a Anvisa. (Shutterstock)

Liliana Ducatti, a médica que atendeu a enfermeira, diz que a falta de regulamentação de produtos como esses e o uso em excesso por parte da população são fatores que contribuem para a ocorrência desses problemas. "Uma coisa é a gente tomar [esses chás] por prazer, doses razoáveis, um consumo consciente e equilibrado. Outra coisa é tomar doses cavalares atrás de um efeito que não existe, que seria emagrecer", afirma.

Infelizmente, casos como esses não são raros, é o que afirma Giovanni Silva, médico hepatologista e presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia). "Existe um conceito, na população leiga, de que produto natural é saudável, mas isso é extremamente errado. Temos inúmeras substâncias naturais [...] que são tóxicas."

O médico explica que a hepatite fulminante - também denominada de insuficiência hepática aguda - é uma das formas que a inflamação aguda do fígado pode ser apresentada em um doente. "Uma das manifestações da hepatite aguda é o seu curso fulminante, ou seja, [quando se dá a] evolução para insuficiência hepática aguda. Se [o fígado] não for transplantado, a pessoa pode evoluir rapidamente para a morte", afirma.

Diferentemente da forma crônica, que é uma inflamação em um fígado já debilitado e que perde suas funções com o tempo, a hepatite aguda acontece quando o órgão sofre desgastes sem estar ligado a outra doença. "[A forma aguda da hepatite] pode ser assintomática, sendo o diagnóstico feito apenas por alterações no exame de sangue. As [formas] sintomáticas são marcadas principalmente porque a pessoa fica amarela [icterícia] pelo aumento da bilirrubina no sangue. Também tem urina cor de coca-cola e, eventualmente, fezes esbranquiçadas", afirma.

O desenvolvimento da hepatite aguda pode acontecer de duas formas: por meio de dose dependente ou hipersensibilidade. O primeiro caso é quando uma pessoa utiliza um produto que pode gerar problemas no fígado em grandes doses. "Você necessita de uma dose mais elevada para ter uma agressão na célula do fígado, que é o hepatócito. Esse hepatócito inflama, necrosa e morre. Se essa morte celular for muito extensa no fígado, pode levar à insuficiência hepática aguda."

Silva explica que existem muitas substâncias que podem resultar em casos de hepatite fulminante por meio de dose dependente, como ervas parecidas às utilizadas pela enfermeira que veio a óbito ou até mesmo medicamentos.

O problema dos produtos naturais é que eles não passam por estudos clínicos e também não há regularização por parte de agências sanitárias, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Isso faz com que seja mais difícil controlá-los, impedindo que haja uma mensuração adequada dos princípios ativos que os compõem.

Ducatti também ressalta que tomar doses exageradas - como aconteceu com Abreu - ocasiona complicações no fígado. "Tem pessoas que tomam, por exemplo, dois litros de chá de cavalinha [erva hepatóxica] por dia [...] e isso também deixa de ser uma quantidade segura."

A outra possibilidade de ocorrer uma hepatite aguda é quando ocorre a hipersensibilidade do indivíduo com a substância que inflama o fígado. "Tem medicamento que faz mal independentemente da dose, infelizmente por uma reação de sensibilidade do hospedeiro", explica Liliana Mendes, hepatologista do Sírio-Libanês e da SBH.

Segundo a médica, é difícil dizer em relação à qual substância uma pessoa tem ou não hipersensibilidade. Isso fica ainda mais complicado com produtos não regulamentados já que não é possível inferir realmente quais são suas propriedades. Ela menciona casos em que essas ervas são misturadas com metais pesados ou analgésicos, para citar apenas alguns exemplos.

O tratamento para hepatite fulminante envolve principalmente a suspensão da substância que está causando o problema. São tratadas as complicações no fígado e, caso a situação não melhore, é necessário realizar o transplante do órgão. Caso necessite mesmo do transplante, o paciente passa por exames para averiguar o nível de desgaste do fígado e pode vir a ter prioridade na fila de espera para receber o órgão.

A busca pela beleza Como aconteceu no caso de Abreu, muitos dos pacientes que Mendes atende com hepatite fulminante utilizaram produtos sem controle da composição na busca de emagrecimento, ganho de massa muscular ou rejuvenescimento. "São pessoas que buscam saúde e estão sendo vítimas desse mercado criminoso. Essa [Abreu] foi mais uma vítima das tantas que passam pelos nossos consultórios todos os dias", afirma a hepatologista.

Mendes cita um caso de uma paciente recente que foi diagnosticada com um quadro cirrótico. Ela tomava produtos para aumento de massa muscular e também ervas que continham substâncias hepatotóxicas. No entanto, a descoberta das complicações veio tarde demais, já que "ela não descobriu o problema enquanto ele era reversível".

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Para a hepatologista, o principal ponto é que, além de um acompanhamento médico adequado, as pessoas precisam entender que mudanças corporais, como o emagrecimento, não se dão de forma milagrosa. "Perder peso exige uma mudança de estilo de vida", conclui.

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