Os estragos provocados pelas fake news são uma pequena amostra dos problemas que ainda estão por vir, aponta o Nobel de Economia, Daniel Kahneman. Na avaliação dele, a propagação de informações falsas será potencializada na próxima década.
Autoridade mundial na área de economia comportamental, o escritor israelense alerta para o uso de tecnologias avançadas de inteligência artificial, que permitem criar conteúdos falsos com qualidade, dificultando cada vez mais a diferenciação entre mentiras e verdades.
“Anos atrás, os Estados Unidos tinham três canais de comunicação, todos com informações muito parecidas e confiáveis. Atualmente, há inúmeros canais e nem todos confiáveis. Estamos aprendendo a lidar com as informações falsas, mas as fake news só vão piorar. Ainda não temos a real dimensão do problema. A qualidade com que esses conteúdos são produzidos, com imagens e sons, criará um problema ainda maior na próxima década”, afirmou Kahneman, durante sua participação no Data Driven Business, maior evento de dados para negócios do Brasil, realizado pela Neoway e B3, nesta terça-feira (30), em São Paulo.
Ele também comentou como as redes sociais interferem no regime democrático. “Está muito claro que as mídias sociais terão efeito negativo sobre a democracia. Elas tendem a criar polarização política, já que as pessoas não obtêm informações fora da própria bolha”.
Kahneman defende que as recomendações de conteúdos deveriam ser diversas, aleatórias, e enfatiza as consequências desastrosas do pensamento unilateral. “Ao tentar adivinhar o que você gosta de consumir, o algoritmo faz com que você seja exposto a mensagens conectadas com o seu jeito de pensar, só que de uma forma mais extremista.”
Autor do best-seller "Rápido e Devagar - Duas Formas de Pensar", Kahneman explica que, na maior parte das vezes, as pessoas usam o pensamento intuitivo para tomar decisões. Somente diante de situações complexas é que o raciocínio lento, que leva em consideração a análise de múltiplos fatores, costuma ser ativado. É por pensar rápido, intuitivamente, "que as pessoas votam em candidatos que não são bons para elas", exemplificou.
Segundo Kahneman, o segredo para tomar boas decisões, seja ao votar em um candidato ou contratar um funcionário, é analisar o máximo de informações disponíveis e retardar o uso da intuição.
“Numa entrevista de emprego para escolha de um candidato, por exemplo, o julgamento intuitivo acontece muito rapidamente, logo nos primeiros minutos, com base nas primeiras impressões. Gastamos todo o tempo restante da entrevista criando justificativas para o julgamento inicial. Mas o ideal é acumular todas as informações recebidas, de maneira sistemática, evitando o julgamento, para só ao final tomar a decisão”, orienta.
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