Estados, que ainda continuam sem aulas presenciais, já registravam, mesmo antes da pandemia, as mais altas taxas de adolescentes fora da escola. Em todo o país, 18% dos jovens de 16 e 17 anos estavam sem estudar em 2019. No entanto, a situação já alcançava 27% no Maranhão.
Desde o início da pandemia, especialistas alertam sobre a necessidade de ações para evitar o aumento de alunos que saem da escola. A suspensão prolongada das aulas e a perda de renda das famílias são a combinação mais perigosa para afastar os jovens dos estudos.
Passados 14 meses da crise sanitária, os estados, que já tinham a maior proporção de alunos com menor condição socioeconômica e mais jovens fora da escola, ainda não reabriram suas escolas.
É o que mostram os dados do Indicador de Permanência Escolar, lançado nesta segunda (31) pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional). Com informações do Censo Escolar, o instituto calculou o percentual de estudantes que passaram pela escola e a abandonaram.
Diferentemente de outros indicadores, esse dado coloca na conta todos os estudantes que deixaram os estudos. Em geral, os cálculos de abandono escolar só identificam a evasão em relação ao ano anterior.
"Com essa nova forma de cálculo, conseguimos identificar todos os jovens que saíram da escola, em qualquer ano que ela possa ter abandonado os estudos. Nesse indicador, temos o acumulado de todos os alunos que perdemos ao longo do caminho", explica Ernesto Faria, diretor do Iede.
Os dados mostram que, enquanto, no Maranhão, 27% dos jovens de 16 e 17 anos já não estavam mais na escola. Em Santa Catarina, por exemplo, a taxa é bem menor, de 10%.
Para Faria, a enorme disparidade encontrada no Brasil é reflexo de um sistema educacional que não atua de forma eficaz para promover a equidade e dar suporte aos mais vulneráveis. Dos 15 estados com taxa de jovens fora da escola mais alta do que a média do país, 11 ainda não retornaram com aulas presenciais nas redes públicas.
"A pandemia atinge de forma mais cruel os mais vulneráveis. Os sistemas educacionais que já tinham problemas mais complexos, como o abandono escolar, tiveram menos capacidade de reação nesse período", diz Daniel de Bonis, diretor de políticas educacionais da Fundação Lemann.
Levantamento da Folha mostrou que 14 estados e o Distrito Federal ainda não retomaram as aulas presenciais. Eles dizem aguardar a redução do número de infecções de Covid-19 ou o avanço da vacinação.
"Precisamos de um esforço imediato de todas as esferas de governo para vacinar professores e garantir o retorno das aulas presenciais em todo o país. É só com essa volta que vamos saber o tamanho do prejuízo da pandemia, quantos alunos abandonaram o estudo, qual foi a perda de aprendizagem", diz Bonis.
Nesta sexta (28), depois de meses de apelo dos estados e municípios para incluir os profissionais da educação na vacinação, o Ministério da Saúde publicou nota técnica em que coloca o grupo na sequência da imunização.
Os governadores querem firmar um pacto nacional para que os profissionais de educação básica comecem a ser vacinados em junho para garantir a retomada das aulas presenciais em agosto.
A possibilidade de ter ao menos alguns meses de aulas presenciais no último ano da escola deu esperanças a Anna Theresa Vieira, 16. Aluna do 3º ano do ensino médio em um colégio estadual em São Luís, no Maranhão, ela está desde março do ano passado apenas com atividades remotas.
"Já pensei em desistir de estudar várias vezes. Passei alguns meses sem nem abrir as atividades porque cansei. Parece que não tem sentido continuar estudando em casa, sem saber quando voltar", diz.
Além de estar longe da escola, na pandemia, ela também passou a ter novas funções dentro de casa. É ela quem cuida da irmã de 9 anos e faz as tarefas domésticas para que a mãe possa trabalhar.
"Tem hora que eu não sei se assisto uma aula online, se preparo o almoço, se ajudo minha irmã com alguma dúvida. Sinto falta da minha rotina, de ter um tempo e espaço só para estudar", conta.
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