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Estudo liga Covid, herpes e outras infecções virais ao risco de demência

Estudo liga Covid, herpes e outras infecções virais ao risco de demência

A análise acompanhou mais de meio milhão de pessoas para entender como diferentes patologias impactam a saúde cerebral

Publicado em 26 de outubro de 2024 às 11:00

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Infecções comuns, como gripe, herpes e resfriados, podem afetar não apenas o corpo, mas também o cérebro. Um estudo recente, publicado na revista Nature Aging, indica que essas infecções podem estar associadas à redução do tamanho cerebral ao longo do tempo, aumentando potencialmente o risco de demência, que afeta memória e raciocínio.

Os pesquisadores identificaram que pessoas com histórico de doenças infecciosas apresentaram maior atrofia em áreas específicas do cérebro, especialmente no lobo temporal, responsável por funções cognitivas críticas.

Imagem Edicase Brasil
Infecções comuns, como gripe, herpes e resfriados, não afetam apenas o corpo, mas também podem impactar o cérebro, diz novo estudo. (Imagem: Ravil Sayfullin | Shutterstock )

A pesquisa analisou quase 770 mil participantes de diferentes partes do mundo ao longo do tempo para entender como diferentes fatores, como infecções, afetam a saúde cerebral e geral.

O estudo foi realizado pelo Instituto Nacional de Envelhecimento (NIA), do NIH, em colaboração com a Universidade de Helsinque, o Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, a Universidade da Pensilvânia, o Centro Médico da Universidade de Vanderbilt e a Universidade Johns Hopkins e envolveu especialistas dos Estados Unidos e da Finlândia nas áreas de neurologia, geriatria, imunologia e genética.

Entre os 15 tipos de infecções estudadas, a gripe foi associada a diminuição do volume cerebral em áreas ligadas à memória e visão, aumentando o risco de demência.

Segundo o neurologista Augusto Penalva, do Hospital Israelita Albert Einstein, "essa redução pode afetar o cérebro todo (atrofia global) ou apenas algumas partes, como a região frontal, o cerebelo ou o tronco cerebral (atrofia localizada)".

A Covid também faz parte desse escopo, podendo causar perda de volume cerebral e danos à substância branca, com efeitos observados até seis meses após a infecção. Penalva explica que, no caso da Covid longa, "não há uma perda de volume visível no cérebro, ou seja, não há atrofia, mas existe uma diminuição da densidade sináptica -que é a conexão entre um neurônio e outro".

Ele acrescenta que, em suma, "a Covid longa pode tornar o funcionamento do cérebro mais lento e cansativo, mesmo sem sinais claros de lesão".

Infecções por herpes foram ligadas a uma perda mais rápida de tecido cerebral, especialmente em áreas relacionadas à memória, devido à inflamação prolongada. Até mesmo infecções de pele podem provocar respostas inflamatórias que afetam o cérebro a longo prazo.

O estudo sugere que a inflamação é o principal mecanismo de dano cerebral, aumentando o risco de demência, especialmente em regiões importantes para a memória e raciocínio.

Infecções respiratórias mais graves, como pneumonia, podem causar danos mais profundos no cérebro, enquanto infecções de pele também foram associadas a efeitos cerebrais por meio de respostas inflamatórias prolongadas.

Penalva destaca que nem todos que tiveram infecções desenvolvem problemas neurológicos. Pensando na Covid, "apenas uma pequena parcela das pessoas (5% a 10%) é afetada de maneira duradoura, devido à sua predisposição individual, que inclui fatores genéticos, imunológicos e ambientais".

A interação entre um vírus e organismo é complexa e depende do histórico individual de cada pessoa, sendo essa predisposição o principal fator de risco para problemas neurológicos graves, como a demência.

Em geral, o estudo demonstra a importância de prevenir e tratar infecções de forma eficaz, especialmente em pessoas mais velhas ou com condições de saúde preexistentes.

Ele também reforça o conceito de "pré-doença", já aplicado ao Alzheimer, mostrando que é possível identificar problemas cerebrais antes de se tornarem visíveis, permitindo intervenções mais precoces.

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"Usando dados de longo prazo, o estudo revela que infecções passadas podem aumentar o risco de doenças neurológicas e outras condições ao longo da vida, ajudando a prever e prevenir problemas futuros", afirma Penalva.

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