O Exército brasileiro realizou no mês passado um exercício militar na região da Amazônia sem precedentes em sua história. Foram gastos R$ 8,9 milhões na atividade, que simulou um conflito na selva após invasão do território por um exército estrangeiro.
A Operação Amazônia aconteceu entre 8 e 22 de setembro, na região dos municípios de Manacapuru, Moura e Novo Airão, todos no estado do Amazonas. Cerca de 3.600 militares participaram da atividade.
O exercício militar envolveu a simulação de um ataque ao território do país "azul" pelo "exército vermelho", que deu início ao conflito. Ao atender um pedido do jornal O Globo, via Lei de Acesso à Informação, o Exército informou que foram gastos R$ 6 milhões na operação, com "combustível, horas de voo e contratação de meios de transporte civis".
A Folha de S.Paulo apurou que outros R$ 2,9 milhões foram gastos em munição. Desse total, R$ 2 milhões se referem apenas aos custos de munição para o sistema Astros 2020, sistema de lançadores múltiplos de mísseis considerado o maior mecanismo de dissuasão do Exército.
Além do alto investimento e do número de militares envolvidos, a utilização do sistema é apontado como um dos principais símbolos da grandiosidade da operação.
O Astros 2020 fica normalmente baseado em Formosa (GO) -no 6º Grupo de Mísseis e Foguetes-, onde acontece a maior parte dos treinamentos balísticos. Os mísseis têm alcance de 30 a 80 quilômetros.
Os disparos na região da Amazônia, durante a simulação, tiveram o objetivo de neutralizar uma base do adversário. A ação foi acompanhada pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o Comandante do Exército, Edson Leal Pujol.
Na operação, foram empregados também viaturas, aviões, helicópteros, balsas, embarcações regionais e ferry-boats. Em relação a armamento, houve o uso de "canhões, metralhadoras, obuseiro Oto Melara e morteiros de 60 mm, 81 mm e 120 mm, além de veículos e caminhões especiais", informou o Exército.
A Operação Amazônia é realizada periodicamente. No entanto, a ação geralmente emprega militares das três Forças, e o Exercício nunca teve a dimensão das atividades realizadas neste ano, tanto em volume de recursos quanto no emprego de militares e equipamentos.
"Dentro da situação criada e com os meios adjudicados, foi a primeira vez que ocorreu este tipo de operação", informou o Exército, em sua resposta via Lei de Acesso à Informação.
O exercício acontece em um momento de tensão com a vizinha Venezuela. No mês passado, o governo brasileiro decidiu retirar as credenciais de diplomatas do regime de Nicolás Maduro. Além disso, foram aprovadas no segundo semestre deste ano a nova END (Estratégia Nacional de Defesa) e a PND (Política Nacional de Defesa), que menciona a possibilidade de "crises e tensões no entorno estratégico".
O Ministério da Defesa afirma que não há nenhuma relação entre os eventos e o exercício. A pasta argumenta que a preparação para a operação começou na metade do ano passado, antes, portanto, dos eventos recentes. Oficialmente, as Forças Armadas também dizem que as tensões citadas nos novos documentos estratégicos não se referem a problemas com nenhum vizinho específico.
Afirmam ainda que incluem desafios com crises migratórias, pirataria, problemas ambientais, entre outros.
Questionado sobre o aumento nas dimensões do exercício, a Defesa afirmou que se tratou de uma decisão do Comando Militar da Amazônia, de unificar em uma grande operação os exercícios que seriam realizados de forma separada ao longo do ano.
Nos últimos 10 anos, o Exército aumentou seu efetivo na região amazônica, passando de 10 mil para 40 mil homens. Parte desse efetivo era concentrado anteriormente no Sul do Brasil, uma vez que, em décadas passadas, o cone sul era motivo maior de preocupação. Desde a primeira edição da END, de 2008, a Amazônia aparece nos documentos estratégicos como uma área prioritária e estratégica para o país.
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