BRASÍLIA, DF - O ex-comandante da PM (Polícia Militar) do Distrito Federal Fabio Augusto Vieira, preso após os atos de depredação na praça dos Três Poderes, disse em depoimento que o Exército teria impedido que houvesse prisões no acampamento ainda na noite do último domingo (8).
Vieira prestou depoimento à PF (Polícia Federal) na quinta-feira (12). Ele ainda afirmou ter encontrado o diretor de Operações da PM, coronel Jorge Naime, durante o quebra-quebra, apesar de ele estar de férias. Segundo Vieira, teria vindo desse departamento da corporação informações de que não haveria risco no ato que estava sendo organizado no dia 8.
Nesse dia, manifestantes golpistas invadiram os prédios do Congresso, Palácio do Planalto e STF (Supremo Tribunal Federal) e vandalizaram os locais, após tímida ação de policiais militares. Vieira foi afastado e preso por decisão do STF por suposta omissão em relação ao episódio.
Segundo Vieira, o departamento da PM comandado por Jorge Naime "informou que a situação estava OK, que o efetivo empregado era o necessário de acordo com as informações de inteligência que eles tinham".
O ex-comandante disse ter encontrado seu subordinado, responsável por este departamento, por volta de 18h30 na praça dos Três Poderes. Ele teria o indagado sobre sua presença, uma vez que este estava de férias. Naime teria dito, por sua vez, que estava no local para ajudar.
Ainda na transição, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez chegar ao Governo do Distrito Federal o incômodo gerado com a atuação da PM na contenção dos atos de violência que ocorreram na capital federal no dia 12 de dezembro. Segundo relatos, o maior descontentamento era com a chefia do departamento de Operações da PM do DF, chefiado por Naime.
O Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação contra o alto comando da PM do DF para apurar eventual omissão. O coronel Jorge Naime está entre os nomes citados pelo MPF, que pediu seu afastamento --ele foi exonerado do cargo após a intervenção federal na segurança do Distrito Federal.
Segundo Vieira, não houve ordem de "ninguém para deixar de atuar ou de omitir" e não havia informações sobre policiais da ativa no movimento. Ele contou, no entanto, que haveria um processo para ser aberto contra policiais militares da reserva que estavam no acampamento.
Vieira citou uma determinação sobre a instauração de um inquérito por parte da Corregedoria da PM contra um major da reserva da PM chamado Claudio Santos – presente entre os golpistas.
O relato do ex-comandante da PM do Distrito Federal indica que o Exército impediu que a PM fizesse prisões no acampamento após as depredações. Essa intervenção das Forças Armadas foi revelada pela Folha.
Vieira teria informado ao comandante Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, sobre o plano de fazer as prisões no setor militar urbano, onde fica o Quartel-general e o terreno que abrigou o acampamento.
Dutra é quem teria ligado para o ex-comandante logo após policiais retomarem os prédios dos vândalos. "Foi marcada uma reunião em frente à Catedral Rainha da Paz, e o Exército já estava mobilizado para não permitir a entrada da Polícia Militar", disse Vieira, segundo o documento da oitiva.
À PF, Vieira falou sobre a proteção das Forças Armadas aos manifestantes golpistas. O Exército chegou a impedir duas vezes a ação da PM para desmontar o acampamento, segundo o ex-comandante.
"A PMDF chegou a mobilizar cerca de 500 policiais militares [para desmontar o acampamento], mas o Exército entendeu que era melhor eles fazerem essa desmobilização utilizando seus próprios meios", consta no depoimento.
"As vezes que tentaram fazer essa desmobilização não aconteceram por necessidade de aquiescência do Exército", disse. "A permanência do acampamento contribuiu muito para o ocorrido no dia 08/01/2023".
Investigadores já haviam identificado que integrantes do acampamento participaram, antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de depredações de ônibus e da tentativa de colocar uma bomba em um caminhão.
Fabio Augusto Vieira declarou que não sabia ao certo quantos policiais participaram do policiamento antes da invasão aos prédios. O ex-comandante da PM disse à PF que a subsecretaria de inteligência sofreu uma mudança no dia 2 de janeiro, com a mudança no comando da Secretário de Segurança Pública, mas que não saberia dizer especificamente como foi o fluxo dessas informações.
Levado ao cargo no início deste ano pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres foi preso neste sábado (14).
Torres foi ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PL). A Folha revelou que, durante operação de busca e apreensão, a PF encontrou na residência de Torres uma minuta (proposta) de decreto para o então presidente Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
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